O socialista e atual Ministro da Administração Interna não comenta o impacto político dos processos judiciais que envolvem José Sócrates e Manuel Pinho, mas lembra que quem ocupa cargos políticos tem que ser particularmente exigente no que toca à ética.
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À política o que é da política. À justiça o que é da justiça. Por mais gasto que esteja, o chavão continua a servir de resposta aos políticos no ativo para responderem aos processos judiciais que envolvem outros políticos, mais concretamente ex-governantes como José Sócrates (arguido na Operação Marquês) ou Manuel Pinho, suspeito de ter recebido uma avença do do Grupo Espírito Santo, mesmo durante o seu mandato como Ministro da Economia. Sobre este assunto, Eduardo Cabrita, atual ministro da Administração Interna, complementa com outro chavão: "A separação de poderes é um primado fundamental do Estado de Direito", afirmou no programa Bloco Central da TSF desta semana.
Membro do governo liderado por José Sócrates, onde foi Secretário de Estado adjunto e da Administração Local, Eduardo Cabrita evita comentar o silêncio do Partido Socialista sobre os casos judiciais que envolvem dois ex-governantes do PS, mas deixa a aquela que é a sua posição de princípio sobre a necessidade de "termos um padrão particularmente exigente daquilo que é a ética e a sobriedade do exercício de funções." Políticas, bem entendido. E ainda a esse propósito, Cabrita sublinha: "aqueles que me conhecem sabem, pelos locais onde tenho passado, que sou particularmente exigente, para mim e para todos aqueles com quem tenho particular responsabilidade política."
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O silêncio ensurdecedor do PS sobre Sócrates e Pinho
Serão os tempos da política compatíveis com os tempos da justiça? O tema surgiu muito por "culpa" da eurodeputada socialista, Ana Gomes, que na sua conta da rede social Twitter, escreveu a semana passada que "o Partido Socialista não pode continuar a esconder a cabeça na carapaça da tartaruga. O próximo Congresso é oportunidade para escalpelizar como se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos. Pela regeneração do próprio PS, da Política e do País."
À voz sempre incómoda da deputada junta-se a opinião semelhante de Pedro Adão e Silva. O comentador e membro permanente do programa Bloco Central da TSF lembra que "há um elefante no meio da sala" e está convicto que era a esse elefante que o Presidente da República se referia no discurso do 25 de abril, da passa quarta-feira. "Nós não podemos olhar para o regime português, que tem neste momento um ex-primeiro-ministro acusado de crimes gravíssimos na qualidade de primeiro-ministro (...) e agirmos como se nada se estivesse a passar", alerta o comentador político.
Pedro Adão e Silva vai mais longe e fala num "lado moral, de decência, que funda a democracia". "Sobre esse ponto de vista, acho que o tempo da justiça não é compatível com o tempo da política", afirma, acrescentando que "a política não deve ficar ad eternum à espera da justiça para se pronunciar sobre assuntos que nos afetam a todos."
No concreto, o comentador político lembra que "Manuel Pinho foi ministro porque o PS ganhou as eleições" e que há, pelo menos, "uma coisa que o PS já devia ter feito, que era pedir que Manuel Pinho viesse dar explicações." Adão e Silva avisa que "há um momento em que o PS tem que dar um passo à frente e mostrar que não se deixa contaminar por aquilo que foram atos de duas pessoas que estiveram num governo depois de o PS ganhar as eleições."
No programa Bloco Central, Pedro Adão e Silva deixou ainda um desabafo: "Ainda estou com dificuldade em processar a ideia que houve um ministro que se sentou no Conselho de Ministros durante uns anos e que foi pago por uma entidade privada. Nós conhecíamos em Portugal os ministros que eram militantes dos partidos, os ministros independentes e agora temos um terceiro género, que é o ministro que é militante de uma empresa privada." O comentador conclui - "se achamos que os políticos podem olhar para isto com naturalidade e que não se devem pronunciar, eu acho que há um enorme equivoco na política."