Elevador da Glória: Marcelo diz que há responsabilidade política, mas "não quer dizer demissão necessariamente"
"O mais importante é atuar-se com dados, com o equilíbrio, com bom senso, mas dando a quem tem de decidir a possibilidade de a culpa não morrer solteira", disse o Presidente da República
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considera que há responsabilidades políticas a retirar do acidente com o Elevador da Glória, mas que isso não significa que tenha de haver demissões.
"Não vale a pena discutir se há ou não responsabilidade política, porque essa há. Não quer dizer demissão necessariamente, muito menos a esta distância de eleições. Não quer dizer que o eleitorado reaja de uma forma ou de outra, reage apreciando o conjunto de circunstâncias no momento em que se decide", disse o Presidente da República.
Sobre Carlos Moedas não ter aceitado a demissão do presidente da Carris, Marcelo dá aval à decisão.
"Eu acho que o senhor Presidente da Câmara Municipal fez bem no momento em que decidiu, porque não havia nada de nada apurado. No termo do apuramento se verá se há ou não uma daquelas circunstâncias em que, mesmo sem haver culpa subjetiva, apesar de tudo é um sinal de natureza administrativa, objetiva, de responsabilidade objetiva, tomar uma decisão relativamente a responsáveis de uma entidade pública", considera.
Agora, é preciso não deixar que a culpa morra solteira: "O mais importante é atuar-se com dados, com o equilíbrio, com bom senso, mas dando a quem tem de decidir a possibilidade de a culpa não morrer solteira ou, neste caso, a responsabilidade objetiva não morrer solteira. Porque aparentemente não há culpa específica de ninguém. Isso é que não pode acontecer, porque senão onde é que paramos? Quantos mortos são necessários para haver responsabilidade?"
Marcelo Rebelo de Sousa pediu celeridade às autoridades responsáveis pelo relatório final sobre o acidente mortal no Ascensor da Glória, em Lisboa, agradecendo as primeiras conclusões preliminares conhecidas no sábado.
Em declarações recolhidas pelas televisões à saída do cemitério do Alto de São João, após o funeral de uma das vítimas mortais do descarrilamento de quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que o próximo relatório “está prometido para daqui a 45 dias” e que o documento definitivo só deverá ser conhecido dentro de um ano.
“Se fosse possível abreviar estes prazos, sobretudo do relatório definitivo, todos agradeceríamos”, apelou o Presidente.
O chefe de Estado comentou as conclusões do primeiro relatório, “ainda muito preliminar”, do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgado no sábado, que indica que o cabo que unia as duas cabinas do elevador da Glória “cedeu no seu ponto de fixação” da carruagem que descarrilou.
O relatório conclui ainda que o plano de manutenção do elevador “estava em dia” e que na manhã do acidente foi feita uma inspeção visual programada, que não detetou qualquer anomalia no cabo ou nos sistemas de travagem das duas carruagens.
Agradecendo ao GPIAAF o cumprimento do prazo “em circunstâncias difíceis” – “tão raro em Portugal” –, Marcelo Rebelo de Sousa notou que existe apenas “um único perito” para avaliar acidentes ferroviários, instando a que sejam contratados mais, porque “é uma responsabilidade muito pesada”.
O Presidente destacou ainda aquilo que considera serem as principais dúvidas e pistas deixadas neste primeiro relatório, nomeadamente o que motivou que o cabo que unia as duas cabinas do elevador se soltasse e por que não funcionou a redundância, para permitir a travagem.
As primeiras conclusões – notou ainda – deixam antever que a inspeção visual não permitiu detetar o problema no cabo e permitem ainda questionar “porque não há uma instituição encarregada de fiscalizar este tipo de matérias”.
O Presidente assinalou ainda que, “com os elementos disponíveis, não é possível determinar a responsabilidade de pessoas nem de organizações reativamente ao que aconteceu, nesta fase”.
Por isso, “é preciso aguardar pelo relatório prometido para daqui a 45 dias”, que Marcelo Rebelo de Sousa gostava que fosse apresentado mais cedo. “Teremos de esperar por essa altura”, sublinhou.
O elevador da Glória, em Lisboa, descarrilou na quarta-feira, causando 16 mortos e 22 feridos.
Gerido pela Carris, o elevador da Glória liga os Restauradores ao Jardim de São Pedro de Alcântara, no Bairro Alto, num percurso de 276 metros e é muito procurado por turistas.
