Habitação marca debate onde o veterano João Ferreira confrontou Moedas e Leitão
Corpo do artigo
No debate autárquico de Lisboa, na SIC, Carlos Moedas insistiu que demitir-se seria uma cobardia, mas Bruno Mascarenhas falou em "desresponsabilização". Alexandra Leitão contestou que tenha existido um aumento de despesa com a manutenção do elevador da Glória, João Ferreira atacou em todas as frentes.
O cabeça de lista da CDU (coligação PCP/PEV) à Câmara de Lisboa nas próximas autárquicas, João Ferreira, acusou PSD e PS de "aprovação irrestrita de hotéis", inclusive em antigo património público, o que contribui para a especulação imobiliária.
"Ninguém vai ouvir da CDU que a câmara pode, por si só, resolver o problema da habitação em Lisboa. A dimensão e gravidade do problema é tal que exige uma robustez de políticas nacionais, não só em Lisboa, mas no conjunto da área metropolitana", afirmou o comunista João Ferreira.
O cabeça de lista da CDU falava no âmbito do debate, organizado pela SIC, com candidatos à presidência da Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de 12 de outubro, que contou também com Carlos Moedas (PSD/CDS-PP/IL), Alexandra Leitão (PS/Livre/BE/PAN) e Bruno Mascarenhas (Chega).
Com o compromisso de aumentar a oferta da habitação pública para 20% a longo prazo, a socialista Alexandra Leitão disse que pretende construir "cerca de 4500 fogos", defendendo que a construção municipal "deve ser acelerada", nomeadamente com os projetos no Alto do Restelo, Marvila e Tapada das Necessidade.
A candidata pela coligação PS/Livre/BE/PAN defendeu que é preciso mobilizar "público, privado e cooperativo", dar uma majoração aos privados que aceitem pôr 20% em arrendamento acessível e aproveitar os imóveis devolutos na cidade.
Carlos Moedas, que se recandidata à presidência da Câmara de Lisboa pela PSD/CDS-PP/IL, disse que a filosofia do PS na câmara foi "fazer tudo para bloquear" quando eram projetos com privados, dando como exemplos a construção de renda acessível no Parque das Nações e em Benfica.
"Qual era renda?", interpelou Alexandra Leitão, tendo ela mesmo respondido que para um T3 - 1.375 euros, T2 - 1.150 euros e T1 - 900 euros, considerando que estes valores "não são renda acessíveis".
Afirmando que o investimento na habitação durante este mandato "não tem paralelo com o que foi feito anteriormente", contando com 560 milhões de euros, Carlos Moedas destacou a entrega de 2.800 chaves e o apoio a 1.300 famílias no pagamento da renda.
Alexandra Leitão considerou "muito falacioso" o número das 2.800 chaves, porque, destas, "1.274 estavam em construção" quando Carlos Moedas chegou ao executivo, além de que outras são a rotatividade normal nos bairros municipais.
O social-democrata indicou que quando chegou à câmara, em 2021, havia 256 casas em construção para renda acessível e "neste momento estão quase 1.000" a ser construídas, referindo que durante 10 anos, entre 2010 e 2020, se construíram em Lisboa à volta de 20 fogos por ano.
"Tivemos uma crise enorme que foi criada por uma estagnação", apontou Carlos Moedas, sublinhando que agora estão a ser projetadas "mais de 5.000 casas", em terrenos que estão há anos completamente parados, como o Vale de Santo Antonio e o Vale de Chelas, assim como 700 casas para jovens nos bairros históricos.
Sobre o afastamento da atual vereadora da Habitação, Filipa Roseta (PSD), que não é candidata nas autárquicas, o social-democrata desvalorizou, referindo que vai continuar "com uma equipa refrescada".
Bruno Mascarenhas, candidato do Chega, defendeu que 50% dos inquilinos municipais passem a ser proprietários, a desocupação de casas ocupadas ilegalmente e a resolução do problema de rendas em atraso, em que se regista uma dívida total de 45 milhões de euros, criticando PS e PSD: "Estes senhores estão cá há 50 anos e não apresentam soluções. […] A única alternativa que existe é de gente sem vícios, é de gente que não está refém dos aparelhos partidários."
O Chega quer ainda construir 4500 casas de rendas acessíveis, com T2 a 700 euros, em que a disponibilização das mesmas deve "privilegiar jovens portugueses".
Da CDU, João Ferreira defendeu o aumento do parque de habitação público, para aumentar a oferta e exercer um efeito de contenção sobre o mercado, aproveitando terrenos municipais e património municipal disperso.
O comunista sublinhou a importância da revisão do Plano Direto Municipal para "travar a aprovação irrestrita de hotéis", em que "Carlos Moedas agiu mal, mas não esteve sozinho", a criação de uma via verde urbanística para habitação não especulativa na câmara municipal, e o aproveitamento das 48 mil casas vazias em Lisboa, em que "só seis mil a sete mil" tem o IMI agravado.
A regulação do alojamento local foi também tema, com PCP e PS a acusarem Carlos Moedas de inação, tendo este responsabilizado os socialistas pela desregulação do mercado.
Concorrem à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de 12 de outubro: Carlos Moedas (PSD/CDS-PP/IL), Alexandra Leitão (PS/Livre/BE/PAN), João Ferreira (CDU-PCP/PEV), Bruno Mascarenhas (Chega), Ossanda Líber (Nova Direita), José Almeida (Volt), Adelaide Ferreira (ADN), Tomaz Ponce Dentinho (PPM/PTP) e Luís Mendes (RIR).
Atualmente, o executivo municipal integra sete eleitos da coligação "Novos Tempos" - PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança, sete eleitos da coligação "Mais Lisboa" - PS/Livre, dois da CDU e um do BE.
