Miranda Sarmento rejeita "números mágicos" na Defesa. “Investimento tem de responder às ameaças concretas"
Ministro das Finanças admite que um agravamento da instabilidade internacional “terá consequências”, mas Portugal “está preparado para acomodar esses choques”
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O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento rejeitou, esta quinta-feira, a utilização de “números mágicos” para definir o investimento em Defesa, sublinhando que as decisões devem ser tomadas com base nas “ameaças concretas” que a Europa enfrenta e nas capacidades necessárias para lhes responder.
“Acho que não há um número mágico que nos diga que, com esse número, consigamos defender-nos”, declarou Miranda Sarmento, à margem da reunião do Eurogrupo, que decorre no Luxemburgo. “O exercício tem de ser ao contrário”, definiu o ministro, considerando que a opção passa por "olhar para as ameaças e para o nível de ameaças, perceber que tipo de equipamentos, efetivos e capacidades tecnológicas são necessários, e só depois definir o envelope financeiro".
A afirmação surge numa altura em que alguns aliados da NATO têm defendido aumentos significativos do investimento em Defesa, chegando a propor valores próximos dos 5% do PIB, como tem sido defendido pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Já O ministro português evitou comentar diretamente essas propostas, mas frisou que o foco deve estar nas necessidades reais.
“A Europa precisa de olhar para as ameaças que tem, sejam elas mais terrestres, no ciberespaço ou de outra natureza, e construir a sua capacidade de resposta a partir daí”, afirmou. O ministro reagia ao anúncio apresentado pelo Governo de Madrid, que anunciou à NATO que não pretendia alcançar os 5% de gastos com a Defesa.
Miranda Sarmento garantiu ainda que Portugal está a finalizar o plano para atingir os 2% do PIB em gastos com Defesa, até ao final do ano, e “compete agora ao senhor primeiro-ministro apresentá-lo na NATO e depois ao país”, disse, referindo-se à cimeira da Aliança marcada para a próxima semana. “O plano está praticamente fechado”, insistiu.
Questionado sobre a mudança de posição do Governo, que, até há poucos meses, apontava 2029 como prazo para atingir os 2%, o ministro justificou com a evolução do contexto internacional. Agora que “as circunstâncias mudaram, acho que não preciso explicá-las”, afirmou, referindo-se à instabilidade global.
Miranda Sarmento admitiu que Portugal acompanha “com preocupação” o agravamento das tensões, nomeadamente face à possibilidade de os EUA entrarem num conflito com o Irão, admitindo “riscos associados”.
“Vivemos uma situação internacional de grande incerteza e de grande risco”, afirmou, convicto, ainda assim, que o país se encontra hoje numa “posição mais confortável” para enfrentar choques externos.
“Tem contas públicas equilibradas, uma dívida pública em queda, está a atrair investimento privado e em pleno emprego”, afirmou. “Naturalmente, nenhum país é uma ilha, em termos económicos, e se a situação internacional se agravar, isso terá consequências. Mas Portugal está preparado para acomodar esses choques, que esperamos que não ocorram”, afirmou ainda.