Em 2008 e em 2012, a abstenção ficou sempre acima dos 50%, ultrapassando a abstenção nas eleições para a Assembleia da República, mas também para a Assembleia Legislativa da Madeira.
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Nos Açores, os candidatos às eleições legislativas regionais têm esta sexta-feira as últimas horas de campanha eleitoral. De um e de outro lado, fazem-se os últimos apelos ao voto em cada um dos partidos, mas também contra a abstenção, que tem sido uma taxa elevada nos últimos atos eleitorais.
Em 2008, a abstenção foi de 53,34%, e, em 2012, apesar de ter diminuído, registou-se nos 52,14%, tendo ultrapassado a percentagem de abstencionistas nas eleições para a Assembleia da República, mas também a taxa de abstenção nas últimas eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira.
Em Ponta Delgada, a TSF falou com alguns eleitores para perceber quais os principais motivos para a abstenção eleitoral, mas as opiniões dividem-se. Se há quem aponte a culpa à classe política, também há quem considere que os principais culpados são os eleitores.
Maria da Conceição Oliveira, de 59 anos, natural da Ribeira Grande, é uma das açorianas que se insurge contra os abstencionistas. Apesar de sublinhar que já não acredita na politica, assegura que há muitos anos que não falha uma eleição.
"Antes de trabalhar, porque eu trabalho ao domingo, voto sempre logo pela manhã, faço o meu dever", afirma, lamentando que ainda haja quem não o faça: "Deviam ser chamados para votar, devia ser obrigatório".
Por estes dias, ao contrário de outros anos, o centro de Ponta Delgada não está repleto de cartazes e os altifalantes onde se ouvem apelos ao voto também escasseiam. Sinal dos tempos, poupança ou resignação dos políticos perante a abstenção? Filipa Sousa, florista de 24 anos, não sabe o motivo, mas garante que os eleitores estão cada vez mais longe das campanhas e dos atos eleitorais.
"Eu acho que se estão a afastar cada vez mais. Não sei se é por causa das pessoas que estão dentro da política ou das condições que são impostas", diz.
As razões para o desinteresse não são claras e o cenário até tem vindo a piorar, defende António Medeiros Ferreira, que, com 71 anos e jornal desportivo aberto sobre as pernas, diz nunca ter visto tanta indiferença.
"Não se ouve falar [da campanha]. Há um cansaço com os vários governos. Os portugueses têm toda a razão em não ligar muito e os políticos também contribuíram para isso, porque eles é que tinham de cativar o povo. O povo não quer uma vida de arranha-céus, só quer ter uma vida normal", afirma.
A indiferença, porém, não se deve apenas à desilusão com a classe política, sublinha, defendendo até que pode tratar-se de uma questão quase cultural: "A situação já vem de longe, talvez os açorianos não estivessem habituados a votar".
Já Carolina, estudante em Ponta Delgada, também reparte as responsabilidades: "Entre dois partidos e duas pessoas sem grandes apostas as pessoas não sabem em quem votar. Talvez a culpa seja de ambas as partes, porque as pessoas também não se levantam para ajudar a Região Autónoma dos Açores".
Esta sexta-feira, nas últimas horas de campanha, os candidatos continuam a correr contra a abstenção, um adversário comum a todos os partidos.