Jardim pede a Rio que avance com a regionalização
Alberto João Jardim gostava que Rui Rio assumisse a regionalização como uma prioridade do partido. Em entrevista à TSF, avisa que esse é um passo decisivo para uma verdadeira descentralização.
Acha que a liderança de Rui Rio é uma rotura com o passado?
Com o passado recente sim, com o passado recente sim. Penso que pode ser uma rotura e é necessário que seja, tanto sob o ponto de vista ideológico, como do ponto de vista estratégico, como sob o ponto de vista de pessoas.
Do ponto de vista ideológico penso que é o voltar ao personalismo social-democrata que presidiu à fundação do partido, e é voltar à descentralização política que foi sempre a arma do PSD e que fez, durante muitos anos, que o PSD fosse um partido do poder local por excelência. Portanto, creio que vamos voltar a uma orientação política com caráter personalista social-democrata, o ultraliberalismo vai ao ar e penso, por outro lado, que o Rui Rio vai entrar no caminho da descentralização. Eu defendo uma forte descentralização para o país, sou federalista e gozo quando vejo lágrimas de crocodilo dizendo: "Ah, coitadinhas das terras do interior, não chega lá nada", "Ah, coitadas das províncias mais afastadas de Lisboa, estão marginalizadas", mas são muitos dos políticos de lá que vêm para Lisboa e para fazer carreira obedecem a Lisboa e não defendem os interesses das suas terras.
Acho que tem de se avançar para uma estrutura federal em Portugal, é a minha maneira de pensar. Então, essas lágrimas de crocodilo saltam logo, muito excitadas, e dizem: "O quê? Federalismo em Portugal? É um país tão pequeno!". Esquecem-se que a Suíça, sendo o país mais desenvolvido da Europa sob o ponto de vista cívico-cultural e sendo o segundo mais rico depois da Noruega - mas a Noruega tem petróleo e a Suíça não -, é muito mais pequena do que Portugal e o grande sucesso da Suíça veio da descentralização política. Esta descentralização não pode ser com estes arremedos de que o Governo da geringonça está para aí a falar; vão ver que a descentralização vai ser dar mais uns poderes aos municípios, mas também sobrecarregando-os com as despesas desses poderes que vão transmitir-lhes. Não há descentralização política em Portugal enquanto não se avançar numa regionalização do país no seu todo.
Rui Rio vai ter a coragem de assumir essa posição?
Ele é um homem pela descentralização, não apenas administrativa, mas política. Agora, eu não posso adivinhar o futuro. Eu desejo-o, agora garantir não garanto, que eu nem por mim ponho as mãos no fogo.
Se tivesse de escolher uma prioridade para Rui Rio, qual seria?
A prioridade para mim sempre foi a reforma do sistema constitucional. Como se sabe, é necessário o entendimento com o Partido Socialista. Penso que Rui Rio tem de pôr as coisas muito claras em cima da mesa.
Primeiro, tem de explicar aos portugueses por que é que as reformas são necessárias; fala-se delas, mas não se diz por que são necessárias. Tem de explicar bem por que é que é preciso fazer reformas constitucionais.
Em segundo lugar, encostar o PS à parede e dizer: "Os senhores fazem ou não fazem isto, sendo isto necessário para o povo português?" Se eles disserem que não fazem, então assumem as responsabilidades já nas próximas eleições.
Mas isso não foi o que Passos Coelho fez? Ele defendeu uma revisão da Constituição várias vezes.
Não. Passos Coelho defendia coisas avulso. Defendia leis avulsas. Nunca vi Passos Coelho a falar de revisão da Constituição. É engraçado, Passos Coelho sendo um homem iliberal nos costumes, é um conservador em termos de sistema de regime político. Falar em revisões constitucionais, alargamento de autonomia ou federalismo ou falar de regionalização do país, dava-me a impressão até pelos esgares, pelo histriónico do Passos Coelho, que isso lhe provocava grandes cólicas.
Leia e veja na íntegra a entrevista a Alberto João Jardim aqui.