Marcelo ataca "moda" da "corrida liberal": "Capitalismo era uma raiz das desigualdades da pobreza, mas já se globalizou"
"Numa sociedade em que há dois milhões, que pode chegar até perto de três milhões de pessoas, que são cidadãos de segunda classe, não há crescimento sustentável, nem há resolução de desenvolvimento por via de um crescimento só daquela parte privilegiada da sociedade. Não é possível", diz o Presidente da República
Corpo do artigo
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, atacou esta quarta-feira a "moda" da "corrida liberal e ultraliberal" assumindo que o capitalismo é uma "raiz das desigualdades da pobreza" e que esse fenómeno deixou de ser local para se globalizar.
"O sistema capitalista é um sistema inigualitário (...) Eu comecei por dizer que o capitalismo era uma raiz das desigualdades da pobreza. Mas hoje acho que isto já se globalizou", disse o chefe de Estado num debate em que participou no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa e que visava homenagear o antigo ministro Alfredo Bruto da Costa, político e estudioso da exclusão social, que morreu em 2016.
O Presidente da República vai mais longe e bate de frente com a onda liberal: "Ora, salvo melhor prova em contrário, que ainda não encontrei, essa corrida liberal e ultraliberal, além de ser injusta a nível local, regional e nacional, é injusta a nível global e cria problemas muito complicados em termos de reversibilidade. Mas é uma moda, é uma moda que existe e essas modas podem ser mais longas, menos longas. Espera-se menos longa do que mais."
Nesta viragem à esquerda no discurso, nem os conceitos de produtividade e competitividade escaparam às críticas de Marcelo Rebelo de Sousa.
"Vamos lá ver: a produtividade, a produtividade, a competitividade, a competitividade. Tudo isso muito bem, mas estamos a falar de que pessoas de carne e osso. Competem. Quem contra quem? ‘Com os países, competem com os países e tal. É muito importante ver a comparação com outros países.’ Mas outros países que nível educativo tiveram, têm e vão tendo?", questiona.
Para Marcelo, "numa sociedade em que há dois milhões, que pode chegar até perto de três milhões de pessoas, que são cidadãos de segunda classe, não há crescimento sustentável, nem há resolução de desenvolvimento por via de um crescimento só daquela parte privilegiada da sociedade", considerou, dizendo que "não é possível".
Assim, o Presidente da República deixa um apelo para o combate à pobreza: "Tem que ser um militante da mudança. É difícil? É, porque se não é prioridade dos grandes protagonistas políticos e é difícil. Se é prioridade de protagonistas sociais, mas que perderam peso, perderam representatividade, é mais difícil. Enfraquecimento sindical significa, portanto, agravamento da situação da pobreza."