Em tempo de "incerteza" e "esperança", Cavaco Silva quer defender "modelo político"
Na mensagem de Ano Novo, o Presidente da República afirma que é "fundamental combater as desigualdades" e fala do "dever de acolher" os imigrantes e refugiados que respeitam "os valores e princípios de que nunca abdicaremos". Cavaco diz também que "temos de renovar o contrato de confiança entre todos os portugueses".
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Na sua última mensagem de Ano Novo como chefe de Estado, Cavaco Silva considerou que a sociedade civil portuguesa "tem por adquiridos os princípios da liberdade e da democracia, identifica-se com os valores civilizacionais do Ocidente e com o modelo de desenvolvimento económico e social da Europa".
Mais à frente, o Presidente da República acrescentou: "Vivemos um tempo de incerteza. Temos o dever de defender o modelo político, económico e social que, ao longo de décadas, nos trouxe paz, desenvolvimento e justiça".
"Temos de renovar o contrato de confiança entre todos os portugueses, aquilo que constitui a maior razão para acreditarmos num futuro melhor, para nós e para os nossos filhos. Com esperança no futuro, desejo aos portugueses - a todos os portugueses - um feliz Ano Novo", concluiu.
Nesta mensagem, Cavaco Silva deixou uma nota de apelo ao combate às desigualdades e à pobreza, e outra a favor do acolhimento dos imigrantes que querem integrar-se em Portugal.
"É fundamental combater as desigualdades e as situações de pobreza e exclusão social, que afetam ainda um grande número de cidadãos: os idosos mais carenciados, os desempregados ou empregados precários, os jovens qualificados que não encontram no seu país o reconhecimento que merecem", declarou.
Sobre as imigrações, o chefe de Estado referiu que, "ao longo da história, muitos milhares de portugueses partiram para o estrangeiro em busca de melhores condições de vida" e que, "há quarenta anos, Portugal acolheu muitos milhares de portugueses vindos das antigas colónias de África".
"Temos, assim, o dever de acolher aqueles que nos procuram para se integrarem na nossa sociedade, partilhando connosco os valores e princípios de que nunca abdicaremos: a democracia e a liberdade, a tolerância e a dignidade da pessoa humana, o respeito pela nossa cultura e pelas nossas tradições", defendeu.
Segundo Cavaco Silva, "numa Europa marcada por tensões e conflitos, onde em várias paragens emergem pulsões extremistas e xenófobas, Portugal deve afirmar a sua identidade universalista, o espírito com que, há mais de 500 anos, deu novos mundos ao mundo".
Logo no início da sua mensagem, o antigo primeiro-ministro e presidente do PSD disse que o Ano Novo "é sempre um tempo de incerteza, mas também de esperança", acrescentando: "Olhamos o futuro sem saber o que este nos trará".
Depois, Cavaco Silva reforçou esta ideia de dúvida em relação ao que o futuro trará, dizendo que os portugueses no seu conjunto são o "grande motivo de esperança num tempo de incerteza".
Reações partidárias
O deputado do BE José Manuel Pureza considera que a novidade da mensagem de Ano Novo do Presidente da República "é ser a última", considerando que marca o fim "de 20 anos de cavaquismo". Voltando-se para o conteúdo do discurso do chefe de Estado, o deputado bloquista sublinhou que aquilo a que Cavaco Silva chama de "incerteza" na sua mensagem "a grande maioria dos portugueses chama esperança".
Já o secretário-geral do Partido Social Democrata (PSD), José Matos Rosa, defendeu as políticas desenvolvidas nos últimos quatro anos de governação, sob o comando da coligação PSD/CDS-PP, as quais, disse, colocaram Portugal no "bom caminho", que "deve ser prosseguido" e não "descontinuado, revertido ou revogado", sob pena de Portugal perder o "capital de confiança e credibilidade" conquistado. Matos Rosa disse ainda ser "justo dizer que não teria sido possível ultrapassar as dificuldades maiores que sentimos sem a magistratura serena e influente do atual Presidente da República".
"Esta situação, dramática, que temos no país, resulta de homens, mulheres, ministros, de partidos políticos que ao longo dos anos concretizaram políticas que levaram a esta situação". Para Armindo Miranda, do PCP, Cavaco Silva "é um dos principais responsáveis".
Nuno Melo, do CDS está de acordo com o Presidente da República quando este fala na defesa do "modelo de política, económico e social, que trouxe progresso à Europa". Os centristas argumentam que "a esquerda, à esquerda do PS, vive politicamente combatendo tudo isto".
Também o PS reagiu à última mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva enquanto Presidente da República. "A maioria dos portugueses expressou-se nas últimas eleições legislativas por uma mudança de políticas, rejeitando os caminhos que agravaram profundamente as incertezas e os problemas sociais", disse à agência Lusa a secretária-geral adjunta do Partido Socialista (PS), Ana Catarina Mendes.
Aníbal Cavaco Silva, 76 anos, termina o segundo mandato como Presidente da República a 09 de março, quando será substituído pelo vencedor das eleições presidenciais, que estão marcadas para 24 de janeiro, com eventual segunda volta a 14 de fevereiro.