Governo preparou partidos à esquerda: não esperem boas notícias do Programa de Estabilidade. Não há margem para novo braço-de-ferro com Bruxelas.
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A ordem é para não esticar a corda com Bruxelas. O ministro das Finanças prepara-se para rever em baixa as previsões de crescimento da economia, no Programa de Estabilidade que terá que entregar em Bruxelas no final do mês e que será aprovado de hoje a uma semana em Conselho de Ministros. E já preparou o Bloco de Esquerda e o PCP para a menor margem de manobra que o Governo vai ter para aplicar, no próximo ano, medidas que ajudem a economia ou que reforcem apoios sociais.
De acordo com uma fonte do Governo, na primeira reunião que teve, em separado, com os dois partidos que apoiam o Governo, Mário Centeno traçou um cenário "conservador" para a economia portuguesa, dando conta de dois fatores que esfriam as ambições do próprio Governo: as medidas que foram negociadas com Bruxelas no Orçamento deste ano; e a conjuntura externa, que tem levado várias instituições a rever em baixa as previsões de crescimento da economia europeia e também portuguesa, do FMI à Comissão Europeia, passando pelo Banco de Portugal. Um exemplo: o FMI espera agora que o ritmo de crescimento da economia portuguesa abrande para os 1,3% - muito abaixo do que admitia o Governo PS no início do mandato: 2,4%.
As regras do Tratado Orçamental da UE, que estão em vigor, são muito rígidas, adianta a mesma fonte à TSF. E não permitem ao Governo esticar a corda com uma expectativa demasiado otimista: "Seríamos obrigados a compensar com outras medidas de austeridade", lamenta.
Uma fonte da direção do Bloco, contactada pela TSF, confirma que essa foi a mensagem transmitida aos partidos - sem dramatizar as consequências: para o Bloco, a questão central estará na negociação do próximo Orçamento, em setembro. E não há qualquer intenção entre os partidos à esquerda de levar a votos o Programa de Estabilidade que seguirá para Bruxelas. A segunda reunião entre Centeno, Bloco e PCP ainda não está agendada, mas pode acontecer apenas no início da próxima semana, mas já todos estão conscientes de que os números e as medidas incluídos no documento não serão entusiasmantes.
O ministro das Finanças tinha inscrito no programa eleitoral estimativas otimistas para os próximos anos: um crescimento de 2,4% para este ano (que já foi revista para 1,8% no Orçamento) e de 3,1% no próximo - uma meta que pode agora estar comprometida. Esta segunda-feira, o Jornal de Negócios escreveu que também as expectativas de criação de emprego do PS serão revistas em forte baixa, passando dos mais de 200 mil empregos criados na legislatura para pouco mais de 120 mil novos postos de trabalho.