Francisco Louçã, em entrevista à TSF, traça duas linhas vermelhas ao governo de António Costa - a entrada de capital privado na Caixa Geral de Depósitos, e a adoção de novas medidas de austeridade.
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O antigo líder do Bloco de Esquerda fala de uma fronteira que não pode ser ultrapassada na negociação do Programa de Estabilidade com Bruxelas. Francisco Louçã afirma que as políticas defendidas pela Comissão Europeia têm "uma lógica de destruição", que tem acumulado erros de forma sistemática, logo, "essa é a fronteira de uma negociação com Bruxelas que deve ser bem conseguida".
Questionado sobre se a negociação do PE pode ser um momento de teste para os apoios do governo, Louçã afirma que a "continuação da destruição" não pode ser permitida, "não por causa de um partido, mas porque pura e simplesmente Portugal não aguenta".
Outra das linhas vermelhas traçadas pelo antigo coordenador do Bloco de Esquerda passa pela entrada de capital privado na Caixa Geral de Depósitos. O banco público vai precisar de um reforço de capital no médio prazo, e como recebeu ajuda do Estado durante o período de ajustamento (dinheiro que ainda não devolveu), não poderá, de acordo com as regras europeias, voltar a receber fundos públicos. Este é um tema sensível, que terá estado na agenda do almoço do PR e do PM com Mário Draghi antes do Conselho de Estado, e que Louça deixa subentendido terá também feito parte de algumas das questões colocadas por conselheiros ao presidente do BCE.
Neste tema, Louçã é intransigente, afirmando que a privatização da Caixa seria "um disparate do ponto de vista da economia portuguesa, e um perigo para o sistema financeiro". O antigo líder do Bloco afirma, de resto, que "o governo só pode manter-se firme nesta matéria", não aceitando quaisquer pressões de Bruxelas ou de Frankfurt. "É um Rubicão que nunca poderá ser ultrapassado", diz Louçã nesta entrevista.
Francisco Louçã considera que o grande problema a resolver é a dívida pública e privada, e revela o que vai defender no grupo de trabalho sobre esse tema, um grupo que nasceu no acordo entre PS e Bloco para a formação do governo e que terá a primeira reunião na próxima semana. O economista, que nos últimos anos tem defendido uma reestruturação da dívida pública, afirma que o grupo de trabalho deve "olhar como muito detalhe o problema, para preparar alternativas de negociação muito bem pensadas". Louçã lembra o estudo que assinou com Pedro Nuno Santos e Ricardo Cabral, onde defendia uma reestruturação da dívida que colocasse, a prazo, o défice do país nos 0%, e afirma que um dos parâmetros dessa proposta, colocar os juros da dívida a 1%, é agora perfeitamente atingível devido à descida das taxas de juro.
Documentos do Panamá
A entrevista também passou pelos ficheiros que pertencem à empresa Mossack Fonseca, e que agora foram revelados publicamente. Francisco Louçã sublinha que se tratam dos documentos de apenas uma empresa "isolada" que opera "num dos offshores menos importantes" do mundo. O Conselheiro de Estado está mais preocupado com o que acontece nos paraísos fiscais "mais importantes" como a "Suiça, a Áustria, a Holanda e o Reino Unido".
Sobre o investimento de portugueses em offshores Francisco Louça argumenta que "o dinheiro saiu de Portugal, portanto ele está registado nas empresas financeiras portuguesas". Sendo assim, diz o antigo líder do Bloco de Esquerda, "nós precisávamos de saber quem é que enviou" para os vários paraísos fiscais dinheiro a "partir do sistema financeiro português".