Na TSF, Francisco Louçã defendeu que a "gerigonça" não está esgotada, mas que o Governo está a procurar ganhar votos à direita, seguindo uma "estratégia de curto prazo" que é "ligeira e prejudicial".
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Em entrevista à TSF, o fundador do Bloco de Esquerda afirmou que o Governo está a criar uma estratégia de "tensão" com os partidos à esquerda e a deixar para segundo plano aquilo que é "essencial": o reequilíbrio da sociedade portuguesa - que ainda tem "4 milhões de pobres e desigualdades salariais grotescas" -, através da devolução de direitos.
Para Francisco Louçã, o acordo de governação entre o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP "não está esgotado", porque "ainda há imenso que fazer" neste campo.
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O atual conselheiro de Estado considera que o Governo socialista tem tido "atuações preocupantes", em particular na resistência que mostra em corrigir as deficiências do Serviço Nacional de Saúde e a lei laboral (que sofreu duros cortes durante o período da troika), preferindo fazer "acordos com o patronato e nem sequer apresentar aos partidos de esquerda as medidas que estavam em cima da mesa na concertação social". Uma atitude que, para Louçã, foi "virar as costas à cooperação", que era "desejável," com o Bloco de Esquerda e o PCP.
Por último, Francisco Louçã tece críticas à posição do Governo naquele que tem vindo a ser apontando como o tema que pode fraturar o entendimento entre a esquerda: a reposição do tempo de serviço congelado (9 anos, 4 meses e 2 dias) nas carreiras dos professores.
O antigo líder do Bloco de Esquerda defende que os sindicatos foram "sensíveis", à questão das restrições orçamentais, admitindo que a reposição do tempo de serviço fosse feita de uma forma faseada.
No entanto, o Ministério da Educação propôs uma recuperação inferior a 3 anos, lançando um ultimato aos sindicatos: ou aceitavam a proposta ou não seria contabilizado qualquer tempo de serviço - o que Louçã classificou como uma "agressividade negocial raríssima". "O Governo empurrou os professores para uma greve", diz.
Francisco Louçã sublinha que esta é a "estratégia errada" por parte dos socialistas, tratando-se de um "jogo político" que não leva à resolução de quaisquer problemas.
"O Governo está a usar uma estratégia de crise, quer criar perceção de que há soluções que são impossíveis", afirma. Para o bloquista, o Executivo de António Costa está a "deixar-se levar pelo calendário das eleições" e, sentindo a "fragilidade do PSD", a procurar "ganhar terreno ao centro e à direita".
Louçã afirma que as motivações de António Costa passam pela sua ambição de governar com maioria absoluta, sem ter necessidade de "compor políticas com a pressão da maioria da esquerda", e que a adoção desta postura é uma forma de tentar ganhar votos aos PSD e atingir esta maioria socialista.
E quando à volta do país, os riscos se acumulam - "de Trump a Macron, passando por Espanha e Itália..." -, para Louçã, "é essencial ter a solidez de uma grande convergência" em Portugal.