Fernando Rosas acusa Aguiar-Branco de moralismo e rejeita que escrutínio afaste os melhores da política
O antigo dirigente do Bloco de Esquerda nega também a ideia de que os políticos de hoje não prestam: "É uma observação de gente da terceira idade"
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O antigo deputado e dirigente do Bloco de Esquerda (BE) considera, em entrevista à TSF, que o presidente da Assembleia da República "fez uma afirmação de carácter moralista ao dizer que há uma crise de disponibilidade das pessoas de bem para fazer política".
Fernando Rosas foi um dos nomes referidos por Aguiar-Branco como deputado de referência face à atual realidade. Agradece a simpatia, mas trata de sublinhar que não partilha das mesmas opiniões.
O histórico do BE defende que a exigência e o escrutínio "não afastam as pessoas de bem, afastam é as pessoas que entendem que podem fazer negócios e ter empresas que beneficiam de leis que elas próprias fazem".
"O escrutínio é absolutamente necessário. Tem de se partir do princípio que certas atividades empresariais podem ser contraditórias com a governação — pelo menos a certos níveis de governação. Isso tem de ser aceite: se se diminui o escrutínio para que os senhores estejam à vontade para fazer negócios que podem ser eticamente reprováveis, isso é que é mau", defende, acrescentando que "servir a República é fazer escolhas contra a atividade pessoal, contra a atividade profissional e colocar-se nessa dimensão".
Fernando Rosas não concorda com o argumento de que "as pessoas que têm uma vida privada e têm os seus negócios se veem excessivamente fiscalizadas" e que isso as afasta da política. Para o antigo parlamentar, "quem não deve, não teme". O que é reprovável, sublinha ainda, "é a tentativa de manter a falta de transparência em certas atitudes e em certos negócios".
Quanto à crise política da democracia parlamentar, defende Fernando Rosas, é causada pela emergência "de uma extrema-direita que coloca no Parlamento um partido de delinquentes, de gente extremada e sem estribeiras na maneira como fala e de gente que atenta contra a Constituição, contra as leis e contra o convívio e o debate parlamentar digno desse nome". E aponta a Aguiar-Branco: "O presidente da Assembleia tem-se demitido, em certa medida, de ser um árbitro fiscalizador do civismo, da boa educação e até da normalidade dos debates parlamentares."
Outra ideia rejeitada pelo antigo dirigente do Bloco de Esquerda quando se fala da qualidade dos políticos é a de que os políticos de hoje não prestam. "É uma observação de gente da terceira idade. Como se não houvesse na gente nova, que agora ascende à política, gente capaz de se sacrificar pelo interesse coletivo. Não tenho nada essa visão paternalista. O que há é crise política e luta política, [que] traduz-se em haver políticos bons e políticos maus, mas não acho que isso seja uma questão geracional. O que há é entrada na política de uma espécie de bando de malfeitores, que também marca a luta política atualmente", remata Fernando Rosas.