Manifestações em Lisboa. "É gravíssimo que o primeiro-ministro se considere equidistante"
Os protestos de sábado, em Lisboa, subiram a debate n'O Princípio da Incerteza. Alexandra Leitão refere que a manifestação do Chega tinha "simbologia fascista", Miguel Macedo diz que a posição do partido de André Ventura relativamente às forças policiais é "perigosa" e Pacheco Pereira aponta o dedo à comunicação social
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A líder parlamentar do PS não entende como o primeiro-ministro se distanciou das duas manifestações que ocorreram, este sábado, em Lisboa. No programa da TSF e CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, Alexandra Leitão considerou que, sendo um protesto contra a ação realizada pela PSP, em dezembro, no Martim Moniz, e outro do Chega, Luís Montenegro deveria ter falado sobre o assunto, independentemente de ambas poderem ser consideradas "extremistas".
No sábado, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou que "os extremos saíram à rua". "Num dia onde os extremos erguem cada um a sua bandeira em contraponto, em conflito aberto para o outro, o da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, nós somos o elemento aglutinador de moderação", disse.
Para Alexandra Leitão, é "gravíssimo que o primeiro-ministro do nosso país se considere equidistante" relativamente às manifestações. A líder parlamentar socialista recordou que, "com mais ou menos exageros, uma tinha a ver com princípios que são normais: igualdade, liberdade, dignidade da pessoa humana, deveres iguais para todos, segurança, e as pessoas, se calhar, estão distraídas, mas a do partido Chega era uma manifestação de simbologia fascista, com camisas negras".
"No atual contexto em que o próprio Emmanuel Macron fala de uma 'internacional reacionária', um partido de direita moderada, como é o PSD, fundador da democracia em Portugal, dizer-se equidistante, deixa-me preocupada", afirmou Alexandra Leitão.
Já Miguel Macedo, antigo ministro da Administração Interna do PSD, sublinhou que a posição do Chega relativamente às forças policiais é "perigosa". "O Chega está a tentar fazer uma espécie de OPA política e partidária sobre as forças de segurança e isto é terrível para as forças de segurança, em primeiro lugar, mas para o conjunto da sociedade, em segundo lugar", referiu.
O ex-governante acredita que se "esta OPA política e partidária que o Chega tenta fazer" for "bem-sucedida do ponto de vista comunicacional", o que vai acontecer, "inevitavelmente, é uma espécie de deslegitimação da atuação da polícia perante determinados setores da sociedade".
"Isso não pode acontecer e, portanto, aquilo que se está a fazer: radicalizar, polarizar, passar uma mensagem subliminar de que quem não está com o Chega, não está com a polícia, não está com a segurança e não está com a ordem, é terrível a prazo para a sociedade", sublinhou.
Por seu lado, Pacheco Pereira aponta o dedo à comunicação social. "A comunicação social tem muita responsabilidade, até na maneira como identifica as manifestações. Não há duas manifestações, há uma manifestação e há um ajuntamento relativamente pequeno. A manifestação, independentemente dos temas e o conteúdo, é provavelmente a maior manifestação que houve em Portugal sobre aquelas questões, e é uma manifestação muito significativa, portanto não pode ser igualada às poucas centenas de pessoas que estiveram com o Chega", disse.
O historiador acrescenta que "quando se colocam no mesmo plano, metade do ecrã para uma, metade do ecrã para outra, o que se está a valorizar é a do Chega". "Não se passou a mesma coisa num caso e noutro. A manifestação "Não nos encostem à parede" teve dezenas de milhares de pessoas e a manifestação do Chega não deve ter chegado a 200 pessoas."
