Marques Mendes atira a visão de Gouveia e Melo, "própria de quem não tem experiência política e constitucional"
No dia em que Gouveia e Melo não desfez tabu sobre Belém, Marques Mendes aponta à visão do almirante na reserva sobre poderes do Presidente. "Pessoa com experiência política e da Constituição nunca diria uma coisa dessas", diz o candidato que não prevê quaisquer maiorias absolutas nos próximos "largos anos"
Corpo do artigo
Está aberta a época de tiro político ao almirante Gouveia e Melo. Depois de o constitucionalista Vital Moreira ou de António José Seguro terem apontado a uma visão "essencialmente errada" ou de "atropelo à Constituição" da parte do militar na reforma, eis que Luís Marques Mendes se junta ao coro: "É natural que diga isto quem tem pouca experiência política e da Constituição."
A falar numa sessão com alunos do Núcleo de Alunos de Ciência Política, no ISCTE, o candidato presidencial foi questionado sobre a visão de Gouveia e Melo que ficou bem patente no artigo que assinou, no passado fim-de-semana, no semanário Expresso. Aí, Gouveia e Melo notou que a quebra de promessas feitas pode ser um dos motivos para levar à queda de um Executivo.
Se, na segunda-feira, Marques Mendes preferiu não comentar o conteúdo e apenas "dar as boas-vindas à campanha presidencial", agora deu um passo em frente já depois de António José Seguro ou do constituinte Vital Moreira.
Questionado por um aluno do ISCTE, Marques Mendes é claro: "Quando se diz que pode haver uma dissolução do Parlamento porque o Governo governa mal ou porque não cumpre esta ou aquela promessa, eu acho isso um erro completo. É próprio de quem não tem experiência política e constitucional."
Para o antigo líder do PSD, "se um Governo governa mal e não cumpre promessas, o Presidente da República pode e deve chamar à atenção do primeiro-ministro e do Governo", mas "nem pensar" em "promover uma crise, fazer uma dissolução ou fazer eleições antecipadas".
"A Constituição não permite isso: seria uma irresponsabilidade, seria transformar o Presidente da República num fator de instabilidade e o que nós precisamos é de estabilidade. Essa situação, do meu ponto de vista, não foi abordada de forma correta, o que mostra bem que quando não se tem experiência política e constitucional, às vezes, dá mau resultado. E na Presidência da República saber lidar com a Constituição é essencial", completa Marques Mendes.
Ao longo de quase uma hora, repetindo as ideias que tem vindo a deixar públicas desde o arranque da "maratona" para Belém, Marques Mendes fez questão de salientar a experiência que tem, as visões bem conhecidas e o fator agregador que pretende trazer para o palco político se vencer as eleições de janeiro de 2026.
Já fora da sessão, questionado sobre se estas palavras são um erro de amador ou têm uma outra intenção maior, Marques Mendes apenas diz que "uma pessoa com experiência política e da Constituição nunca diria uma coisa dessas".
Maioria absoluta? "Isso foi chão que deu uvas"
Com sala cheia para o ouvir falar, Marques Mendes demorou largos minutos a apresentar a visão que tem para o país, repetindo que se vê como um construtor de pontes e enaltecendo a experiência política e pública que acumulou ao longo de toda a vida. Não deixou de abordar questões como a segurança e as perceções, o Serviço Nacional de Saúde (onde até diz que não há maior fã do que ele) ou a necessidade de um acordo de concertação social voltado para a melhoria dos salários.
Mas, perante um mundo em mudança, quis o anfitrião saber o que faria Marques Mendes num hipotético cenário futuro de maioria absoluta com um primeiro-ministro demissionário, algo que aconteceu efetivamente com António Costa na liderança do Governo.
Marques Mendes é taxativo: "O meu amigo acha que nos próximos anos vai haver uma maioria absoluta de algum partido? Eu sou um otimista, mas você ultrapassa-me 500%."
Para o candidato a Belém, uma "maioria absoluta de um só partido nos próximos anos" é "chão que deu uvas" e "ficção científica".
"Feliz ou infelizmente, goste-se ou não de maiorias absolutas, acho que a ideia de maiorias absolutas é uma ideia que acabou. Não estou a dizer que acabou por cem anos, mas nos próximos anos largos acabou", considera Marques Mendes, para quem a "tendência em Portugal e na Europa, inevitavelmente, goste-se ou não, é para haver entendimentos, alianças e coligações".