É preciso mudar as regras europeias, para que sejam mais simples, defende o comissário Carlos Moedas. Mas são os governos quem tem de fazer o essencial: reformar, flexibilizar. A UE vista de Bruxelas.
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O comissário português até se ofereceu para ajudar: "Devemos no médio prazo rever toda esta complexidade das regras europeias. As regras devem ser cumpridas, mas devem ser claras. Hoje mesmo que a Europa diga que está a fazer cumprir as regras, os países depois não percebem", diz Carlos Moedas na Entrevista TSF desta semana. Elas têm, assim, que ser "simples", defende o comissário português, responsável pela Ciência europeia.
O comissário português tem-se mostrado contrário à aplicação de sanções a Portugal - sendo que a reunião decisiva será já na próxima semana. Mas Moedas não dramatiza o efeito de eventuais sanções - pelo menos na perceção dos mercados sobre o país: "A perceção externa vem da credibilidade que se vai construindo. Isso não se destrói de um dia para o outro, nem através das sanções. Até porque as sanções já foram tão faladas que já foram "descontadas" pelos próprios mercados. Mas o que tem se se fazer é construir um caminho sempre, sempre da credibilidade. Sempre a construir, de reformar, de flexibilizar a economia, de procurar investimento. Não tem a ver com as sanções, tem a ver com as opções que os governos tomam."
Moedas não se quer alongar muito sobre as opções do atual Governo. Deixa explícito que o essencial é "manter as reformas" - anotando a flexibilização
Diz até ter "a melhor relação possível com o Ministro das Finanças e o primeiro-ministro" ("tenho falado com eles quando penso que devo, eles têm sido sempre abertos"). Mas sempre vai respondendo à crítica feita pela ministra da Presidência, numa entrevista ao Expresso no último sábado:
Pergunta: "A ministra da Presidência deu uma entrevista ao Expresso esta semana, dizendo que a Comissão não se conformou com a mudança de Governo em Portugal (cito: "quer atacar mais este Governo do que penalizar o anterior"). Visto de dentro, há preconceito contra o Governo atual do país?"]
Resposta: "Não, de maneira nenhuma. Não sinto isso e isso não existe. Os governos estão sempre a mudar, e a Comissão tem no seu ADN a capacidade de se dar com todos os governos e de ter relação boa com todos. Há visões diferentes na Europa: os que defendem que devemos cumprir as regras como elas são, os que pensam que as regras devem ser repensadas e que devemos olhar para o esforço total que foi feito. Não tem a ver com o Governo A, B ou C, tem a ver com uma mentalidade mais ao Norte da Europa, ao Sul da Europa, ao Este ou ao Oeste, é uma divisão que hoje existe, mas que não tem a ver com os partidos".
Medo dos nacionalismos. A dor do Brexit
De resto, diz Moedas, não há razões de queixa. Costa "é um europeísta convicto", assegura. E é percecionado assim na Europa. Uma Europa onde o preocupa sobretudo o nacionalismo.
"Hoje a Europa ainda não é tão aberta como foi nesses anos antes da I Guerra Mundial. O protecionismo e o nacionalismo destroem a riqueza. E eu tenho muito medo que neste momento as pessoas pensem que a solução é de mais protecionismo, porque viveram as crises, porque não acreditam nos políticos ou no sistema. É o mais me preocupa e o que vejo em vários países, esse nacionalismo xenófobos. Tenho medo pelos meus filhos. Os problemas não se resolvem fechando. Não se consegue resolver o problema do terrorismo fechando o país e não partilhando dados sobre os terroristas. Não se consegue resolver o problema dos refugiados dizendo "não, entra um milhão na Alemanha, eles que resolvam".
As várias crises europeias são motivo de preocupação, mas não tanto a hipótese - muito falada - de a saída do Reino Unido ser seguida por outros países. Diz Carlos Moedas que "cai ser um processo longo e doloroso para as duas partes, doloroso também para o Reino Unido. Há milhares de páginas que vão ter que ser mudadas, o processo é complicadíssimo. Não sei, há quem fale em possibilidade de contágio, mas também é possível que as pessoas olhem para este processo e como ele é complicado, ou para os efeitos que ele vai ter."
A Entrevista TSF passa sábado às 11h00, mas pode ser ouvida aqui na íntegra.