Habitação com impostos de casino e palco para a extrema-direita. Bruno Gonçalves e Sofia Pereira em debate pela JS
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São militantes do PS, candidatos à liderança da jota do partido, mas têm visões distintas em várias soluções para o país. Em debate na TSF, Sofia Pereira e Bruno Gonçalves divergiram nas propostas para a crise da habitação e a candidata acusou o adversário de dar palco à extrema-direita. Entendem-se, no entanto, numa meta para o curto prazo: nas autárquicas do próximo ano, o PS deve contar com a “maior representação de sempre” de jovens.
Pela primeira vez, em 18 anos, existe competição pela liderança da Juventude Socialista (JS) que já deu ao PS dois secretários-gerais: António José Seguro e Pedro Nuno Santos. Além de vários dirigentes de topo e governantes. Sofia Pereira e Bruno Gonçalves são os candidatos à sucessão de Miguel Costa Matos.
Bruno Gonçalves desacredita proposta de Sofia Pereira
Os candidatos divergem quanto às soluções para resolver a crise na habitação. Embora ambos defendam o aumento da habitação pública, as visões são distintas. Sofia Pereira quer 600 mil casas nos próximos dez anos financiadas pelos impostos dos casinos e jogo online, ideia desmontada por Bruno Gonçalves.
A candidata começa por lembrar que os impostos dos jogos online e dos casinos “vão diretamente para o turismo de Portugal e esse valor, que é a maior fonte de investimento extra orçamental, em vez de construir mais passadiços deve construir mais casas para as pessoas”.
São 600 mil casas (para os próximos dez anos) financiadas pelos impostos dos jogos online e dos casinos, o que leva Bruno Gonçalves a lançar dois dados para cima da mesa: na última década foram construídas 12 mil casas e no último ano a receita com os casinos foi de 268 milhões de euros.
“Quando debatemos política, temos de debater com ambição e com realidade”, pediu Bruno Gonçalves, com Sofia Pereira a alertar para “a falta da missão com as mesmas medidas de sempre”.
A candidatura de Bruno Gonçalves quer que nos próximos 20 anos, dois por cento do PIB seja para habitação. E defende um “programa de arrendamento acessível em habitação pública baseado na possibilidade de renda resolúvel”, embora garanta que não se inspirou na erradicação das barracas de Aníbal Cavaco Silva (mas sim nas políticas de Viena, implementadas pelo partido irmão do PS).
“Eu morei em Viena durante três anos. Em Viena, uma em cada duas casas são habitação pública. Ou seja, 50% do parque habitacional é parque habitacional público. Mas não são bairros sociais. São apartamentos dignos. São casas dignas para que as pessoas se integrem em comunidade”, respondeu.
Sofia Pereira acusa Bruno Gonçalves de dar palco à extrema-direita
Bruno Gonçalves debate todas as semanas, na televisão, com Rita Matias. Um encontro semanal que, na opinião de Sofia Pereira, contribuiu para a normalização da extrema-direita. O eurodeputado quer, isso sim, combater as ideias populistas.
A candidata entende que a “nova forma de fazer política” que Bruno Gonçalves apresenta não é mais do que “uma tentativa de ter popularidade e de viralizar”. O candidato responde que, na política, é necessário “debater ideias”.
Feitas as contas, Sofia Pereira entende que Bruno Gonçalves “passa mais tempo a falar com a Rita Matias e com a extrema-direita do que a legislar” no Parlamento Europeu. “Legislar” é com o que Sofia Pereira se compromete.
Em primeira instância, Bruno Gonçalves nota que Sofia Pereira “desconhece o Parlamento Europeu” e avisa que “há jovens que votam na extrema-direita e, portanto, é preciso combater essas ideias”.
Existem, por isso, duas candidaturas distintas, na opinião de Bruno Gonçalves, em que “quer deixar tudo na mesma e que acha que está tudo bem, e que não é preciso debater com a extrema-direita”. Sofia Pereira “é a candidata da continuidade”.
“Se a Sofia diz que quer um país governado pelo BE ou pelo PCP, eu digo que não quero”
O início da geringonça foi há quase uma década, mas o feito de António Costa, puxando a esquerda para o suporte governativo, continua a dividir os socialistas. Bruno Gonçalves faz questão de sublinhar que “o PS governou sozinho”, já Sofia Pereira lembra “os melhores resultados para o país” durante a geringonça.
“Quando a esquerda governou o país tivemos dos melhores resultados. Quando o PS governa sozinho, governa muito bem, como já foi prova. Mas governar à esquerda é muito mais o que nos une do que o que nos separa”, apontou.
Já Bruno Gonçalves responde que “a esquerda não governou o país”, mas apenas o PS. Portanto, “Se a Sofia diz que quer um país governado pelo Bloco de Esquerda ou pelo PCP”, Bruno Gonçalves diz que “não quer”.
Sofia Pereira, por outro lado, acusa Bruno Gonçalves de “colocar desafios em prateleiras”, distinguindo as “causas fraturantes das causas estruturantes”. A primeira proposta que a candidatura apresentou foi pelo alargamento da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) para as 14 semanas, e Sofia Pereira sublinha que “não faz política de causas menores”, dando o exemplo de Pedro Nuno Santos, secretário-geral da JS no referendo à despenalização do aborto.
Bruno Gonçalves responde que “a divisão de causas estruturantes com fraturantes não tem nada a ver com mais ou menos importantes”, sendo que “estruturantes quer dizer que mudam estruturalmente a sociedade”. O candidato coloca nesse lote a IVG e também a adoção por casais do mesmo sexo.
Embora o PS tenha, entretanto, apresentado uma proposta para o alargamento da IVG das dez para as 12 semanas, Sofia Pereira promete bater-se pelas 14 semanas, cumprindo com a bandeira que apresentou aos militantes.
Sofia Pereira quer “maior representação de sempre” da JS nas autárquicas. Bruno Gonçalves nota que PS “mobiliza muitos jovens”
Os candidatos à liderança da JS querem mais representação dos jovens nas listas socialistas às autárquicas. Sofia Pereira e Bruno Gonçalves prometem pressionar Pedro Nuno Santos para que “dê um sinal que os jovens contam”.
Sofia Pereira defende mesmo que o PS precisa de fazer uma reflexão e integrar mais jovens nas listas para as autárquicas, uma meta a que se propõe caso vença as eleições internas para a liderança da JS.
“Para poder fazer política para os jovens é mesmo preciso integrar-nos. Nós valemos mesmo pela nossa mobilização, pelo nosso trabalho na construção dos programas eleitorais, mas também valemos pela nossa capacidade de poder executar aquilo que são as nossas propostas e que defendemos junto do Partido Socialista”, sintetizou.
Daí o objetivo da candidatura de Sofia Oliveira para que o PS conte com “a maior representação sempre dos jovens em Assembleias de Freguesia, Assembleias Municipais e Executivos camarários”, em 2025, para que os socialistas deem “um sinal de que os jovens contam na política”.
Bruno Gonçalves considera que a JS tem perdido força, numa visão distinta à de Sofia Pereira, e quer que o PS tone as vozes jovens audíveis nas próximas autárquicas. Alerta ainda que a extrema-direita tem conseguido ganhos junto dos mais eleitores mais novos e surgirá em força nas eleições do próximo ano.
O PS tem, por isso, “duas hipóteses” para as próximos autárquicas, do ponto de vista do candidato: negar os votos dos jovens ou renovar parte das listas.
“A primeira hipótese é negar a evidência de que este é um partido que mobiliza muitos jovens, e se negar essa evidência nega também a possibilidade de mais jovens do partido integrarem as listas. Ou tem outra, admitindo que precisamos de mais juventude, precisamos de comunicar melhor para a juventude, e precisamos de mais jovens nas listas”, acrescentou.