Gastos "à grande" na Defesa? O "receio" de que Governo se torne "submisso a Trump" e a garantia de que "Estado Social não é colocado em causa"
No Fórum TSF, o PSD acredita que é preciso olhar para o investimento em Defesa como "um estímulo à indústria nacional". Mas, primeiro, a oposição quer saber de onde vem o dinheiro
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A situação em que ficará o Estado Social com o investimento em Defesa é um dos tópicos que dividiu os partidos políticos que esta quinta-feira marcaram presença no Fórum TSF. O PSD e o CDS reiteraram que nada há a temer, mas o Livre acusou o Governo de estar "submisso a Trump" e o PCP falou numa "aventura" que vai sair cara aos portugueses.
Os 32 países da Aliança Atlântica acordaram na quarta-feira um investimento de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) na Defesa até 2035. Na discussão no Fórum TSF, o deputado socialista Luís Dias mostrou querer saber como é que o Governo vai financiar esta "meta muito ambiciosa" sem "mexer no Estado Social" e sem "colocar em causa as contas públicas".
E as dúvidas de Luís Dias prosseguiram: até ao final do ano trata-se de um esforço adicional de mil milhões para cumprir os 2% do PIB nesta área e esse dinheiro "vai ter de vir de algum lado", sendo que o primeiro-ministro já garantiu que "não é necessário um orçamento retificativo".
À direita, o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Bruno Ventura, afirmou com convicção que este reforço não vai prejudicar o país, pelo contrário: tem vantagens económicos, porque vai "produzir um estímulo na indústria nacional". Também João Almeida, do CDS, garantiu que "o Estado Social não está em causa" e isso é mesmo um "requisito" para cumprir os objetivos da NATO.
Por sua vez, Nuno Simões de Melo, do Chega, quer ver Portugal atingir os 5% do PIB, desde que isso "não seja desculpa para aumentos de impostos ou algo que ponha em causa a qualidade de vida dos portugueses".
Num momento em que a Europa está em perigo, a Iniciativa Liberal alinhou igualmente neste compromisso. O deputado Rodrigo Saraiva acredita que é possível lá chegar, mas é preciso ter em conta "a realidade de cada país" e que "cedências" cada um está disposto a fazer.
Quem não é convencido por estes discursos é o PCP. O comunista Alfredo Maia falou num "desastre para os países e para os povos que vão pagar com língua de palmo esta aventura". A serem concretizados os 5% do PIB, é uma decisão "altamente prejudicial para os interesses do país" e, para compreender o valor que será gasto, "basta" relacionar com a construção de um novo aeroporto: daria para ter "um novo a cada dois anos".
Nesta linha também está o Livre, que não escondeu ter "receios" devido às "poucas" explicações de Montenegro. O deputado Jorge Pinto explicou:
Capitular e estar submissos à posição de Donald Trump e a tudo o que ela significa — ele mais parecia um delegado comercial em Haia — preocupa-nos e preocupa-nos a posição do Governo e a sua falta de proatividade em desafiar os números e em ter uma postura como teve o Executivo espanhol.
Recorde-se que o secretário-geral da Aliança Atlântica, Mark Rutte, enviou uma mensagem bajuladora ao líder norte-americano, na véspera da cimeira da NATO, onde escreveu que os europeus passarão a “gastar à grande” na Defesa.

