Mortágua "mais perto de influenciar" Governo do que Ventura, com quem "ninguém se quer sentar"
A coordenadora do Bloco de Esquerda não especificou se está disponível para integrar um futuro Governo do PS, mas aproveitou para lembrar que Luís Montenegro já se distanciou do Chega.
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Num debate entre duas forças políticas que se dizem “antagónicas”, Mariana Mortágua admitiu que está mais próxima de influenciar um Governo do que André Ventura, com quem “ninguém se quer sentar”. Habitação e imigração foram dois dos temas em cima da mesa, sem qualquer entendimento entre os dois líderes partidários, que fizeram acusações de parte a parte.
A coordenadora do Bloco de Esquerda não especificou se está disponível para integrar um futuro Governo do PS, mas quer "determinar a governação para resolver problemas". E aproveitou para lembrar que Luís Montenegro já se distanciou do Chega.
“Estou mais próxima de influenciar uma futura governação do que André Ventura com um acordo com partidos a quem anda a chamar prostitutas políticas. A razão pela qual o Dr Ventura nunca será capaz de fazer um acordo é porque ninguém se quer sentar ao seu lado”, atirou.
André Ventura foi dizendo que o Chega é um partido “fora do sistema”, enquanto Mariana Mortágua falava, e terminou com “eu quero-vos é longe”. Mariana Mortágua lembrou ainda as posições “racistas e xenófobas” do Chega, pro exemplo, no que toca à imigração.
Ao longo da meia hora de debate, André Ventura e Mariana Mortágua não concordaram em nada e deixaram salientes os pontos de vista opostos. Além de acusações sobre os apoiantes em cada um dos partidos.
Mortágua acusou o Chega de ser financiado por interesses imobiliários, ligados ao Grupo Espírito Santo. Ventura lembrou que um dirigente do Bloco de Esquerda acabou por se demitir por especulação imobiliária: o antigo vereador da Câmara de Lisboa, Ricardo Robles.
“Sei que o Dr Ventura tem pouca preocupação sobre o mercado de habitação e sobre o problema de as pessoas não conseguirem aceder a casas. E esse é o verdadeiro problema da procura: um salário em Portugal não paga uma casa. O Dr Ventura tem uma preocupação: interesses imobiliários”, disse.
Já André Ventura garantiu que o Chega “tem apoiantes ricos e pobres”, aconselhando a líder bloquista a “não falar de interesses imobiliários”. “Não fui eu que tive um vereador que estava a vencer casas da segurança social ao triplo do preço”, lembrou. Para o líder do Chega, as acusações de Mortágua não passam de “hipocrisia e cara de pau”.
Os dois protagonistas trocaram ainda argumentos sobre “terroristas” nas listas partidárias, com Mariana Mortágua a acusar o deputado Diogo Pacheco de Amorim de ter participado em “600 atentados”. Ventura respondeu com os “condenados por terrorismo” no BE, sem revelar nomes.
Os vistos gold e o “disparate comunista”
Já sobre propostas para resolver a crise na habitação, Mariana Mortágua começou por apontar o dedo ao Chega, que quer reintroduzir os vistos gold, que promovem a compra de imóveis a preços elevados por não residentes: são “um convite” e uma “porta aberta” para a corrupção.
André Ventura, por outro lado, defende que os vistos gold e os empreendimentos para alojamento local “reabilitaram e reconstruiram prédios”. A esquerda, acrescentou Ventura, “quer taxá-los e destruí-los”.
“Isso não é resolver o problema nem combater a corrupção. É só um disparate comunista”, respondeu, lembrando que os bloquistas propõem ainda a posse administrativo de imóveis devolutos.
O líder do Chega voltou a defender uma imigração “controlada e regulada”, o que para Mariana Mortágua soa a “caos”, num país onde “há necessidade de trabalho imigrante”. “A política que o Chega defende significa o caos em Portugal: na agricultura, nos lares ou na construção”, retorquiu.