Marcelo aponta aos críticos. Rejeita estar "caquético" e avisa que ter razão antes do tempo "tem um preço"
Em duas horas de aula, na Universidade de Cabo Verde, o Presidente da República pegou no microfone e percorreu o auditório.
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A mensagem fica nas entrelinhas, mas Marcelo Rebelo de Sousa deixa vários recados, sem nunca se referir, diretamente, ao debate sobre as reparações históricas às antigas colónias: ter razão antes do tempo “tem um preço” e avisa os críticos que não está “caquético”.
Marcelo Rebelo de Sousa está no Palácio de Belém desde 2016, vestindo o fato de Presidente da República, deixou de ter idade para lecionar há seis anos, mas voltou, em Cabo Verde, a vestir as vestes de docente.
“Ser professor não tem limite de idade. O professor é professor toda a vida”, acrescentou.
A aula foi sobre “democracia em tempos de crises”, onde Marcelo Rebelo de Sousa identificou as virtudes da liberdade em contraste com as ditaduras, avisando que, no futuro, “o habitual será o conflito” e a “exceção será a paz”.
Em duas horas de aula, na Universidade de Cabo Verde, o Presidente pegou no microfone e percorreu o auditório, mas nem uma palavra sobre as reparações históricas que marcaram os três dias de viagem. No final deixou, no entanto, uma mensagem implícita.
“Sabem qual é o risco de falar em público antecipando coisas? Ter razão antes do tempo, normalmente, tem um preço”, atirou.
O “preço”, neste caso, foi a polémica que dura há já uma semana. O Presidente da República foi acusado de ser “o pior” em democracia e de “traição aos portugueses” por abrir o debate sobre o tema.
Para bom entendedor, meia palavra basta. E, para os jovens que encheram o auditório para ouvir o Presidente português, ficou ainda um conselho: o que não fizermos, não podemos esperar que os outros façam.
“Uma coisa que retenho da minha juventude é que aquilo que não fizermos, não é boa ideia esperarmos que os outros venham a fazer por nós. Devemos contar com o apoio dos outros, mas aprendi isto: o caminho faz-se caminhando”, disse.
E os jovens devem “exigir, propor, antecipar e lançar” os temas para a discussão, tal como fez o Presidente da República sobre as reparações históricas às antigas colónias que, uma semana depois, ainda são tema de conversa.
A resposta que "não agrada" aos críticos
Marcelo Rebelo de Sousa também não se esqueceu dos críticos, que até colocam em causa a sanidade para as funções de chefe de Estado. Certo é que o Presidente da República sente-se “jovem”.
“Entrei aqui com quase 76 anos e saio com menos 25. Cada vez que tenho oportunidade de dar uma aula, ganho em idade e em forma física. Não sei se é uma boa ideia para quem acha que devia estar mais caquético ou velho. Em qualquer caso, tem hoje uma resposta que, essencialmente, não agrada. Junto de jovens, sinto-me ainda mais jovem”, respondeu.
Uma resposta aos críticos da última semana quem tem colocado em causa as palavras de Marcelo num encontro com jornalistas estrangeiros a exercer em Portugal. Veremos se o tempo dá razão ao Presidente da República.