"Governo de ganância." BE acusa Executivo de ter "projeto trumpista" para Portugal
Na ótica da coordenadora do BE, o governo minoritário PSD/CDS-PP "confunde a economia com os donos da economia"
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A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, acusou esta quarta-feira o executivo de governar "para a ganância" e ter um "projeto 'trumpista'" para o país, com o primeiro-ministro a criticar o "afunilamento ideológico e teimoso" dos bloquistas.
"É um governo de ganância. É um governo que governa para a ganância. E o estado da nação é só o 'trailer' do que vai acontecer no Orçamento do Estado [para 2025]", acusou Mariana Mortágua, no debate sobre o estado da nação, que decorre na Assembleia da República, um dia depois de os bloquistas terem anunciado que vão votar contra a proposta do Orçamento do Estado para o próximo ano, que ainda não é conhecida.
Na ótica da coordenadora do BE, o Governo minoritário PSD/CDS-PP "confunde a economia com os donos da economia".
"E se lhe perguntar, senhor primeiro-ministro, porque é que não governa para o povo, dir-me-á que primeiro é preciso enriquecer os mais ricos. Conhecemos essa teoria, chama-se trickle-down economics, em inglês, é o projeto 'trumpista' [referente a Donald Trump] e daquele governo liberal que não durou mais que uma alface no Reino Unido", acusou.
Mariana Mortágua considerou que esta estratégia "só serve para aumentar desigualdades" e é "um projeto para o qual a esquerda nunca poderá ser requisitada".
"Eis o estado da nação: os donos de Portugal que esfregam as mãos à espera do Orçamento do Estado, a contar milhões, os milhões do IRC, do trabalho barato, dos contratos do negócio da saúde, da especulação imobiliária, sem que ninguém lhes exija um cêntimo a mais em salários, melhores condições de trabalho, ou menos de tempo de trabalho para as pessoas poderem viver melhor. É, por isso, um Governo de desigualdades", defendeu.
Mortágua afirmou ainda que o Executivo "terá sempre diálogo" com o Bloco de Esquerda: "Estaremos cá para falar de salários quando o Governo fala em baixar IRC; estaremos cá para falar de menos tempo de trabalho quando o Governo fala em baixar salários; estaremos cá para falar de carreiras do SNS quando o Governo fala em negócio para o privado."
"Estaremos cá para regular o turismo porque a habitação é a maior liberdade que alguém pode ter. Ter a sua casa em segurança, uma casa que possa pagar com o seu salário. Estaremos cá porque a nação merece uma alternativa", assegurou.
Uma das áreas de atuação do Governo mais criticadas pela bloquista foi a da imigração, com Mortágua a avisar que o primeiro-ministro "pode construir um muro de Vila Nova de Cerveira até Vila Real de Santo António" ou "chamar navios de Frontex para o Rio Trancão", mas "a verdade é que os imigrantes vão chegar para fazer as obras do Plano de Recuperação e Resiliência, para as pescas e para a agricultura".
Na resposta, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, começou por criticar o programa político do BE, afirmando que este já foi aplicado "noutras geografias" e resultou num "o aumento exponencial da pobreza".
Luís Montenegro acrescentou que vai acolher "as sugestões" do BE para "reflexão", mas deixou um aviso.
"Se elas mantiverem o afunilamento ideológico e teimoso do seu pensamento, será difícil podermos integrá-las nas nossas soluções", considerou o chefe do executivo.
Montenegro rejeitou a tese de que o Governo quer uma sociedade de baixos salários ou precariedade e salientou que, apesar de a habitação ser um "bem fundamental", o "valor maior que uma política pública pode exponenciar em termos de igualdade e democraticidade numa sociedade é a educação".
"Eu registei que, nos anos em que o BE teve responsabilidades partilhadas na governação, este valor na educação foi desvalorizado, o valor na saúde foi desvalorizado, o valor na habitação também foi desvalorizado", acusou.
