João Ferreira acusa Moedas de "fuga às responsabilidades": é "incompreensível" que esclarecimentos sejam prestados após autárquicas
À TSF, o vereador comunista aponta que "aquilo que se exige" a um autarca, a partir do momento em que são levantadas dúvidas no espaço público, é que proceda "imediato à sua clarificação"
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O candidato do PCP à liderança da Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, acusa o atual autarca lisboeta de uma "lamentável fuga às responsabilidades", após Carlos Moedas ter convocado uma reunião extraordinária sobre o acidente no Elevador da Glória para o dia seguinte às eleições autárquicas.
O vereador comunista, que ressalva que o partido pediu esta segunda-feira de manhã o agendamento de uma reunião "o mais rapidamente possível" para discutir as "contradições que se tornaram públicas entre o que disse o presidente da CML e o Conselho de Administração da Carris e o que realmente terá acontecido" no acidente com o ascensor, considera "incompreensível" que Carlos Moedas só queira prestar esclarecimentos depois das eleições.
Convocar uma reunião de câmara extraordinária para o dia seguinte às eleições só pode ser entendido como uma lamentável fuga às responsabilidades que é até incompreensível. Estamos a falar de factos que vieram a público e que levantam dúvidas e preocupações fundadas sobre as condições de operação da empresa e dos serviços de manutenção que estão a ser assegurados.
Em causa está, nomeadamente, a "ocorrência de dois acidentes anteriores — em outubro de 2024 e maio de 2025 — que foram publicamente negados pelo presidente do Conselho de Administração da Carris e pelo vice-presidente da Câmara Municipal, mas que a própria Carris veio agora confirmar".
Além dos acidentes, existem outras informações a esclarecer, como a existência de uma carta da Comissão de Trabalhadores da Carris, enviada ao presidente da Câmara Municipal em 20 de setembro de 2023, alertando para “manutenção deficiente dos veículos”.
Em declarações à TSF, João Ferreira aponta que "aquilo que se exige" a um autarca, a partir do momento em que são levantadas dúvidas no espaço público, é que proceda de "imediato à sua clarificação".
Detalha, por isso, que é preciso esclarecer se já existiam queixas relativas ao funcionamento dos veículos da Carris, bem como o processo de seleção da empresa responsável pela manutenção do Elevador da Glória.
"Aquilo que nos foi dito, quer ao órgão Câmara Municipal de Lisboa, quer publicamente por mais de uma vez — e foi dito pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, pelo vice-presidente da câmara (com competências delegadas na supervisão da Carris) e pelo Conselho de Administração da Carris —, foi que até hoje não tinha havido nenhuma manifestação de preocupação. Nada tinha sido transmitido a respeito da segurança da operação por parte dos trabalhadores ou de organizações suas representativas", sublinha.
Contudo, argumenta, várias "reportagens emitidas nos últimos dias" provam que "não foi assim". Fala ainda numa carta que "terá sido enviada pela Comissão de Trabalhadores" a Carlos Moedas, "acompanhada de uma solicitação de reunião".
"Torna-se imperioso esclarecer esta questão", insiste.
No domingo, o PS, Livre, BE e Cidadãos por Lisboa avançou com um requerimento para uma reunião extraordinária da Câmara Municipal de Lisboa, em 25 de setembro, para obter "esclarecimentos sobre falsidades, omissões e incongruências" no âmbito do acidente do ascensor da Glória, disse à Lusa o vereador Pedro Anastácio. O objetivo, entre outros, é pedir acesso a alguns documentos, como esta carta, relatórios dos acidentes ocorridos em outubro de 2024 e maio de 2025 e os reportes de questões relacionadas com manutenção e segurança, dos últimos dois anos anteriores ao acidente.
Num esclarecimento enviado à agência Lusa, o gabinete do atual presidente do executivo lisboeta justifica a decisão de marcar a reunião camarária para 13 de outubro, o dia a seguir às eleições autárquicas, com a vontade de "não partidariza" o tema.
O elevador da Glória, sob gestão da Carris, descarrilou no dia 3 de setembro, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
