Miguel Prata Roque à TSF: elogios a Pedro Nuno Santos, não tira tapete a Ricardo Leão e pede cautelas para coligações à esquerda
Miguel Prata Roque é candidato à sucessão de Ricardo Leão para a liderança da FAUL do PS. Uma contenda interna em ano de eleições autárquicas
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A sugestão foi do antigo ministro Pedro Adão e Silva, que lançou Pedro Nuno Santos a uma candidatura à câmara de Lisboa, e Miguel Prata Roque admite que “seria uma honra” para a capital. Rejeita, no entanto, entrar numa “feira de vaidades”, lançando putativos candidatos, e garante que não está na corrida à Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS para “colocar dificuldades” autárquicas ao partido.
Inicialmente, Miguel Prata Roque ia debater com Carla Tavares, na TSF, mas a também candidata, na véspera, deu um passo atrás e rejeitou o convite que inicialmente tinha aceitado. Sozinho, Miguel Prata Roque voltou a lamentar que a oito meses das eleições autárquicas, o PS ainda não tenha apresentado candidatos a Lisboa, o que considera “inaceitável”.
“É inaceitável que estejamos neste momento a oito meses das eleições autárquicas e que o PS não tenha ainda apresentado os seus candidatos às principais câmaras do país e, em especial, às câmaras da Área Urbana de Lisboa. Mas eu não vim para causar nenhuma dificuldade no processo autárquico. Pelo contrário, acho que temos que falar claro às pessoas, porque o PS perdeu a confiança das pessoas”, respondeu.
Quer isto dizer que Miguel Prata Roque não tem preferência pelo candidato do PS à câmara de Lisboa, que deve ser escolhido pelas estruturas locais em coordenação com o secretário-geral, e questionado se Mariana Vieira da Silva ou Duarte Cordeiro seriam bons nomes, responde apenas que “sim”.
Centrando-se em Pedro Nuno Santos, o tom não muda, embora considere “uma honra para qualquer federação ou para qualquer concelho contar com a candidatura do secretário-geral”. A decisão fica nas mãos de Pedro Nuno, até porque Prata Roque não quer “contribuir para essa feira de vaidades ou para esse desfile de candidatos”.
Já sobre o primeiro ano de mandato do secretário-geral do PS, o socialista desfaz-se em elogios “à responsabilidade” de Pedro Nuno Santos, que “tem colocado em primeiro lugar o interesse das pessoas”.
“Tem sido extremamente responsável, no sentido de perceber que à frente dos interesses imediatistas do PS de angariar mais um ou dois votos, está de facto o interesse do país e das pessoas. Foi assim que nós conseguimos eliminar as portagens nas antigas SCUT do interior e do Algarve, foi assim que conseguimos aumentar as pensões dos reformados, foi assim que nós conseguimos que a diminuição de IRS fosse mais acentuada para aqueles da classe média que recebem menos”, lembra.
Prata Roque quer primárias e “carta de missão” para autarcas
Miguel Prata Roque foi dos primeiros a criticar as palavras de Ricardo Leão, que admitiu despejar das habitações públicas de Loures os que participaram nos tumultos em Lisboa, o que antecipou as eleições para a FAUL. Ricardo Leão apresentou a demissão de presidente da estrutura apenas um mês depois de tomar posse.
O autarca de Loures tem via verde para apresentar a recandidatura ao concelho, e Miguel Prata Roque também não rejeita um novo mandato para Ricardo Leão, lembrando que os presidentes recandidatos têm o apoio do PS garantido à partida.
Apesar da polémica, Prata Roque não coloca um ponto final da vida política do autarca socialista, mas adianta que, se vencer as eleições internas, vai avançar com uma carta de missão estratégica, “que terá de ser cumprida por todos os candidatos a autarcas”.
“Não faz sentido que o PS tenha uma política de educação na Amadora e tenha uma política de educação diferenciada em Odivelas, ou que tenha uma política de ação social em Vila Franca de Xira e que tenha outra completamente distinta em Sintra”, defende.
Outra meta de Prata Roque é a introdução de eleições primárias no partido, não só para a escolha de candidatos autárquicos, mas também para que os eleitores comuns possam indicar alguns dos candidatos a deputados à Assembleia da República. Uma meta para cumprir depois das autárquicas deste ano.
“A minha intenção é que na próxima eleição para a Assembleia da República haja um número pré-definido de candidatos a deputadas e a deputados, que sejam eleitos através deste mesmo modelo de eleições primárias. A mesma coisa defenderei relativamente às eleições autárquicas de 2029, uma vez que tenciono cumprir um mandato de quatro anos, visto que tenho intenção de me recandidatar daqui a um ano e nove meses”, acrescentou.
Coligação à esquerda? “Não faz bem aos partidos que a sua mensagem seja confundida”
Ainda sem fumo branco nos diálogos à esquerda, Miguel Prata Roque não coloca de lado uma coligação entre o PS, o Bloco de Esquerda e o Livre em Lisboa, mas avisa que as mensagens dos partidos não podem ser confundidas. Existem, nesta altura, reuniões entre a esquerda para uma coligação que enfrente Carlos Moedas.
Na opinião do candidato à FAUL, a esquerda só tem condições para crescer se o PS for um partido forte e com um programa ideológico próprio, ou seja, “sem que se confundam tópicos” apesar da aproximação em alguns temas.
“A esquerda só pode crescer se o PS for um partido que tem autonomia estratégica face a qualquer outro partido, seja ele de centro-direita, seja ele à sua esquerda. O partido de Mário Soares foi sempre um partido que cultivou a diversidade partidária à sua esquerda. Eu não acho que faça bem aos partidos políticos que a sua mensagem seja confundida. A mensagem do PS, que é um partido moderno, não pode ser confundida, com todo o respeito que tenho e com a proximidade também que tenho relativamente a alguns tópicos, com aquilo que é o programa ideológico dos outros partidos à esquerda”, alerta.
A eleição dos presidentes de câmara, que “é um modelo um esdrúxulo”, já que quem tem mais votos ganha, mesmo sem maioria absoluta, pode facilitar uma coligação entre os partidos de esquerda, admite Prata Roque.
O Bloco de Esquerda já avisou que a habitação será um dos temas chave para uma possível coligação com o PS. Ora, Miguel Prata Roque, se vencer as eleições internas, vai exigir ao Governo um levantamento das casas devolutas em Lisboa.
“A primeira medida que adotarei é justamente reivindicar perante o Governo um levantamento sobre todas as habitações que estão devolutas ou degradadas na área urbana de Lisboa. A lei, neste momento, já o determina. A lei determina que as autarquias locais devem fazer o levantamento sobre quais são as casas que estão, neste momento, desocupadas, abandonadas, detidas por fundos imobiliários e não ao serviço de pessoas que estão a dormir na rua ou que estão a dormir em condições absolutamente inaceitáveis”, indica.
Miguel Prata Roque e Carla Tavares são os candidatos à sucessão de Ricardo Leão para a liderança da FAUL do PS. Uma contenda interna em ano de eleições autárquicas, numa altura em que o PS ainda não apresentou candidato à câmara de Lisboa.
O mandato de Ricardo Leão à frente da federação do PS de Lisboa durou apenas um mês. Demitiu-se após as polémicas declarações como presidente da câmara de Loures, ao sugerir o despejo “sem dó, nem piedade” dos que participaram nos tumultos em Lisboa. Abriu caminho para novas eleições numa das maiores federações do PS, a oito meses das autárquicas.