"Farsismo nunca mais." Muita lavagem de roupa suja e pouca política no debate entre Chega e Livre
No frente-a-frente entre os dois candidatos, André Ventura e Rui Tavares apostaram mais nas acusações do que na exposição das propostas de cada partido para o país.
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O debate televisivo que opôs, esta noite, o líder do Chega ao líder do Livre foi mais rico em ataques pessoais do que em discussão de propostas eleitorais dos dois partidos.
Rui Tavares decidiu começar a primeira intervenção que teve no frente-a-frente falando de um caso que envolve a própria família e acusando o Chega de usar questões pessoais como arma de arremesso político.
"Nos últimos dias, têm andado a circular pelas redes sociais fotografias de alguém que se introduziu no pátio da escola onde os meus filhos estudam. Fotografaram-me a mim com os meus filhos, tentando provar, com isso, uma pseudo-hipocrisia - que seria que eu tinha os meus filhos numa escola internacional", expôs o porta-voz do Livre, assumindo-se como um defensor da escola pública.
"A verdade é que quem começou a utilizar como arma de arremesso político esta questão foi o deputado Pedro Frazão, do Chega", declarou Rui Tavares, acusando o Chega de gerar um ambiente no qual "a segurança de crianças é posta em causa". As acusações continuaram com Rui Tavares a atribuir ao Chega o lançamento de falsos rumores sobre o financiamento do Livre.
Já André Ventura acusou Rui Tavares de "hipocrisia#, por defender a escola pública mas, na vida pessoal, optar pelo setor privado. Hipocrisia que, aos olhos do líder do Chega, se estende também às escolhas feitas pelo Livre em matéria de política internacional.
"A bandidagem que andou a roubar e a distribuir às grandes construtoras do Brasil não foi Jair Bolsonaro, foi Lula da Silva - que vocês apoiaram", atirou Ventura. "Ouvi Rui Tavares dizer que era fantástico receber Lula da Silva no Parlamento!"
"Os nossos aliados não são Cuba, nem a Venezuela, nem a Autoridade Palestiniana, que Rui Tavares apoia, e que disse que não era capaz de condenar o Hamas pelos ataques contra Israel. Vocês são a pior hipocrisia que a política já gerou", disse o presidente do Chega ao líder do Livre, acusando-o de pertencer a uma organização (a European Alternatives) que, alega Ventura, é financiada por oligarcas.
Rui Tavares respondeu que mal-acompanhado está o Chega e argumentou que, nas próximas eleições europeias, os deputados que forem eleitos pelo partido integrarão o grupo europeu "mais pró-Putin que existe". O líder do Livre aventurou-se até lançando uma nova designação para as forças políticas que o Chega acompanha: o "farsismo".
"Trump foi eleito prometendo "lei e ordem". Não saiu antes de escancararem o Capitólio. Bolsonaro foi eleito prometendo "limpar" o país - não sei se isso lembra alguma coisa, é o que está também em cartazes do seu partido. Não saíram do poder sem antes terem defecado no Palácio Presidencial", disse Rui Tavares a André Ventura. "E Orbán também prometeu combater a corrupção e é hoje dos governantes mais corruptos da Europa."
"Os cientistas políticos têm discutido muito qual é que é o nome que se deve dar a estes fenómenos políticos - se é extrema-direita, se é nacional-populismo,... Eu acho que há um bom nome para isto: é o "farsismo". São os "farsantes", vem de "farsa"", afirmou o porta-voz do Livre, antes de rematar com um "farsismo nunca mais".
Mas, em matéria de ataques, não bastou a Ventura o oponente que tinha à frente. A propósito das recentes controvérsias em relação à atuação da Justiça, o líder do Chega deixou ainda farpas a PS e PSD.
"Pedro Nuno Santos, frente a frente num debate comigo, disse que a Justiça estava a funcionar. Foi há 70 horas. Hoje, disse que, afinal, tinha havido um problema com a Justiça", referiu André Ventura.
"PS e PSD o que querem é silenciar a Justiça", declarou. "Querem pôr uma mordaça na Justiça e pô-la a funcionar a seu favor", acusou.