Investigadora considera que falta "vontade política" para combater discriminação étnico-racial
"Se tudo continuar como tem estado nos últimos anos, aquilo que se pode prever é que estas desigualdades e a discriminação sistémica apenas se aprofundem", diz Adriana Albuquerque à TSF
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A investigadora Adriana Albuquerque, do Observatório das Desigualdades, do ISCTE, considera que o diagnóstico está feito e que só falta "vontade política" para combater a discriminação étnico-racial em Portugal.
"O que as investigações realizadas noutros países nos mostram é que quando a situação geral se degrada para a população em geral, estes grupos são, no fundo, os primeiros a sofrer esse impacto. Portanto, se tudo continuar como tem estado nos últimos anos, aquilo que se pode prever é que estas desigualdades e a discriminação sistémica apenas se aprofundem. Eu acho que neste momento, de facto, temos já bastantes diagnósticos e também bastantes provas daquilo que funciona noutros contextos. E parece-me que é uma questão de haver vontade política para começar a fazer essas mudanças e para começar a adaptar as políticas públicas para responder a estes problemas", afirma a investigadora, em declarações à TSF.
Mais de 1,2 milhões de pessoas já sofreram discriminação em Portugal, recordou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE), citando dados de 2023.
A cor da pele, o território de origem ou o grupo étnico foram os fatores que estiveram na base da discriminação sentida por quase meio milhão de pessoas, de acordo com os dados com os quais o INE assinala o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março.
Adriana Albuquerque considera que o que foi feito até agora é insuficiente: "A nível geral, as políticas sociais e as políticas públicas e têm dado, nos últimos anos, parece-me, uma resposta insuficiente àquilo que são desigualdades estruturais de todos os tipos. Portanto, o que estes dados, na minha opinião, demonstram é que na ausência de políticas públicas que, de facto, sejam estrategicamente direcionadas para a resolução das desigualdades estruturais, o facto depois, ainda por cima, de não haver políticas que sejam especificamente direcionadas para estes grupos mais vulneráveis do ponto de vista existencial, digamos assim, faz com que haja esta acumulação de desigualdades e discriminação que culmina na situação que temos e em níveis elevadíssimos de discriminação."
A investigadora afirma que há casos gritantes de discriminação em Portugal.
"Há uma desigualdade transversal e uma discriminação transversal sistémica, sem dúvida, mas também há claramente certos domínios em que essa discriminação e a desigualdade são gritantes, como é o caso da habitação, da educação, do emprego e do mercado de trabalho. Na verdade, o que estes resultados mostram é que, se nós fizermos a leitura da situação atual, nomeadamente, por exemplo, das desigualdades no acesso à habitação e das desigualdades a nível educativo, quando olhamos para os resultados do PISA, quando olhamos para a situação do mercado laboral, da precariedade de certos grupos de pessoas, como, por exemplo, as mulheres jovens, as pessoas mais velhas, nós, de facto, vemos que, a nível geral, as políticas sociais e as políticas públicas têm dado, nos últimos anos, uma resposta insuficiente àquilo que são desigualdades estruturais de todos os tipos", explica.
