Presidente da República entregou, no parlamento, o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa aos secretários-gerais da Cruz Vermelha da Finlândia, Kristiina Kumpula, e do Quénia, Abbas Gullet.
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O presidente da República alertou hoje, a Assembleia da República, para os perigos dos "populismos xenófobos e ultranacionalistas", defendendo que as fronteiras entre países não têm qualquer valor quando é preciso lidar com matérias como as migrações, o terrorismo ou as alterações climáticas.
A posição de Marcelo Rebelo de Sousa foi vincada durante a cerimónia de entrega do Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa aos secretários-gerais da Cruz Vermelha da Finlândia, Kristiina Kumpula, e do Quénia, Abbas Gullet - que foram distinguidos pelo trabalho humanitário e pela sua dedicação à causa da solidariedade mundial -, com o chefe de Estado português a questionar o porquê de se erguerem barreiras à entrada de seres humanos provenientes de países em guerra ou vítimas de incidentes trágicos.
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"De que serviram as fronteiras aquando da tragédia de Chernobyl? Por acaso elas pararam as nuvens radioativas vindas de leste? De que nos valeram as fronteiras quando um vulcão na Islândia mergulhou a Europa em cinzas e obrigou ao corte do tráfego aéreo? Para que erguemos barreiras à entrada de seres humanos, vítimas de guerras e de desastres trágicos?", perguntou.
E, depois de assinalar que devemos "estar conscientes das implicações globais de tudo quanto fazemos", o presidente da República acrescentou: "As fronteiras, linhas artificiais que os Estados traçaram ao longo dos séculos, não têm qualquer valor quando lidamos com fenómenos como as migrações, os refugiados, o tráfico de seres humanos, as tragédias humanitárias, o terrorismo, a criminalidade transnacional, as alterações climáticas e outras ameaças ao planeta".
Durante o discurso que encerrou a cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa considerou ainda que no "tempo da globalização, em que tantas vezes se privilegia o contacto entre a Europa e as potências asiáticas" é essencial "fomentar o encontro, o diálogo, a convergência, permanentemente, com o hemisfério sul do planeta".
A propósito dos perigos dos nacionalismos e extremismos também falou a secretária-geral adjunta do Conselho da Europa, Gabriella Battaini-Dragoni: "A xenofobia, o nacionalismo e as políticas populistas estão a crescer, enquanto durante anos estiveram dormentes. A confiança nas instituições está a degradar-se, frequentemente em resultado de uma intenção deliberada daqueles que procuram ganhos a curto prazo".
Galardoados assinalam trabalho dos voluntários de todo o mundo e querem servir de "inspiração"
Foi depois de um aplauso por parte de dezenas de responsáveis políticos e de organizações humanitárias presentes no parlamento português que Marcelo Rebelo de Sousa entregou o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa 2017 à secretária-geral da Cruz Vermelha finlandesa, Kristiina Kumpula, e ao secretário-geral da Cruz Vermelha do Quénia, Abbas Gullet, ambos distinguidos pelo trabalho humanitário e pela dedicação à causa da solidariedade mundial.
Antes, na sua intervenção, a finlandesa - que é também presidente da Federação Internacional de Sociedade da Cruz Vermelha -, já tinha afirmado que a distinção é o reconhecimento do "trabalho diário dos voluntários" nos hemisférios norte e sul, sublinhando que se trata de uma tarefa que "muitas vezes fica invisível, mas que põe em prática valores essenciais para combater as ameaças aos direitos humanos".
"O trabalho voluntário não pode resolve problemas estruturais, pobreza ou desigualdades, serve, sobretudo, para dar coragem e esperança às populações", disse ainda Kristiina Kumpula, que destacou ainda o papel das mulheres no trabalho humanitário à escala global: "Este prémio é uma oportunidade de trazer ao de cima as competências e direitos das mulheres".
Já o queniano Abbas Gullet, num discurso mais breve, apelou a que o prémio sirva de "inspiração" a outras pessoas, saudando os voluntários que "todos os dias arriscam as suas vidas". O secretário-geral da Cruz Vermelha do Quénia disse ainda esperar que os voluntários sejam "agentes da mudança", tentanto alterar alguns comportamentos nas sociedades em que estão presentes.
Todos os anos, desde 1995, o Conselho da Europa atribui o Prémio Norte-Sul a duas personalidades distintas que que tenham mostrado um empenho de excelência na defesa e promoção dos Direitos Humanos, pluralidade democrática, desenvolvimento do diálogo intercultural e reforço da solidariedade entre norte e sul.