"Ninguém tentou travar os acontecimentos." Diretor do Expresso critica Chega na agressão a jornalista
João Vieira Pereira afirma à TSF que, quando não tomaram posição quando o jornalista foi arrastado, pode concluir-se que André Ventura e outros elementos do Chega são "completamente coniventes" com o sucedido
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O diretor do Expresso, João Vieira Pereira, criticou esta quarta-feira a atuação de André Ventura e dos outros dirigentes do Chega por não terem tentado travar a agressão de que um jornalista foi alvo num evento que decorreu na terça-feira na Universidade Católica em Lisboa.
"O jornalista entrou, identificou-se como jornalista, deixaram-no entrar e, depois de já estar dentro da sala a fazer o seu trabalho, foi, de uma forma violenta, arrastado para fora da sala, num espetáculo muito triste perante a passividade de todos os elementos que estavam na sala, nomeadamente os elementos do Chega que tinham convidado os jornalistas a se deslocarem àquele local. Ninguém sequer teceu qualquer tipo de comentário sobre o que se passou, nem tentou travar os acontecimentos", diz à TSF o diretor do Expresso.
João Vieira Pereira relata que "o jornalista estava a fazer o seu trabalho", no seguimento de um comunicado enviado pelo Chega às redações no qual referia "que não podem entrar câmaras na sala, de acordo com aquilo que tinha sido estipulado pela Universidade Católica".
Por isso, o diretor do Expresso critica o partido: "Acho que o Chega não pode atirar as culpas para cima da Universidade Católica, quando foi o Chega que chamou os jornalistas e quando tivemos o líder do Chega, André Ventura, que estava na sala a discursar enquanto acontecia esta situação que se notou nitidamente, porque a sala se calou e ele próprio se calou, - era impossível não se notar - e não tomou qualquer posição para impedir aquilo que se estava a passar. André Ventura e os outros elementos da direção do Chega, quando não tomam qualquer posição quando o jornalista é arrastado violentamente para fora de uma sala, a única coisa que nós temos a concluir é que o Chega é completamente conivente com esta ação."
João Vieira Pereira lamenta "a atuação dos estudantes, a forma violenta como jornalista foi removido da sala e, acima de tudo, lamentar este ataque inusitado e espero que o único que assistimos à liberdade de imprensa e à liberdade de informar".
"Acho que numa escola com a Universidade Católica e alunos do núcleo do Instituto de Estudos Políticos fica muito mal a ver que alunos são capazes de recorrer à violência para impedir que os jornalistas façam o seu trabalho. Apesar do comunicado da Universidade Católica, o Expresso ainda espera uma tomada de posição por parte desses alunos, que não teve uma tomada de posição e, portanto, não se reveem minimamente nesses comportamentos e condena esses comportamentos essa atitude", afirma.
João Vieira Pereira remata com os ataques a que os jornalistas estão cada vez mais sujeitos: "Ser jornalista em Portugal tornou-se cada vez mais difícil, por vários fatores que não são apenas políticos. Fatores sociais, económicos. Nós estamos na era daquilo que se chama 'Far West das redes sociais', na era da desinformação e, para combater os riscos que se enfrentam no mundo inteiro este ano e no próximo ano, que é o risco da desinformação, da má informação e de notícias falsas a serem propagadas para todo o mundo, numa altura em que temos quase três biliões de pessoas que vão a votos em todo o mundo, eu acho que se devia era fomentar e proteger o jornalismo como base fundamental para o crescimento de uma sociedade democrática saudável. Só tenho a lamentar estes acontecimentos e que o jornalismo esteja a ser tão atacado como tem sido nos últimos tempos."
Na terça-feira, um jornalista do semanário Expresso foi "agredido" num evento com o líder do Chega na Universidade Católica, em Lisboa, mas a organização negou, admitindo apenas que o profissional "foi removido" da sala.