Eleições na Madeira: uma vitória "curta" do PSD, "uma grande fragmentação" e um cenário de "ingovernabilidade"
A antiga ministra socialista Alexandra Leitão destaca o "cenário de ingovernabilidade". "É preciso aprovar o programa, não basta não rejeitar", relembra
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Alexandra Leitão sublinha a vitória "curta" dos social-democratas na Madeira. A antiga ministra socialista fala num cenário de ingovernabilidade e destaca a "grande fragmentação" política que resulta destas eleições regionais, à semelhança do que se verifica nos Açores e no continente.
"Uma grande fragmentação e uma vitória clara do PSD, mas de facto muito mais curta do que todas as que teve até agora na Madeira. Não esquecer que governa a Madeira desde o início da democracia, desde 1976, e que vai criar o problema da governabilidade, sobretudo se tivermos em conta que é preciso aprovar o programa, portanto não basta não rejeitar e, portanto, acho que essa fragmentação é talvez o sinal maior", afirma Alexandra Leitão no programa O Princípio da Incerteza, da TSF e da CNN Portugal.
A deputada socialista relembra que a Madeira tem um "fator totalmente diferente do nacional". "A existência de um partido que não é regional, mas que tem uma incidência regional completamente diferente da que tem a nível nacional, que é o JPP, que é o terceiro partido com nove deputados e que, naturalmente, introduz um elemento novo que torna muito mais difícil fazer previsões. Portanto, a primeira nota é mesmo nessa linha, ou seja, muita fragmentação e um cenário, aparentemente, de ingovernabilidade", acrescenta.
Também José Pacheco Pereira, antigo dirigente social-democrata, fala na fragmentação política, que resulta num cenário de ingovernalibilidade. Para o historiador, o Chega é o grande partido perturbador.
"Como é que se verificou esse efeito de ingovernabilidade? De duas maneiras: através de uma erosão dos dois maiores partidos, mesmo que um ganhe e outro perca há uma erosão do PSD e uma erosão do PS e um partido perturbador que é o Chega. Na Madeira, aparentemente, ele não tem um papel tão perturbador como tem, por exemplo, o JPP. Na realidade, o Chega é o grande partido perturbador. E, aliás, isso depois vai funcionar como uma pressão sobre o PSD para acabar com as linhas vermelhas e o 'não é não' com o Chega. Não é que a solução me agrade, mas é a única solução estável que hoje existe à direita - o PSD com o Chega. Estável. Não estou a dizer que tenha mérito, ou que tenha vantagem, ou que eu apoio. Estável. E isso acaba por ser uma das formas de tentar diminuir os efeitos de ingovernabilidade", explica.
Miguel Macedo, ex-ministro da administração interna do PSD, reconhece que o cenário politico na Madeira é agora mais complexo do que aquele que saiu das eleições de setembro do ano passado e antecipa "enormes dificuldades" para a maioria relativa de Miguel Albuquerque.
"Ao contrário do que acontece aqui na Assembleia da República, o Governo na Assembleia Legislativa Regional da Madeira tem de ter um voto positivo para fazer passar o seu programa de Governo e, portanto, digamos que desde a primeira hora julgo que é razoável antecipar enormes dificuldades para esta maioria, mais uma vitória do Partido Social-Democrata, mas num quadro especialmente exigente e complicado", considera, não descartando uma eventual nova ida às urnas.
O PSD venceu este domingo as eleições legislativas regionais antecipadas da Madeira, falhando por cinco deputados a maioria absoluta. De acordo com informação disponibilizada pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, os sociais-democratas obtiveram 36,13% dos votos (49.103 votos) e 19 lugares no parlamento regional, constituído por um total de 47 deputados. A maioria absoluta requer 24 assentos.
Em segundo lugar, o PS conseguiu 11 eleitos (21,32 % dos votos, num total de 28.981), seguindo-se o JPP, com nove (16,89 % e 22.958 votos), o Chega, com quatro (9,23 % e 12.541 votos), o CDS-PP, com dois (3,96 % e 5.384 votos), e a IL (com 2,56 % e 3.482 votos) e o PAN (1,86 % e 2.531 votos), com um deputado cada. Saem da Assembleia Legislativa, em relação à anterior composição, o BE e a CDU.
