Entrou como líder do partido e saiu como mais um soldado disponível para contribuir para a união do partido. "Disponham e até sempre".
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Pedro Passos Coelho, o futuro ex-líder do PSD, chegou ao Centro de Congressos de Lisboa pelas 21h02, com "confiança e esperança para o futuro". Estava "sereno" e com "sensação de ter cumprido o dever", com "honra e gosto". A sala demorou a dar por ele, apesar de algum rebuliço com as câmaras e apertos de mão para aqui e para ali. Os aplausos, que se repetiram na hora de subir ao púlpito, foram longos. No fim, a mesma cantiga, com um cumprimento a três, com Rui Rio e Santana Lopes, o candidato derrotado à corrida do partido. A frase eventualmente mais forte terá sido: "Não é fácil bater a geringonça, mas é preciso bater a geringonça".
Comecemos pelo fim, com uma shortlist de recados para Rui Rio, o novo líder do partido. "Quem disse que a tarefa que tens é fácil não está a ser sincero. A tua tarefa é difícil. Aqueles que acham que era fácil eram aqueles que achavam que o problema era eu. Esses, claro, vão continuar a culpar-me por alguma coisa negativa que possa acontecer." Mais: "Quem ganha tem sempre o gesto mais relevante para construir a união no partido. Ainda não começou o convresso e já estamos a ver esses sinais. Rui Rio, farás tudo para que o nosso país tenha um futuro melhor e em que os portugueses se revejam".
O discurso de Passos Coelho começou com uma fuga... ao balanço. Mas ficou uma nota relevante: "O que conseguimos fazer não foi sozinhos, foi com o CDS-PP, e isso é importante para o futuro", disse, arrancando um aplauso sonoro. E arrancou, mais a sério, com um tom mais severo, a ajustar contas com o passado recente que o derrubou. "O que muitos têm considerado um defeito tem sido a nossa grande virtude, nunca estivemos demasiado agarrados a um corpo dogmático ou ideológico", garante, avisando que o PSD procurou "o caminho certo".
O discurso que demorou menos de uma hora teve direito, pois claro, a uma lembrança de Sá Carneiro em forma de verbo: "Falaremos pouco de ideologia, falaremos pouco de Abril, mas vamos, sim, trabalhar modestamente para os realizar, para fazer aquilo que os governos que nos antecederam não fizeram". O PSD, assegurou esta noite no Centro de Congressos de Lisboa, "rejeita os vanguardismos que põe de lado as soluções reacionárias ou revolucionárias". E deixa um aviso: "As soluções igualitárias conduziram aos maiores totalitarismos".
Para o ainda líder do PSD, não é esse o caminho do atual Executivo: "Temos um Governo centrado no curto prazo, que faz a espargata para agradar a todos". O tom subiu aqui, já com o fim do discurso a piscar o olho, para apontar a mira para o Partido Socialista de Sócrates. "Levaram o país à bancarrota em 2011 e não houve, até hoje, um pedido de desculpas ou de arrependimento. O PS não teve sequer o decoro de mudar as caras. Quem nos garante que não vai acontecer outra vez se eles são os mesmos?", questiona Passos, acompanhado por muitos aplausos por parte dos militantes.
Passos Coelho acusa o atual Governo de Costa de apostar nas cativações e nos cortes e, apesar de aplaudir o crescimento económico do país, diz que outros 13 países da UE também cresceram. E rematou, vincando que falta coragem ao Governo para admitir que a "receita que trazia" falhou e que o partido necessita de um novo ciclo que coloque os portugueses "a olhar para aquilo que poderão vir a ter se as políticas adequadas forem prosseguidas".