Em São Bartolomeu de Messines, numa terra onde o voto nas legislativas é habitualmente do PS, a TSF foi à procura de explicações para este voto no partido de André Ventura.
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No distrito de Faro, no Algarve, o Chega ficou em primeiro lugar nas eleições e passou de um para três deputados. Ganhou em muitos concelhos e foi a segunda força política em tantos outros.
Em São Bartolomeu de Messines, no concelho de Silves, não foi diferente. Numa terra onde o voto nas legislativas é habitualmente no Partido Socialistas e, nas eleições autárquicas, na CDU, a TSF foi à procura de explicações para este voto no partido de André Ventura.
Sentada à mesa do café, Vanessa Martins olha para o telemóvel e conta o que lê nas redes sociais.
"Como o Chega ganhou no Algarve, as pessoas agora fazem comentários do género: ‘já não vão roubar as alfarrobas durante o verão’", conta à TSF.
Vanessa mora em São Bartolomeu de Messines, zona rural do concelho de Silves, um dos locais que tem sido afetado pelo roubo de alfarrobas nos campos. Nas eleições autárquicas, a vila vota habitualmente na CDU e nas legislativas vota no PS. Vanessa acredita que estes votos no Chega foram em protesto por tanta desesperança e promessas não cumpridas.
"Talvez com a revolta das pessoas que normalmente votavam mais PS e PSD e acho que foi uma forma de manifesto das pessoas, principalmente no setor agrícola. A agricultura não tem apoios nenhuns e o Algarve não é só turismo", considera a algarvia.
O mesmo refere o presidente da Casa do Povo, José Araújo.
"Os algarvios, na minha opinião, têm sido fustigados por promessas que não há meio de chegarem. O Hospital Central do Algarve, também a questão do pagamento da Via do Infante", referiu José Araújo.
Manuel António é um dos que confessa ter mudado o seu sentido de voto.
"Até votava era PS, mas este ano, porque vi que as coisas estavam a correr muito mal, alterei o meu voto. Este foi um dos anos em que votei sem ter certezas em ninguém e já esperava que o Chega ganhasse. Votei neles", revelou Manuel António.
Ao balcão do seu café, Jorge ensaia uma explicação para o voto massivo no partido da extrema-direita parlamentar.
"As pessoas da CDU vão morrendo. Conheci muitos CDU aqui em Messines e já desapareceram todos. Votou muita rapaziada nova que não tinha por hábito votar, por isso é que o Chega teve uma hipótese", explicou Jorge.
Apesar de admitir que este voto de protesto se pode explicar pela falta de entendimento, por parte dos governos, em relação às pretensões da população, Carla Benedito, a presidente da Junta de Freguesia eleita pela CDU, julga que não será o Chega a dar resposta a esses anseios e dá o exemplo da falta de água na região.
“Uma das propostas que o que o Chega propunha e dizia que tinha já um projeto para trazer água era fazer o transvase de água das barragens de Trás-Os-Montes para o Algarve. Isto é uma questão que não é exequível, é impensável isto acontecer, mas se as pessoas acreditam realmente nestas coisas... têm o direito de escolha", acrescentou Carla Benedito. E escolheram. No concelho de Silves, o Chega ganhou com quase 30% dos votos.