Na habitação ou nos impostos, IL e BE acusam-se mutuamente de apresentar propostas ilegais
Se Rui Rocha considera fora da lei que o BE queira limitar a compra de casas por não-residentes, Mariana Mortágua diz que é inconstitucional a proposta dos liberais para o IRS.
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Para Rui Rocha, o problema da habitação está nos impostos. Para Mariana Mortágua, está no mercado. Os líderes da Iniciativa Liberal (IL) e do Bloco de Esquerda (BE) estiveram, esta quinta-feira, frente a frente em debate na televisão, e, se concordam que há um problema de falta de casas, no que toca às causas e às soluções não podiam estar mais longe um do outro.
Rui Rocha aponta que os custos da habitação são "cerca de 30% de impostos". "Se contarmos taxas e taxinhas, pode chegar aos 40%, e é por isso que não há habitação acessível em Portugal", afirmou, defendendo que não é impedindo a compra de casas por estrangeiros não residentes que se resolve o problema e classificando mesmo essa proposta do BE como "ilegal no espaço da União Europeia".
Mariana Mortágua aponta como exemplo um aumento de "60% dos preços das casas em Braga" e assegura que tal não se deveu aos impostos, mas, sim, "ao mercado" que a Iniciativa Liberal quer deixar funcionar, apostando em mais construção.
Passando pela Saúde e pelas privatizações - com Rui Rocha a questionar os custos das nacionalizações que o BE quer fazer e Mariana Mortágua a responder que custam menos do que "as borlas" que a IL quer dar às grandes empresas -, o desacordo entre liberais e bloquistas só se aprofunda. Mariana Mortágua acusa Rui Rocha de fazer propostas inconstitucionais em termos fiscais e ridiculariza a forma como a Iniciativa Liberal tenciona arrecadar verbas.
"A IL acha que a prioridade é cortar 50% nos impostos às grandes empresas em Portugal. Explique-me, por favor, como é que paga 2,2 mil milhões de euros para cortar os impostos à banca, à EDP e à Galp", desafiou a líder bloquista, que além desta proposta para a descida do IRC, encontrou também problemas na proposta liberal para o IRS. "É inconstitucional", alegou, dizendo que é eliminada a progressividade fiscal e lembrando que a medida custa "3,5 mil milhões de euros" - verba que, ironiza a líder do BE, Rui Rocha terá afirmado procurar arrecadar cortando no "papel e lápis" gasto pelo Estado. Palavras às quais o líder liberal respondeu acusando Mortágua de "demagogia".
Mas também a Iniciativa Liberal tem acusações diretas a fazer ao Bloco de Esquerda. Rui Rocha afirma que Mariana Mortágua quer "distribuir pobreza", em vez de apostar no crescimento económico, e continuar a ser cúmplice do Partido Socialista (PS), apoiando um eventual governo de Pedro Nuno Santos.
"A Mariana Mortágua fala como se a Iniciativa Liberal tivesse estado na gestão do país nos últimos anos. Ora, não estivemos. Quem apoiou o PS durante quatro Orçamentos [do Estado], quem é corresponsável por este caminho que foi feito, não sou eu. Não é a Iniciativa Liberal. É o Bloco de Esquerda. É a Mariana Mortágua", atirou.
"Olhamos para o programa do Bloco de Esquerda e não encontramos lá nada sobre crescimento. (...) Portanto, os portugueses ficam com uma ideia clara: com o Bloco de Esquerda, aquilo que aconteceu até hoje continuará a acontecer. E continuará a acontecer também apoiando Pedro Nuno Santos", concluiu Rui Rocha.