José Castro Carneiro: "Não adianta protestar como um leão e depois votar como um burro"
O Voto é a Arma do Povo: as primeiras eleições livres em Portugal fazem 50 anos e a TSF convida 25 personalidades a falar sobre o voto. Castro Carneiro foi um elemento importante para a revolução dos cravos no Porto: "Fiz o 25 de Abril com uma arma na mão. Têm de usar o voto como deve ser, a arma que vocês têm é essa"
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Nas crónicas da Revolução dos Cravos, raramente se conta o que aconteceu fora de Lisboa. Naquele 24 de Abril de 1974, José Castro Carneiro, capitão de Abril, teve a missão de prender o chefe do Estado-Maior da Região Militar do Norte. O agora coronel considera que o povo deve saber usar "a arma que tem": o voto.
"Eu fiz o 25 de Abril com uma arma na mão, não a disparei e teve cravos com todas as armas felizmente tiveram. Mas, neste momento, aquilo que eu penso é que são vocês, é a sociedade civil, que tem de usar o voto como deve ser, embora eu de algum jeito entenda que não somos assim um país tão grande nem tão poderosos que possamos estar sozinhos. Mas são vocês que têm essa arma e a arma que vocês têm essa. Portanto, ou a usam bem ou a usam mal", diz José Castro Carneiro à TSF.
Mas o capitão de Abril vai mais longe nas palavras: "Há bem pouco tempo, e é realmente uma coisa que eu digo, vi num jornal, penso que dali da raia de Espanha, que também há gente a pensar como eu: isto não adianta protestar como um leão e depois votar como um burro."
Castro Carneiro assume-se como um eleitor assíduo, mesmo que não esteja nas melhores condições. "Não falhei uma. Uma vez estava assim meio doente, mas fui na mesma. Às eleições vou sempre", garante.
No 25 de abril de 1975, o militar "esteve preso no quartel", porque estaria "de prevenção". "Penso que fizemos uma escala e eu fui votar na vez que me coube na escala. Julgo que se viveu muito bem, eu não tive problemas nenhuns", recorda.
O coronel portuense assume-se como um derrotado do 25 de Novembro. Este era o país que imaginava quando fez o 25 de Abril? "Não, nem nada que se pareça. Não sou daqueles que dizem que está pronto na mesma, nem nada que se pareça também, mas o 25 de Novembro, considero eu, é a minha opinião e expresso-a com clareza, foi realmente o destruir o 25 de Abril e tudo aquilo que se tinha construído até ali. E acabámos com uma série de coisas e continuamos a acabar com elas, incluindo a Constituição."
Depois de uma revolução quase sem sangue, Portugal está há 50 anos a utilizar a arma mais forte que o povo tem: o voto. A TSF desafia 25 personalidades a falarem sobre a importância da participação dos eleitores. Para ouvir todos os dias na antena da TSF de manhã, à tarde e à noite, e a qualquer hora em tsf.pt