Mortágua defende que caso BES trouxe "aprendizagens", mas "pouco mudou" sobre a falta de "transparência"
A líder do BE aponta, na TSF, que a "elite financeira" que goza "do enorme poder de impunidade" tinha antigamente "a cara de Ricardo Salgado", mas "agora não tem" rosto
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A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, reconhece que o caso BES permitiu algumas "aprendizagens", mas destaca que a natureza do sistema financeiro não mudou, sendo que a opacidade se mantém, agora, com outros protagonistas.
Em declarações à TSF, Mariana Mortágua assinala que o Novo Banco, antigo BES, "pertence a um fundo que ninguém conhece, cujo dono ninguém conhece" e que o partido sempre desconfiou das suas "operações, da forma como extorquiu dinheiro ao Estado e das vendas de ativos".
"É um bom exemplo desta aristocracia, desta elite financeira, que gozam do enorme poder e impunidade, sem qualquer tipo de escrutínio. Tinha a cara de Ricardo Salgado antigamente. Agora não tem cara. Nós não sabemos quem é o dono e quem representa a Lone Star, como bem vimos no caso da venda dos ativos tóxicos do Novo Banco", atira.
A líder do BE aponta ainda que, não só "nada foi feito sobre os offshores", como também "nada foi feito para contrariar certas práticas financeiras", por isso, o papel das auditorias no sistema económico e financeiro não se alterou: "Pouco mudou sobre transparência."
Mariana Mortágua afirma que as "empresas que estão cotadas em bolsa em Portugal são detidas por fundos de investimentos estrangeiros" e, por isso, "os problemas até se agravam" devido à elevada "concentração de poder e de propriedade".
"Portugal está nas mãos de alguns fundos estrangeiros que não sabemos como é que operam e que têm relações financeiras e as suas sedes nas Bahamas e nas Caimão. Portanto, a história repete-se num outro nível de análise, num outro nível de dimensão e de grandeza, mas a pobreza do sistema financeiro não mudou", denuncia, acrescentando ainda que, na verdade, esta se tornou "mais complexa" e refere, como exemplo, a detenção desta terça-feira de um cidadão estrangeiro suspeito de encabeçar uma organização criminosa que se dedicava à manipulação generalizada nos mercados de criptomoedas.
A bloquista admite, ainda assim, que o caso BES também trouxe lições positivas, nomeadamente, a possibilidade de "desmascarar esta elite" - ainda que reforce que tal só aconteceu "quando esta estava a perder poder" - e a construção de uma "legislação de proteção do consumidor".
Sem reconhecer uma mudança "estrutural" na economia portuguesa, Mariana Mortágua admite uma alteração significativa das "regras de supervisão", devido, sobretudo, às alterações ocorridas no sistema europeu, mas também às consequências da comissão de inquérito.
"Quando estava no auge do seu poder, ai de quem dissesse mal do doutor Salgado. E nós lembramos muito, porque o criticávamos nessa altura, e porque o criticávamos pelo papel que tinha na sociedade portuguesa, pelo fato de ser impune e de dizer o que queria, fazer o que queria, e só que na altura isso era impossível", argumenta.
Mariana Mortágua considera ainda que as "aprendizagens" vieram também "pelas piores razões".