Rui Tavares acusa ainda Montenegro de "ignorar os grandes desafios da atualidade", já que no seu discurso não houve espaço para temas como as alterações climáticas, a inteligência artificial e o alargamento da UE: "Não houve a palavra Ucrânia, nem a palavra Palestina"
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O porta-voz do Livre acusou esta quarta-feira o Governo de querer transmitir a ideia de que as conversas com os partidos sobre o Orçamento do Estado "não servem para nada" e de distribuir excedente orçamental entre os "que menos fizeram".
"Onde nos diz que quer fazer estes gastos e pretende manter as contas certas no orçamento, se já usou o excedente, o que nos está a dizer é que as nossas conversas de sexta-feira não servem para nada, porque está a dizer que já usou o dinheiro que tinha a usar", atirou Rui Tavares no primeiro pedido de esclarecimento ao primeiro-ministro, no debate sobre o estado da nação.
O porta-voz do Livre defendeu que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, está agir "como alguém que chega casa e diz 'eu gastei o dinheiro pagando o jantar aos meus amigos ricos'" e agora quer "discutir como é que gasta os restos" e defendeu um maior investimento em medidas como o IRS Jovem ou o passe ferroviário nacional.
Rui Tavares afirmou que o Governo não está a garantir a equidade na "utilização do excedente orçamental", fruto do "sacrifício de pessoas comuns deste país" e "que está a ser distribuído de mão beijada aos que menos fizeram".
O deputado lamentou ainda que, na sua intervenção inicial, o primeiro-ministro não tenha dirigido "uma palavra" a questões como a crise ecológica, a "revolução da inteligência artificial", o alargamento da União Europeia ou os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A intervenção de Montenegro "nem para um debate quinzenal serve".
Pediu também uma estratégia do Governo para posicionar o país no mundo "de uma maneira que não passe apenas por ter alguém num cargo de topo da União Europeia".
Na réplica, Luís Montenegro apontou que "não deixa de ter uma certa graça" o conjunto de matérias apresentados pelo Livre como em falta no discurso do primeiro-ministro, defendendo que se os mesmos tivessem sido abordados o Livre estaria a questionar sobre os temas nacionais como a educação, a saúde ou a habitação.
"O senhor deputado tem muito talento retórico, mas devia usar o seu talento para cair na real e para falar dos problemas que hoje afetam verdadeiramente o dia a dia dos portugueses e que são herdados de uma governação com a qual o senhor deputado de vez em quando até foi cúmplice", respondeu.
Em relação às questões levantadas por Rui Tavares sobre o uso do excedente orçamental, Montenegro questionou, com ironia, se o porta-voz do Livre sobre se estava contra a atualização dos salários das forças de segurança, professores, oficiais de justiça e profissionais de saúde.
"Eu já disse isto e vou dizer-lhe olhos nos olhos, é um esforço medonho. E é um esforço medonho que nós fazemos nos funcionários públicos, na administração pública, para valorizar a sua capacidade de atrair e de reter capital humano para servir o interesse da sociedade", concluiu.
