"Faltou vergonha e descaramento" a Montenegro. Pedro Nuno fala em "relação distante" do Governo com AR e Marcelo
O líder dos socialistas critica a "forma panfletária" com que o Governo tem trabalhado o tema da segurança interna e acusa Luís Montenegro de ter sido protagonista de uma "grande ação de propaganda"
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O secretário-geral do PS considera que "faltou vergonha e descaramento" a Luís Montenegro quando acusou os socialistas de estenderem a “aliança estratégica” com o Chega na Madeira. Pedro Nuno Santos defende que "não há partido político mais distante do Chega do que o PS" e acusa o Governo de ter uma "relação distante" com o Parlamento e o Presidente da República.
"Onde o ridículo atinge proporções do absurdo é quando o primeiro-ministro se lembra de falar da Madeira. Injustiça aos nossos camaradas. O PS/Madeira sempre foi contra a constituição deste governo. Foi no início e foi agora. O PS foi coerente. É extraordinário como o líder do PSD e primeiro-ministro fala no tema, muito preocupado com uma suposta associação entre PS e Chega, esquecendo-se de dizer que Miguel Albuquerque lidera um governo regional porque fez um acordo com quem? Com o Chega", destaca, em declarações aos jornalistas, no jantar de Natal do Grupo Parlamentar do PS.
As afirmações do líder dos socialistas surgem na sequência daquilo que diz ter sido "uma intervenção que desrespeitou profundamente o Parlamento e a democracia parlamentar" por parte de Luís Montenegro.
“O PS fez campanhas sobre uma possível convergência estratégica entre PSD e Chega, num ataque serrado. Todos os dias me perguntavam na rua como ia ser. Agora fazem uma aliança estratégica. O Chega dizia que era preciso erradicar o socialismo de Portugal e agora faz acordos de política fiscal com o PS. E já contagiou outras instâncias da nossa democracia, hoje juntaram-se para derrubar um governo da AD, um governo eleito e reeleito nos últimos 12 meses, um governo que madeirenses e porto-santenses dizem estar a governa no bom caminho, com uma situação económica muito boa. Aconteceu alguma coisa de novo desde as últimas eleições? Aconteceu alguma coisa para derrubar um governo legitimado? É a cultura do caos, a estratégia do contra. É ir longe demais”, afirmou o primeiro-ministro.
Pedro Nuno Santos devolve agora as acusações e responsabiliza o Governo por "entrar na agenda da extrema-direita". Garante, pelo contrário, que os socialistas têm "muito orgulho" nas propostas apresentadas pelo partido, dando como exemplo o aumento do valor das pensões e o fim das portagens no interior do país, que valeram a aprovação de todos os partidos à exceção do PSD e CDS.
Lembra que também que foi o PSD quem "fez um acordo com o Chega na Madeira e nos Açores": "Ninguém no PS faz acordos com o Chega. Nós combatemos o Chega."
"O Governo entende que a única forma de combater o Chega é incorporando a sua agenda", argumenta, lamentando a proposta de alteração à lei de base da saúde, uma medida que diz criar um "problema" ao próprio partido de Luís Montenegro, mas também "ao país e à economia".
Considera ainda que o PS tem "escrutinado e fiscalizado" a ação do Executivo, mas também tem apresentado iniciativas legislativas. Por isso, pede que se continue a "respeitar a democracia parlamentar", antes de acusar Montenegro de ter uma "relação distante com o Parlamento", mas também com "o Presidente da República", Marcelo Rebelo de Sousa.
"Admito que [o primeiro-ministro] esteja zangado com o povo português por não ter tido mais do que 29% dos votos, mas, em democracia, nós respeitamos o Parlamento, respeitamos a escolha do povo português e o que resulta das maiorias parlamentares", atira.
O líder dos socialistas critica igualmente a "forma panfletária" com que o Governo tem trabalhado o tema da segurança interna, acusando Montenegro de ter sido protagonista de uma "grande ação de propaganda" sobre um assunto que é "muito importante", "apropriando-se da imagem" destes profissionais.
Argumenta que o mesmo aconteceu na forma como o PSD "diabolizou as aulas de cidadania", apontando que os sociais-democratas querem "discutir terreno eleitoral com o Chega". O mesmo, diz, acontece na Saúde, uma área em que volta a afirmar que o Governo se tem mostrado "incapaz de resolver os problemas", estando agora a "inventar os que não existem".
"O mais grave não são os discursos do primeiro-ministro. Nós vivemos bem com eles. É a ação governativa: temos um governo que é profundamente incompetente e sem credibilidade. Os exemplos sucedem-se", remata.
O primeiro-ministro acusou na terça-feira PS e Chega de desrespeitarem a vontade popular expressa em eleições na Madeira, mas também na Assembleia da República, considerando que a sua "aliança estratégica" tem colocado em causa o equilíbrio de poderes.
"O PS e o Chega não estão a atender ao interesse das pessoas, não estão a respeitar a vontade legitimamente sufragada nas eleições e com isso estão a contribuir, ao contrário daquilo que dizem, para enfraquecer a democracia", acusou.