Habitação, saúde, segurança (e uma Cova da Moura como pano de fundo): as prioridades dos candidatos à Amadora para as autárquicas
Há sete candidatos à Câmara Municipal. A maioria são filhos da terra, outros moram lá há largos anos. O concelho está nas mãos do PS desde 1997, quando retirou o lugar ao Partido Comunista
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A menos de um mês das eleições autárquicas, a TSF falou com os candidatos à Câmara Municipal da Amadora, para saber os temas que pesam mais nas agendas de cada um para o próximo mandato, caso sejam eleitos. Ao todo, sete candidatos concorrem à liderança do município.
Vítor Ferreira (PS)
Comecemos pelo incumbente. Vítor Ferreira, atual presidente, não foi eleito diretamente em 2021, entrando para substituir Carla Tavares, que se mudou para o Parlamento Europeu. Agora, o arquiteto concorre em nome próprio, pelos socialistas, e, se for eleito, e quer começar pela habitação: “Sou arquiteto de formação e tenho uma paixão enorme pelas questões da habitação (um problema a nível nacional). Há também as questões que se prendem com a saúde, com a segurança e com o ambiente. Todas estas áreas são estratégicas para o futuro mandato”, assegura.
João Pimenta Lopes (CDU)
A mesma prioridade tem a CDU. João Pimenta Lopes chega do Parlamento Europeu, onde era deputado até julho de 2024, e quer também construir novas casas, antes de mais nada, mas começa por deixar uma crítica direta aos socialistas. “Há traços que não mudaram, nem neste último ano, nem nos últimos quatro ou sequer nos últimos oito. Se tivesse de elencar alguns, ou os principais, neste caso, diria que houve um desligamento muito concreto e muito real daquilo que são as necessidades concretas sentidas pelas populações, bem como um abandono e desvalorização da cultura e do desporto (que tiveram marcas significativas na Amadora), terciarizando cada vez mais essas iniciativas”, lamenta o candidato.
Hugo Lourenço (Livre)
Uma crítica deixada também pelo Livre, o estreante na corrida à Câmara Municipal. Hugo Lourenço mora na Damaia há quase dez anos e é o candidato a autarca. Quer deixar uma boa primeira imagem e, sobretudo, ouvir mais os amadorenses. “É preciso dar um salto grande no que diz respeito à participação cidadã. Isso implica uma Câmara mais aberta aos seus cidadãos, comunicando mais vezes e convocando-os para assembleias de freguesia e de bairro”, exemplifica.
Eduardo Conceição (Iniciativa Liberal)
A mesma lógica segue Eduardo Conceição, candidato pela Iniciativa Liberal. Viveu sempre no concelho, é um estreante absoluto na vida política e quer fazer disso a sua arma, enquanto cidadão comum, mas antes de prometer seja o que for, quer chegar à Câmara e arrumar a casa. “A primeira medida será, efetivamente, uma auditoria externa às finanças da Câmara. Tenho de saber exatamente o que existe para que, a partir daí, seja possível começar a trabalhar para mudar a Amadora e, concretamente, a Câmara Municipal da Amadora. E, a partir daí, uma coisa é certa: dentro daquilo que é possível, vai haver transparência e os munícipes vão poder saber o que se passa na Câmara Municipal da Amadora”, garante.
Rui Paulo Sousa (Chega)
O mesmo quer fazer o Chega, com Rui Paulo Sousa. O atual deputado em São Bento mudou-se para a Amadora há três meses. “A primeira ação vai ser, imediatamente, pedir uma auditoria às contas da Câmara nos últimos oito anos”, adianta. Depois, vem a segurança. “Sem dúvida que a videovigilância e os polícias serão prioridade”, acrescenta. Rui Paulo Sousa queixa-se ainda de que não se sente em Portugal quando caminha pela Amadora.
Anabela Rodrigues (Bloco de Esquerda)
Uma ideia bem diferente da cidade tem o Bloco de Esquerda. “Nasci na Amadora, em 1976, e isto [multiculturalidade] fez sempre parte da minha vida. Eu sei que isto é a Amadora. Acho que o candidato [do Chega] acabou de chegar e está confundido”, começa por dizer Anabela Rodrigues, natural do bairro da Cova da Moura.
Quanto a prioridades, não tem dúvidas: “A habitação, porque é o primeiro direito. Depois vem a questão da mobilidade, pois preciso de deslocar-me para trabalhar, preciso de deslocar-me para, pelo menos, cuidar de mim própria em termos de saúde, e a saúde não é só saúde física, mas também a saúde mental. Temos algumas questões de toxicodependência, de alcoolismo, de depressões que têm de ser trabalhadas também na própria cidade”, esclarece.
Associação dos Amigos da Damaia
Ouvimos ainda a Associação dos Amigos da Damaia, para saber um pouco do que pedem as pessoas, na Amadora. O espaço serve hoje de berçário, creche e jardim de infância, mas garantem, desde logo, que nenhuma criança consegue ir à escola se não tiver uma casa digna. “É óbvio que todas as crianças têm de ter acesso à educação, mas também têm de ter direito a um teto condigno, a uma cama para dormir. Atualmente, não é preciso ir muito longe para encontrarmos dezenas de pessoas a viver num mesmo espaço que não é habitação”, avisa Sara Faria, secretária da associação.
Cova da Moura, o elefante na sala
Sobre o bairro da Cova da Moura, um bairro ilegal num terreno quase todo privado, todos os candidatos ouvidos pela TSF são claros: a câmara não pode resolver o problema sozinha, sem a ajuda do poder central, e o PS acrescenta que muito menos pode este caso ficar resolvido já no próximo mandato. Garantem, sim, que as construções ilegais devem acabar (oferecendo soluções alternativas a quem lá vive) e que a prioridade é, antes de mais, garantir que a autarquia adquire mão sobre os terrenos.
A candidata do PSD, Suzana Garcia, já assegurou que é possível uma solução rápida para a Cova da Moura, mas a TSF ainda não conseguiu entrar em contacto com a advogada. As eleições autárquicas estão marcadas para o dia 12 de outubro de 2025.
