"Não esperava que acompanhasse a greve." Correia de Campos diz que UGT "encurralou o Governo"

O secretário-geral da UGT, Mário Mourão, ao centro
Manuel de Almeida/Lusa (arquivo)
À TSF, o antigo presidente do Conselho Económico e Social avisa que "se o Governo fizer essa saída à força, forçando a negociação e tomando uma decisão unilateral, tudo correrá muito mal"
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O antigo presidente do Conselho Económico e Social António Correia de Campos diz que a posição que a UGT adotou ao juntar-se à CGTP na greve geral marcada para 11 de dezembro "encurralou o Governo".
"Essa posição encurralou o Governo. Não é muito comum a UGT acompanhar a CGTP. A UGT tem um forte setor social-democrata. Portanto, o Governo devia perceber que a sua posição precisa de ser bastante mais flexibilizada e precisa de alinhar na concertação e cada vez mais na negociação. Não esperava sequer que a UGT acompanhasse a greve", disse António Correia de Campos à TSF.
O também antigo ministro da Saúde considera que "se o Governo fizer essa saída à força, forçando a negociação e tomando uma decisão unilateral, tudo correrá muito mal", por isso, aconselha o Executivo a "negociar e conversar e fazer funcionar a concertação" para que "talvez as coisas se possam compor".
Para Correia de Campos, só o Executivo de Luís Montenegro poderá evitar este ambiente de crispação: "Só o Governo é que pode refazer este equilíbrio ampliando e fortalecendo a concertação social, mas o que a gente assistiu da parte do Governo foi o contrário. Foi uma postura de proposta de negociação inaceitável, liminarmente inaceitável, e, portanto, é evidente que a resposta foi também chocante, isto é, uma greve geral das duas centrais sindicais. Estamos metidos num beco sem saída e a responsabilidade deste beco sem saída naturalmente é o Governo que tem de assumir e procurar encontrar saídas."
O primeiro-ministro acusou os sindicatos de servirem PCP e PS, mas Correia de Campos pede cautela a Luís Montenegro.
"O primeiro-ministro devia ter um bocadinho mais de cuidado antes de falar e devia pelo menos perguntar aos seus votantes e militantes do PSD que integram a UGT e qual era a posição que eles iam tomar. Ele julgou que bastava dizer isto para que isso fosse de facto consumado, que depois eles obedeceriam ao Governo. Se há coisa que os sindicatos gostam de fazer é desobedecer aos governos, quaisquer que eles sejam", assegura.
Já sobre Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou a greve precipitada: "Significa que o Presidente da República, nesta situação, se resolveu colar ao Governo. Só significa isto, mais nada. Com todas as consequências que daí vão advir, com certeza."
O antigo presidente do Conselho Económico e Social abordou ainda o pacote laboral do Governo, que, na sua opinião, é uma transposição de políticas dos países nórdicos que têm realidades distintas.
"Há uma tentação dos políticos de transplantarem para Portugal soluções que tiveram êxito em outros países. A flexissegurança no trabalho é uma solução dinamarquesa, é uma solução que funcionou muito bem na Dinamarca e em outros países nórdicos, onde as garantias sindicais eram muito fortes. Portanto, a possibilidade de liberalizar ou flexibilizar os despedimentos, mas em troca de fortíssimas compensações no desemprego e na formação profissional, isso é uma coisa que funcionou muito bem na Dinamarca e também de certa forma na Holanda. Agora, transplantar isso para Portugal, numa situação onde estamos numa transição económica brutal, onde estamos à beira de crises, ora bem, é um risco enorme estar a acrescentar uma crise social a uma crise económica que se antevê", argumenta.
