O antigo dirigente do BE lembra os tempos em que o "bloco central" bastava. Louçã defende que é bom que, hoje, o Governo dependa "dos dois partidos da esquerda" mas não gostou das críticas do PCP.
Corpo do artigo
Francisco Louçã começa por puxar pela memória e recordar o ano em que o Bloco de Esquerda (BE) entrou no Parlamento, em 1999.
Nesse ano, era preciso regularizar dívidas do Serviço Nacional de Saúde o que motivou a apresentação pelo governo liderado por António Guterres, de um Orçamento retificativo. Houve consenso entre os partidos da esquerda e o retificativo foi aprovado.
"Foi muito raro, não voltou a acontecer até hoje mas não é certo que haja uma espécie de tabu que impeça que haja convergência sobre casos pontuais", lembra o então deputado bloquista.
Eram os tempos em que dominava o bloco central e em que os governos ora do PS ora do PSD aceitavam um ou outra alteração apenas "pelo simbolismo para poderem dizer que tinham aceitado uma proposta de um partido da direita ou da esquerda", regista Francisco Louçã.
"Hoje o Governo PS depende do acordo com dois partidos da esquerda e por isso a negociação é real", afirma o antigo dirigente do BE, sublinhando o "trabalho permanente" porque o "Orçamento não se negoceia na véspera".
Louçã considera "importante" que haja "muitos fatores de pressão" por parte dos "dois partidos da esquerda" mas não gostou de ler as palavras de João Oliveira, quando, num artigo no jornal "O Avante", o líder parlamentar do PCP acusou uns de "espalhar com as patas" enquanto "outros "juntam com o bico".
"Eu lamento sempre estas quezílias, acho tudo isto uma linguagem brejeira sem sentido. Essa política não vale. Mais vale preocupar com a força e não criar divisões artificiais. É preciso retirar da equação política portuguesa qualquer lógica de jogo de conveniências", diz Francisco Louçã.
Sobre a divergência de fundo entre o PS e as esquerdas a propósito dos compromissos europeus e da renegociação da dívida, o economista admite que o Governo "tem procurado utilizar todas as margens de manobra possíveis" mas são "sempre muito limitadas porque a maior despesa extravagante, é pagar 8 mil milhões de euros de juros de uma divida cuja taxa de juro implica que quanto mais pagamos, mais ficamos a dever", afirma o economista e antigo dirigente do Bloco de Esquerda.