O primeiro investigador no terreno considera que houve cumplicidade "nas Forças Armadas". Já o ex-diretor da Unidade de Investigação Criminal da PJM diz que foi posto à margem da operação de descoberta do material militar.
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O capitão João Bengalinha, o primeiro investigador no terreno depois do furto de armas em Tancos, disse hoje aos deputados da comissão de inquérito que "houve ordens para que não houvesse ronda" no dia anterior ao furto.
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"O que nós apurámos foi resumidamente: rondas que não tinham sido feitas e que houve uma tentativa de esconder ordens que tinham sido dadas para não se fazer em rondas. Houve uma tentativa de alguém de esconder isso da PJM", disse o capitão Bengalinha.
Questionado sobre quem deu essa ordem, o capitão disse ter sido"alguém que era responsável pelas rondas no dia antes do furto" e "a título pessoal" mostrou-se convicto de que se tratou de "cumplicidade" nas Forças Armadas.
Em junho de 2017, o capitão João Bengalinha estava de piquete mas, adiante, cerca de um mês antes do "achamento" das armas na Chamusca, foi afastado das investigações e substituído por Vasco Brazão, o antigo porta-voz da Judiciária Militar e, entretanto, acusado pelo Ministério Público de encobrimento.
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Aos deputados, o capitão Bengalinha explicou que quem o "mandou ir de férias foi o coronel Luís Vieira, ex-diretor geral da Polícia Judiciária Militar".
"A justificação apresentada foi que eu estava muito cansado e que precisava de descansar quando eu refiro que teria os dois dias seguintes, sábado e domingo, para descansar e que seriam suficientes ele foi peremptório a dizer que não", explicou o investigador.
"Possivelmente pensariam que eu estava mais numa de colaboração, ou seja, a cumprir o despacho de colaboração institucional (com a Judiciária) e que seria uma persona non grata naquilo que estava a ser planeado, o achamento."
Noutra audição no Parlamento, o antigo diretor da Unidade de Investigação Criminal da Polícia Judiciária Militar manifestou a convicção de ter sido"posto à margem" da operação de descoberta do material militar de Tancos e acusou Vasco Brazão de o ter ultrapassado.
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Manuel Estalagem disse que foi "completamente surpreendido" com um telefonema do major Vasco Brazão, "às três da manhã" a informar que tinha tido uma informação de que havia uma caixa de granadas "à vista num baldio na Chamusca".
"Não sabia o que ia acontecer e quando ia acontecer", garantiu o coronel, dando a entender que, a ter havido um conluio entre outros investigadores da Polícia Judiciária Militar (PJM) para encenar a recuperação do material furtado, ele não foi informado para que não pudesse avisar a Polícia Judiciária.
"Faço dois ou três telefonemas, sou posto à margem. É-me dito que apareceu uma caixa e não me dizem mais nada. Nesta noite eu fui posto à parte", disse Manuel Estalagem.