Mário Soares "sabia o que queria na vida" e à mesa: "Adorava um bom bife a cavalo, pastéis de bacalhau e favas"
Para Vitor Ramalho, Mário Soares era dotado de uma "grandeza" que "faz muita falta neste momento". Mais do que um "verdadeiro socialista democrático, era mesmo um homem bom"
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O antigo Presidente da República Mário Soares "sabia o que queria na vida", mas também à mesa, onde era um "verdadeiro português": "Adorava um bom bife a cavalo, pastéis de bacalhau e favas." Quem o diz é Vitor Ramalho, autor do livro 'Crónica de Uma Amizade Fixe'.
No ano em que se comemora o centenário do nascimento de Mário Soares, o também advogado recorda, na TSF, o homem que tinha "um sorriso largo de quem ama a vida", razão pela qual "gostava de boa comida".
"Para ter ideia, um dia, um embaixador amigo em Paris português, claro, na nossa embaixada, manifestou-lhe a felicidade por ele estar lá, porque o cozinheiro lhe tinha preparado para o almoço, um repasto que ele considerava de requinte, salmão e arroz de pato, que ele não apreciava de todo nem um, nem outro. Se havia comidas que ele não gostava, era essa, e pediu para o cozinheiro ser chamado à sua presença. Agradeceu-lhe a gentileza de ter confecionado essa comida e pedia-lhe que fizesse dois ovos estrelados e um bife bem à portuguesa", conta.
Era também à mesa que o socialista "reunia pessoas amigas", entre "tertúlias", nas quais se "debatiam temas de toda a natureza". Um "leitor compulsivo", com uma biblioteca que contava com mais de 50 mil livros, Soares, desde cedo, "optou, com muita coragem, pela via política".
"Ele sabia o queria na vida. O pai sempre acreditou que o filho tinha condições e características próprias para se afirmar na vida e sempre teve essa noção premonitória e fê-lo acompanhar de professores de eleição no Colégio Moderno, mesmo fora da escolaridade, como Agostinho da Silva, por exemplo, o grande filósofo, que lhe dava aulas acompanhando no Jardim do Campo Grande, onde ele já morava na altura. Por isso que ele sempre teve uma invulgar cultura", sublinha.
Já no final da sua vida, lembra, Mário Soares "foi um lutador", tendo resolvido candidatar-se novamente ao cargo da Presidência da República, um gesto que prova a "sua grandeza".
"Depois de ele perder as eleições estive sempre com ele. Fui ter no outro dia logo de manhã com ele, como sempre, e perguntei-lhe: 'Então, o que é que sente?' E ele disse 'Olhe, sinto-me a olhar para o futuro'. 'Então mas e isto que se passou?'. 'Isso é o resultado da democracia: perde-se num dia, ganha-se no outro'", revela.
É este espírito que leva o advogado e amigo do fundador do a PS a reconhecer a "grandeza de Soares", um símbolo que "faz muita falta neste momento".
"Era um homem de ideário, um verdadeiro socialista democrático. E um homem que, olhe, um homem bom, era mesmo um homem bom", nota.
O ex-líder do PS nasceu em 7 de dezembro de 1924, uma data que será assinalada esta sexta-feira (6 de dezembro) com uma sessão solene na Assembleia da República, além de um vasto programa que irá estender-se até ao final de 2025, com várias iniciativas espalhadas pelo país. Na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, será feita este sábado uma cerimónia de apresentação do III volume da Coleção Obras de Mário Soares - "Escritos da Resistência".
Mário Soares foi uma das principais figuras da resistência ao regime do Estado Novo, primeiro-ministro de três Governos constitucionais (1976/1978, 1978 e 1983/1985) e chefe de Estado entre 1986 e 1996.
