Marcelo considera que Governo “não pode ir aos bairros” da Grande Lisboa sem "assumir compromisso concreto"
O chefe de Estado "respeita" que o Executivo "entenda que há de haver uma ocasião melhor para, em conjunto com os autarcas, aparecer"
Corpo do artigo
O Presidente da República considerou esta terça-feira que o Governo não pode ir aos bairros "sem levar uma ideia” para transmitir aos moradores. Marcelo Rebelo de Sousa esclarece ainda que a sua visita ocorreu porque não tem “poderes executivos”, pelo que não tem de assumir “um compromisso concreto”.
“Não é não querer ir. O Governo contactou as associações e as associações tiveram uma reunião no começo da semana. Eu admito que o Governo não possa ir aos bairros sem levar uma ideia para falar com os bairros. Eu vi ontem o líder da oposição, que foi ouvir os bairros - e muito bem -, mas a posição da oposição toma opções de princípio, não assume compromissos concretos. O Governo não pode chegar lá e não assumir compromissos concretos”, explicou, em declarações aos jornalistas.
O chefe de Estado assumiu ainda que "respeita" que o Executivo "entenda que há de haver uma ocasião melhor para, em conjunto com os autarcas, aparecer. É uma decisão do Governo", disse, considerando que as últimas semanas estiveram repletas de acontecimentos devido aos tumultos e homenagens prestadas a Odair Moniz, que foi baleado mortalmente por um agente da PSP, no bairro da Cova da Moura, na Amadora.
"Eu admito que um Governo quando vai encarar uma situação daquelas tenha de ter uma ideia sobre as medidas que vai ou não anunciar", disse.
Marcelo Rebelo de Sousa esclareceu igualmente que informou o primeiro-ministro da sua visita, sem, contudo, ter dito "à segurança" ou prevenido "nenhuma autoridade".
"Só disse ao presidente da câmara quando estava mesmo a chegar para ser mais genuíno e natural. A minha ideia não era ir decidir o que quer que fosse, mas era medir um bocadinho o pulso da situação", explicou.
Por querer estar à vontade para "ouvir e ouvir", Marcelo preferiu visitar sozinho os bairros da Cova da Moura e do Zambujal, também na Amadora, sem membros do Governo, até porque não tem "poderes executivos": "Não ia estar a prometer, a fazer e a acontecer."
"Não combinei coisa nenhuma neste sentido. O senhor primeiro-ministro recebeu a minha comunicação, eu perguntei se se opunha, ele disse que não se opunha, não tinha objeção", garantiu. Estas declarações surgem após fonte do Governo ter avançado na segunda-feira à TSF que o Governo e a Presidência da República tinham decido em conjunto que o chefe de Estado iria sozinho, o que acabou por acontecer na sexta-feira.
O Presidente da República contou igualmente que a sua "ideia era ir primeiro ao bairro do Zambujal", nomeadamente "à esquadra da PSP, para medir a temperatura em relação à situação, à interpretação da PSP". Apenas posteriormente seguiu no "convívio com as pessoas", acrescentou.
No fim do jantar, decidiu ir também à Cova da Moura ainda nessa mesma noite. Foi aí que falou com a família de Odair Moniz, através de uma chamada que o presidente da câmara da Amadora, Vítor Ferreira, realizou.
"Falei com a irmã da viúva - a cunhada -, que disse que tinha a irmã ao lado e apresentei os meus pêsames", disse, completando que falou também com a mãe do motorista que ficou ferido devido aos tumultos na Grande Lisboa.
"Tenho estado em permanente ligação com o diretor nacional da PSP, para saber como é que se encontram os dois jovens agentes [envolvidos na morte Odair Moniz] e como estão a reagir", acrescentou ainda o Presidente da República.
