Marcelo explica que Portugal reconheceu agora a Palestina por "ter havido uma aceleração da corrida para o abismo"
O chefe de Estado argumenta que "esperar mais era só atuar num momento em que já não valia a pena, porque estava consumado o facto de um só Estado", o de Israel
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O Presidente da República deu esta segunda-feira múltiplas entrevistas nos jardins da ONU, primeiro à comunicação social portuguesa e depois a jornalistas de vários países, que o abordaram, a quem explicou a posição portuguesa sobre a Palestina.
Em declarações à comunicação social portuguesa, questionado sobre a discordância do CDS-PP em relação ao reconhecimento do Estado da Palestina, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que essa matéria "não fazia parte do acordo" de coligação de Governo com o PSD e que isso mesmo "foi dito pelo próprio CDS".
"Portanto, a coligação continua a cumprir a sua missão em termos institucionais de estabilidade", acrescentou o chefe de Estado, que frisou estar sempre atento a "saber se há alguma coisa que ponha em causa a coligação no poder".
Marcelo Rebelo de Sousa foi também questionado sobre o facto de ter sido o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, a fazer a declaração formal de reconhecimento da Palestina por parte de Portugal, e não o primeiro-ministro, Luís Montenegro.
"O senhor ministro foi o porta-voz do Governo por uma razão muito simples: porque se entendeu, e bem, que [a declaração] devia ser nas Nações Unidas", justificou o Presidente da República.
Depois, adiantou que irá discursar esta segunda-feira em representação de Portugal na Conferência de Alto Nível sobre a Palestina organizada em conjunto pela França e pela Arábia Saudita, e comentou: "Se formos comparar hierarquias, bom, o Presidente da República é o órgão, hierarquicamente, em termos políticos, mais elevado a ter falado dessa matéria."
Vários jornalistas de órgãos de comunicação social estrangeiros, incluindo do Paquistão, da China e do Brasil, foram-se juntando para ouvir e também fazer perguntas a Marcelo Rebelo de Sousa e, terminadas as declarações, alguns continuaram a interpelá-lo enquanto se ia embora, caminhando pelos jardins da sede da ONU em frente ao rio East.
O Presidente da República foi respondendo a todos e, sobre o reconhecimento da Palestina, resumiu desta forma "a razão pela qual esta decisão foi tomada por Portugal e por outros países agora", em resposta a uma jornalista brasileira: "Foi o facto de ter havido uma aceleração, nos últimos anos e meses, no sentido da corrida para o abismo."
"O abismo era não deixar haver espaço para a criação de dois Estados", prosseguiu, argumentando que "esperar mais era só atuar num momento em que já não valia a pena, porque estava consumado o facto de um só Estado", o de Israel.
"Nós entendemos que era uma última tentativa que se fazia quando ainda há um espaço, pequeno, mas um espaço para a paz e uma oportunidade para a paz e para a justiça duradoura e a vida justa de tantos e tantos e tantos homens e mulheres, de carne e osso, que vivem naqueles países para poderem sonhar um futuro melhor", completou.
Mais à frente, Marcelo Rebelo de Sousa falou em inglês para um canal televisivo chinês e aproveitou para reforçar a mensagem deixada pelo primeiro-ministro português ao Presidente Xi Jinping de que "a China pode, com o poder de influência que tem, ter um papel, um papel importante na construção da paz na Ucrânia".