Medina considera que “se devia ter feito mais” para evitar eleições. Lamenta “corrosão” da democracia e apela: “Está nas ações de cada um reverter este caminho”
Na declaração de voto, a que a TSF teve acesso, o antigo ministro culpa Montenegro pela crise, mas não só
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Na terça-feira, Fernando Medina anunciou a entrega de uma declaração de voto quando os deputados do PS se levantaram para chumbar a moção de confiança ao Governo. No documento, a que a TSF teve acesso, o antigo ministro lamenta as terceiras eleições em três anos e entende que “devia-se ter feito mais para as evitar”.
“Um político com a larguíssima experiência política do primeiro-ministro não ignoraria que uma vez nomeado seria sujeito ao escrutínio mais profundo e necessário numa democracia, mas também às acusações e ataques mais injustos e indignos, e que a ambos teria de saber dar resposta. Neste concreto, as eleições não subsistem a resposta às questões, a todas as questões, das mais legítimas e necessárias às mais absurdas e mal-intencionadas”, escreve na declaração de voto.
A crise política “era claramente evitável”, na opinião de Fernando Medina, que incute no primeiro-ministro a maior parte da responsabilidade. Mas não só. Escreve que a atual crise demonstrou que o debate político “assente em suposições, insinuações e até calúnias continua a ganhar relevância”, mas não concretiza a quem se refere.
Escreve, no entanto, que os “alicerces fundamentais da convivência e disputa democrática estão corroídos”, desde logo, entre os principais partidos. E deixa o apelo: “Está nas ações concretas de cada um reverter este caminho”.
Fernando Medina nota também que “a realização de novas eleições num tão curto de espaço de tempo agravará os níveis de confiança dos portugueses na política e nos políticos”, até porque os protagonistas “podem aparecer desfocados dos mais centrais problemas que os cidadãos enfrentam”.
Sendo impossível antever qual será o desfecho das eleições legislativas, o antigo ministro antecipa que nenhum dos partidos vai conseguir governar em maioria e as “fragilidades políticas” de um futuro Governo continuarão a ser uma realidade. Ou, “pior, fique nas mãos da extrema-direita”.