Livre organiza conferência no Parlamento para pressionar à taxação dos "ultra ricos"

O Livre organiza esta segunda-feira uma conferência na Assembleia da República sobre a tributação de "mega fortunas", alertando para injustiças na distribuição da riqueza e que alguns multimilionários "condicionam democracias".

A líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, recordou que o partido já apresentou propostas sobre o tema, todas chumbadas, mas garante que vai continuar a pressionar o Governo,

"Quando falamos de mega fortunas falamos das hiper mega super fortunas que existem a nível mundial. Esta é uma discussão que está na ordem do dia. Foi uma discussão que foi levada ao encontro do G20, que aconteceu no passado mês de novembro, porque nós vivemos uma situação como nunca houve na história em que temos uma concentração de riqueza na mão de algumas pessoas, que é completamente desproporcional em relação àquilo que as outras pessoas, todas do mundo têm", explicou, em declarações à TSF.

Acrescentou que atualmente existem multimilionários com "fortunas muito maiores do que as fortunas dos milionários de há cem anos" e lamenta a "desproporcionalidade de poder que vem com esta com esta riqueza extrema".

"Estou aqui a falar de um número muito pequeno de pessoas, três mil pessoas. Se 2% da riqueza dessas pessoas for taxada. Temos uma arrecadação de receita de cerca de 200 a 250 mil milhões de dólares que servem para combater a pobreza e a fome", defendeu.

A conferência, que se realiza no Parlamento, conta com um painel composto por intervenientes nacionais e internacionais, como os economistas Alison Schultz, Susana Peralta, Quentin Parrinello, Guilherme Mello (que participará à distância) e a eurodeputada pelo Partido Verde Europeu Benedetta Scuderi, além dos porta-vozes do Livre Rui Tavares e Isabel Mendes Lopes.

A líder parlamentar do Livre salientou, em declarações à Lusa, que esta é uma discussão que está na ordem do dia depois de o tema ter sido debatido em novembro na reunião do G20, no Brasil.

Nessa altura, à margem da cimeira, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou ter abertura para debater um imposto sobre os super-ricos, mas admitiu que nem Portugal nem o G20 estão "ainda em condições de assumir uma decisão" sobre essa matéria.

"O Governo sempre nos disse que 'Sim, é uma ideia interessante, mas temos de estudar.' E parece-nos que aqui não há grandes dúvidas: é preciso taxar as grandes fortunas e pagarem a cota justa que todos pagamos através dos nossos impostos, e isso tem de ser feito a nível mundial. De qualquer forma, a discussão pode ser feita também a nível nacional", salientou a deputada.

Foi por esta razão que uma das propostas que o Livre apresentou na discussão do Orçamento do Estado para 2025 foi a de estudar a criação a nível nacional de um imposto sobre "grandes fortunas" - que acabou por ser chumbada.

Isabel Mendes Lopes ressalvou que não estão em causa fortunas que uma parte significativa da população possa ter, quer através de heranças ou património, mas sim de "fortunas que são completamente difíceis de imaginar".

"Falamos, por exemplo, de Elon Musk [magnata e dono da rede social 'X'] ou de Jeff Bezos [fundador da Amazon], que têm fortunas superiores ao PIB de muitos países, e que com essa fortuna vem um poder que também condiciona depois o nosso dia-a-dia e as nossas democracias", realçou.

Apesar do chumbo da proposta na discussão orçamental, o Livre promete continuar a insistir no tema e mantém aberta uma petição que lançou em novembro com o objetivo de pressionar o Governo português a defender a "justa tributação" de grandes fortunas - e que até agora conta com cerca de 800 assinaturas.

As fortunas mundiais superiores a mil milhões de dólares aumentaram 121% entre 2015 e 2024 e o número de multimilionários passou de 1.757 para 2.682, segundo o relatório anual sobre grandes patrimónios elaborado pelo banco UBS.