Livre ataca PAN por aliança com PSD. "Animais não querem saber" de esquerda ou direita, diz Sousa Real
O apoio do PAN ao Governo social-democrata na Madeira gerou uma troca de acusações entre Rui Tavares e Inês Sousa Real, num debate em que também a Justiça e a transição energética estiveram em grande plano.
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O Livre acusou, esta quarta-feira, o PAN de incoerência, por decidir apoiar o Governo do PSD na Madeira. No debate televisivo que colocou frente-a-frente Rui Tavares e Inês Sousa Real, o líder do Livre sublinhou que os partidos devem avisar os eleitores das intenções que têm.
"Incoerência há quando se diz que é possível apoiar um Governo na Madeira - que é um Governo que tem 48 anos de descaso com o ambiente, de desordenamento do território, e de maus-tratos a animais também - porque na Madeira não há touradas", declarou Rui Tavares, apontando que, durante a campanha eleitoral, o PAN não revelou "que iria apoiar esse Governo".
"Na Madeira, houve massacres da cabra das Desertas (...), a tiro e com veneno de ratos", apontou o líder do Livre.
Inês Sousa Real respondeu que "para os animais é indiferente" se o PAN está com a esquerda ou a direita e defendeu que o partido conseguiu que se recuperasse a credibilidade do Governo madeirense.
"O PAN teve uma atitude responsável de pedir a Miguel Albuquerque que se afastasse do poder, precisamente para que pudesse haver lugar à investigação, e achamos que isso é uma forma de recuperar a credibilidade das instituições, o que é absolutamente fundamental quando temos uma instabilidade política como a que atravessamos, quer a nível nacional, quer a nível regional", alegou.
A Justiça foi um dos grandes temas em cima da mesa, no debate. Apontando para o caso madeirense, mas também para a operação que levou à demissão do primeiro-ministro, Rui Tavares defende um grande debate nacional para levar a cabo reformas judiciais.
"É, evidentemente, mau que pessoas estejam privadas da sua liberdade durante três semanas, sem ainda termos uma decisão acerca do seguimento do processo", notou o líder do Livre, referindo-se à detenção do ex-autarca do Funchal, Pedro Calado, e dos empresários Avelino Farinha e Custódio Correia, arguidos no caso das suspeitas de corrupção na Madeira.
"O Ministério Público tem o direito de investigar, mas, em geral, o país exige mais transparência, mais responsabilização, mais participação dos cidadãos", defendeu, dirigindo, de seguida, críticas mais específicas à Procuradoria-Geral da República. "As responsabilidades não são assumidas. Por exemplo, em decisões que têm uma importância enorme para o futuro do país", como as suspeitas levantadas sobre o primeiro-ministro, António Costa, "que isso tenha sido dito através de um comunicado de um gabinete de imprensa".
"No século XXI, as pessoas merecem mais do que isto, merecem que o topo da hierarquia de um poder tão importante dê a cara e fale claramente com a dignidade e a celeridade possível", sublinhou.
Também Inês Sousa Real concordou que é preciso melhorar e que há "necessidade de haver uma maior comunicação" por parte da Procuradoria-Geral da República, que, defende, deve "explicar o que está em causa nos processos" e garantir que não existem "erros judiciais" que possam "leva a equívocos".
Mas, para a porta-voz do PAN, é também preciso "um reforço de meios" na Justiça, "ao invés de cairmos na tentação de estar a politizá-la".
Neste debate, também os temas ambientais estiveram, naturalmente, em destaque, com o PAN a defender que a aposta para a transição energética dever ser feitas através das energias renováveis, independentemente se a gestão destas é pública. Enquanto o Livre defendeu a exploração pública do hidrogénio verde, mas mostrou reservas quanto à exploração de lítio.