No espaço da TSF "A Opinião", Francisco Louçã defendeu que a situação política em Espanha e Itália prova que os tempos mudaram e que os sistemas políticos tradicionais foram destroçados.
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Francisco Louçã considera que a moção de censura a Mariano Rajoy, que fez cair o governo do Partido Popular (PP), em Espanha, e a formação de um novo executivo, em Itália, formado pelo populista Cinco Estrelas e pela Liga, de extrema-direita são "alterações surpreendentes".
No espaço de comentário que ocupa na TSF, "A Opinião", o antigo líder do Bloco de Esquerda afirmou que "Espanha e Itália são casos espetaculares que provam que a estrutura partidária que governou estes países durante décadas está em desagregação".
"É o fim do bipartidarismo", declarou Louçã.
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O bloquista recorda que em Itália, "historicamente, havia um grande partido à esquerda, o Partido Comunista, e a Democracia Cristã, que era hegemónica do ponto de vista político". "Um e outro desapareceram", constatou.
Uma situação semelhante ao que aconteceu em Espanha, até agora, governada pelo PP, "que foi criado por um ministro de Franco e, na transição para a democracia, foi o partido que juntou toda a direita", disse. "Contra ele havia, a Esquerda Unida, comunista, e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), o grande partido de oposição de centro-esquerda".
Acontece que, hoje, "nas sondagens, o PSOE é o 4.º partido mais votado, e o Partido Popular, que ganhou as últimas eleições, mas sem maioria, aparece em 3.º lugar".
A preferência dos espanhóis vai para o Cidadãos, novo partido de direita, que aparece nas sondagens como aquele receberia mais votos, se houvesse eleições em Espanha neste momento, seguido pela coligação de esquerda entre o Podemos e a Esquerda Unida.
Depois de aprovada a moção de censura a Mariano Rajoy, esta sexta-feira, o líder do PSOE, Pedro Sánchez forma automaticamente governo, mas, na opinião de Francisco Louçã, "terá muita dificuldade em governar". O bloquista não tem dúvidas: "Espanha terá que caminhar para eleições".
Francisco Louçã criticou ainda a posição assumida pela União Europeia, que diz estar a apregoar a regra de que as questões financeiras/monetárias se impõem sobre qualquer escolha democrática que a população possa fazer. "É sinal de um autoritarismo que só pode criar problemas", atirou.
"Essa perceção de que as regras económicas e financeiras estão acima das pessoas, de que a democracia pode existir desde que seja vazia, e que há algo que está acima da Constituição de cada Estado é um veneno que se está a instalar por todo o lado dentro da Europa", concluiu Louçã.