"Não faz sentido dialogar com quem defende a antítese do que é a nossa visão e os nossos pilares"
Pedro Fidalgo Marques, membro da Comissão Política Nacional do PAN, Pessoas, Animais e Natureza. Lidera a lista para o Parlamento Europeu. Segunda parte da entrevista ao TSF Europa. Educação, habitação, saúde e o diálogo com as outras forças políticas
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Não sendo uma área propriamente ambiental, mas estando o Pedro ligado ao ensino, o que é que o PAN quer dizer quando defende “total reformulação” do estatuto da carreira docente?
O que nós temos de perceber é a questão, por exemplo, das cotas de acesso a alguns escalões. Como existe a progressão, com o atual sistema de avaliação, que fica dependente de cotas de de avaliação para se poder aceder depois a alguns patamares, ou seja, para se poder se progredir no escalão para se ter um excelente, é muito difícil, porque cada agrupamento só pode ter um x número de excelentes ou muito bons e é toda essa dinâmica que é necessário aqui rever, inclusive com uma valorização das carreiras dos professores; ou seja, aqui temos todo um quadro integrado. Isso é uma pequena citação, se calhar assim condensada, mas a questão da duração das carreiras, da recuperação integral do tempo de serviço que o PAN defende, a questão da progressão na carreira, a questão da reforma que não faz sentido. Depois, a componente lectiva. Há aqui várias componentes da valorização do ensino e nós, quando falamos de professores, estamos a falar de quem vai estar a formar o nosso futuro; ou seja, os professores são fundamentais para termos um futuro promissor em Portugal e por isso temos que valorizar e temos que pensar na carreira dos professores para lhes dar melhores condições.
Nas últimas eleições europeias, em maio de 2019, o PAN conseguiu eleger pela primeira vez, tendo reunido 5,08% dos votos (168 501 boletins). Cerca de um ano depois, em junho de 2020, O eurodeputado Francisco Guerreiro desfiliou-se do partido por "divergências políticas" com a direção, então liderada por André Silva. Como é que avalia o trabalho de Francisco Guerreiro no PE?
Antes de mais, quero lamentar essa saída no sentido em que essa divergência que existiu com o anterior líder, André Silva, realmente é.
Que agora também já se afastou do PAN...
E que na altura havia questões que, conversando se poderia tentar ultrapassar, mas é algo que está no passado e na questão do Francisco Guerreiro, a informação que eu fui recebendo do Parlamento Europeu é que foi continuando a defender algumas das nossas causas, temos pena por isso, apesar de a atual direcção, liderada por Inês Sousa Real, ter feito um caminho e uma tentativa de falar e de poder realmente haver aqui esta conversa com o Francisco Guerreiro, não houve, pois, abertura do outro lado.
Ou seja, tentar uma reconciliação para que ele voltasse ao partido?
Não sei se chegaria aí ou, pelo menos, não estou mandatado para poder falar por outras pessoas, já que nessa altura não estava na direcção, mas existiu este este percurso de reaproximação, porque realmente seria importante para todas as causas. O que nós acreditamos é que estamos comprometidos, e eu pessoalmente, quando essa lista estou extremamente comprometido com as causas que o PAN representa e que diariamente trabalho para elas e que irei trabalhar para as representar no PAN. E daí, o que nós apelamos sempre é: quem confia como disse, essas 160 mil pessoas que votaram em nós, continuem a confiar no PAN para garantirmos que a causa animalista, a causa ambientalista e das pessoas continuam representadas no Parlamento Europeu.
Quando olha para o quadro geral deste país e acompanha a atualidade, o que é que mais o preocupa e inquieta na vida portuguesa de hoje?
Temos tantos temas que poderíamos estar aqui, mais 1 hora de entrevista a discutir, mas podemos começar. Por exemplo, temos a questão da habitação. Acho que é um tema que destaco porque é algo estrutural, não só a nível de Portugal, mas também a nível europeu e é necessário encontrarmos aqui soluções em termos de habitação e mesmo a nível europeu. Sendo uma questão que, se calhar não é competência direta do Parlamento Europeu, mas temos que olhar para a política monetária e perceber se faz sentido este percurso que está a ser feito pelo BCE em termos da taxa de juros no combate à inflação, porque depois quem sofre são as famílias em casa que no final do mês, que têm muita dificuldade em pagar a prestação e quando pagam a prestação têm dificuldade em pagar as contas fixas e algumas nem chegam para ter dinheiro para se alimentar. Temos que perceber em termos do investimento que é feito e reforçar - existiu algo no PRR, mas temos de reforçar - em termos de apoio à construção de habitação pública. E aqui falamos não só de ação social, mas também habitação acessível, de renda acessível para a classe média. Portugal é um dos países que têm uma menor taxa de habitação pública. Na União Europeia está, se a memória não me falha, a cerca de 2%, que é um valor muito abaixo da média Europeia e realmente habitação é algo que nós temos que encarar, porque sem um teto, as pessoas têm dificuldade de ter sua vida organizada e acho que isso é uma prioridade. Por outro lado, no âmbito da política nacional, temos também que olhar para a saúde e para esta organizão da saúde. Não podemos voltar a ter um Verão como foi no passado o Natal ou tudo o mais; temos que olhar para a saúde realmente com um plano estrutural e nisso não posso deixar de dar aqui esta nota que todas estas demissões que o Governo tem feito, que não se percebe bem se tem uma origem política ou de onde é que isto vem…
Está a falar da demissão de Fernando Araújo….
Do diretor da PSP, da presidente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa… há um conjunto de demissões que, além de carecerem algumas de alguma justificação sem ser só porque é confiança política. As instituições têm que ser muito mais transversais do que apenas um governo e, por exemplo, na saúde, temos que ter um plano, que já estava a ser desenhado. Concordemos ou não, havia uma estratégia que, se nós discordarmos, tínhamos que a reajustar, mas não pode ser partir do zero, senão nunca vamos a lado nenhum se estamos sistematicamente começar do zero. Nós temos que privilegiar os cuidados primários de saúde de proximidade; ou seja, criar aqui realmente esta rede integrada em que as pessoas têm acesso a um médico de família, em que tens cuidados primários de saúde no centro de saúde, seja de enfermagem, seja até de saúde mental, e que depois, a partir daí, é que é estruturado todo o sistema para o sistema hospitalar. Nós temos que combater até um bocadinho a tendência, até pelas próprias notícias, desta hospitalização da saúde.
Mas é natural que haja mudanças quando a pessoa que foi escolhida para liderar o Ministério da Saúde era alguém que estava na administração do maior hospital do país, o Santa Maria, e que se demitiu da administração por não concordar precisamente com a estratégia que estava a ser seguida…
Mas nós quando estamos em qualquer posição de chefia, na liderança de um projeto, nem vou falar do governo, nós temos que ter uma posição conciliadora, uma posição de mediação e temos que perceber o que é que é melhor a médio e longo prazo para toda a estrutura e isto pode ser aplicado a um pequeno projeto como ao Governo do país. Não é por não gostar de alguém, porque foi esse o caso, ou foi assim que foi apresentado, porque tinha esta divergência no hospital que eu vou afastar alguém. Nós temos que realmente perceber isso e aquilo que se vai juntando a todo este conjunto de quase casos e casinhos. Estamos a falar de uma sequência de demissões de dirigentes em posições técnicas, que é verdade que tem que ter confiança política, mas são posições técnicas e que têm sido afastados. E é isso que torna aqui a questão de perceber que estabilidade e que transição é que temos para o país.
Se conseguir eleger para o Parlamento Europeu, o PAN ficará na família política dos verdes?
Correto, iremos manter. Nós somos membros do Partido dos Verdes Europeus e iremos estar nesse grupo político no Parlamento Europeu.
Disponível para dialogar com os outros eurodeputados portugueses?
O PAN está sempre disponível para trabalhar e dialogar com todas as forças desde que sejam democratas e que defendam os valores da integração e do projeto europeu, nós estaremos sempre disponíveis para trabalhar em prol da Europa e dos portugueses.
Portanto, há algum partido com o qual não queira dialogar porque não considere democrata?
O PAN irá sempre, ou seja, há claramente uma família europeia, que é a que cada vez mais tem defendido políticas que vão contra o projeto europeu e políticas que vão contra este projeto de aprofundamento desta deste pilar social europeu que pretendem retrocessos.
Está a falar do da identidade e democracia?
Exatamente.
Ou seja, onde está o Chega?
É, onde está o Chega. Mas aqui, o que as pessoas têm que perceber, quem está lá em casa, é que, por muito que nós saibamos que as pessoas estão a passar dificuldades, que podem estar desagradadas com o país, nós temos que encontrar alternativas, como é o caso do PAN, uma alternativa progressista, uma alternativa verde que está cá para trabalhar pelas pessoas, pelos animais e pela natureza e que não podemos cair nesta tentação de ir atrás de um partido que muitas vezes tem medidas e projetos quase contra o projeto europeu, que querem retroceder em vários direitos humanos, estou a falar aqui de direitos humanos, na questão do direito das mulheres, da pobreza menstrual, dos direitos LGBT. E não faz sentido dialogar com pessoas que defendem a antítese do que é a nossa visão e os nossos pilares. Tirando isso, com todos os partidos democratas que estejam plenamente alinhados com o projeto europeu e com os valores humanos, o PAN estará sempre disponível para dialogar.
Tendo isso em conta, sente que para o PAN é mais fácil dialogar à esquerda ou à direita? Porque por vezes, a volta do PAN, surge essa dúvida…
O PAN, como um partido progressista, está cá para trabalhar em prol das pessoas animais e natureza, para encontrar soluções que resolvam o problema das pessoas; e nesse sentido, irá dialogar com quem estiver aberto ao diálogo, desde que respeitem estes valores básicos dos direitos humanos, do projeto europeu e do progressismo.
Este domingo, começa a campanha eleitoral, para as eleições regionais antecipadas realizam-se a 26 de maio. Quais são as ambições do seu partido?
O PAN está confiante que irá voltar a reeleger Monica Freitas e que irá consolidar a essa votação porque, como se viu, o PAN Madeira e a Mónica foram um elemento fundamental, conseguiram negociar várias medidas no orçamento regional e aprovar até várias medidas que foram bastante benéficas para a região, para os madeirenses, porto-santenses…
Sobretudo na área da causa animal?
Na área da causa animal, também nalguns projectos que foram travados, na questão, por exemplo, de um centro de Juventude, que era pedido há muito tempo para as pessoas e que fesse projecto finalmente saiu do papel para poder avançar. E além disso, como vimos, foi um deputado, Marco Freitas e o PAN Madeira, foram extremamente responsáveis nesta ótica de garantir que é todo o processo e que existia este cumprimento de transparência na ilha da Madeira.