"Não sou e nunca fui favorável a esta ideia de que o PS se afirma empurrando a AD para os braços do Chega"
Em declarações à TSF, Adalberto Campos Fernandes garante que o PS entra em "enormes dificuldades" sempre que se afasta do "território da moderação". Depois do "desastre eleitoral enorme", o partido deve "redefinir e repensar" a sua estratégia e só depois procurar um "protagonista que interprete bem" esses valores
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O antigo ministro socialista da Saúde Adalberto Campos Fernandes defende que é preciso combater a ideia de que o "PS se afirma empurrando a AD para os braços do Chega".
A coligação encabeçada por Luís Montenegro é a vencedora da noite de 18 maio. Com quatro mandatos por atribuir, PS e Chega estão empatados, com 58 deputados cada. Ainda assim, sem maioria absoluta, a coligação vai ter de procurar acordos na nova legislatura.
Em declarações à TSF, Adalberto Campos Fernandes garante que o PS entra em "enormes dificuldades" sempre que se afasta do "território da moderação". É por isso necessário que o partido tenha "nervos de aço" e assuma uma atitude "responsável", conciliando-se com o centro político: isso implica que possa divergir nas questões que assim obriguem, mas sem nunca permitir que a Coligação - PSD/CDS se aproxime da extrema-direita, sobretudo numa altura em que o Parlamento tem "uma maioria constitucional sobre a qual o PS não tem nenhuma influência".
"A AD ganhou as eleições. Tem toda a legitimidade para governar. E as decisões que o PS tomar no Parlamento não devem ser condicionadas por estarmos a espreitar por trás da cortina a ver o que é que o Chega está a fazer ou deixar de fazer. Até porque os comportamentos do Chega são completamente imprevisíveis", afirma.
O socialista lembra ainda que o partido sempre "partiu do centro para a esquerda" e que as maiorias absolutas na Assembleia da República foram conquistadas com líderes "moderados". "Este equívoco estratégico, que é achar que a esquerda é toda igual e é toda uma, e que nós somos todos unidos em termos dos mesmos objetivos estratégicos, não existe. (...) Às vezes diz-se assim 'Ah, o PS não pode ser a esquerda que a direita gosta'. Mas o que eu respondo a isto é que o PS tem de ser, acima de tudo, a esquerda que o povo gosta", atira.
Apesar de considerar que José Luis Carneiro é a pessoa certa para liderar o PS, ressalva que primeiro é preciso "redefinir e repensar" a estratégia do partido e só depois o partido deve procurar um "protagonista que interprete bem" esses valores.
Eu tenho sobre o José Luís Carneiro uma excelente impressão. É um homem que está muito próximo dos valores que eu defendo: é sensato, temperado, conhece bem o povo, tem ligação ao terreno, sabe o que é a vida concreta das pessoas e tem uma grande experiência política, autárquica e governativa
No fundo, o partido precisa de um líder diferente de Pedro Nuno Santos. Adalberto Campos Fernandes assinala desde logo que "tempero, serenidade e nervos de aço são essenciais na vida pública e política" e essas são caraterísticas que o próximo secretário-geral deve reunir.
"Confundir dinamismo com irreflexão não dá bom resultado. É preciso ter noção de que o desastre eleitoral foi enorme, mas que por daqui a dois meses ou quatro, há possibilidade de o PS reiniciar o seu caminho com um belíssimo resultado nas autárquicas", defende.
O socialista vê agora um caminho de reaproximação aos eleitores que "voltarão facilmente ao PS", assim que este recuperar a "sua matriz destes últimos 50 anos".
