Numa Lisboa sem casas para arrendar, há (ainda) contentores cheios de lixo e falta de transportes. Candidatos medem forças entre críticas a Moedas
Decorridos 35 anos, Lisboa volta a ter um confronto entre coligações de direita e de esquerda, mas desta vez sem o PCP aliado ao PS. E a frente de Carlos Moedas junta, nestas eleições, a Iniciativa Liberal ao PSD e CDS. Habitação, mobilidade, transportes e higiene urbana são os temas que podem decidir a campanha
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Na loja da dona Esmeralda, a vendedora de molduras por medida e a professora Cristina queixam-se da falta de limpeza nas ruas na Graça. Mas as duas vizinhas não são as únicas nas críticas que se estendem um pouco por toda a cidade.
Alexandra Leitão, que concorre pela coligação “Viver Lisboa” (PS/Livre/BE e PAN), fala em “défice de gestão” da autarquia e dá o exemplo caricato de, muitas vezes, a pessoa ir levar o lixo ao contentor, mas ter de o deixar no chão porque o caixote já está cheio. João Ferreira, candidato da CDU com o lema “Lisboa, cidade da nossa vida”, observa que “gasta-se mais agora em higiene e limpeza urbana com piores resultados”.
E Bruno Mascarenhas, nome apresentado pelo Chega e que lidera a candidatura "Defender Lisboa", alerta para o problema das baratas e ratos, que atribui ao plano de drenagem do atual presidente da cidade.
Todos os adversários de Carlos Moedas apontam o jogo do empurra de competências entre câmara e juntas de freguesia. E só Moedas, recandidato a um segundo mandato, fala em melhorias nos últimos quatro anos. Agora, o programa da “Por Ti, Lisboa”, que junta PSD/CDS e a estreante Iniciativa Liberal na coligação à direita, promete a recolha do lixo seis dias por semana, em vez dos três atuais.
Os rivais Carlos Moedas e Alexandra Leitão fazem da habitação, segurança e mobilidade as principais prioridades.
A candidata socialista quer construir 4500 fogos em terrenos municipais e em parcerias com os privados, dando uma majoração aos que aceitem colocar 20% em arrendamento acessível. Por uma questão de escala e desenvolvimento de infraestruturas, Alexandra Leitão elege a Alta de Lisboa como zona de expansão.
Carlos Moedas contrapõe com o desbloqueio recente dos projetos do Vale de Santo António e do Vale de Chelas, e apresenta o sonho de levar os jovens para o arrendamento em 700 casas nos bairros históricos.
João Ferreira defende o aumento do parque de habitação público na cidade. O cabeça de lista da CDU sublinha a importância da revisão do Plano Diretor Municipal. A estratégia dos comunistas e verdes passa pelo combate à especulação imobiliária, com acusações à gestão do PS e do PSD pela aprovação de todos os hotéis, nomeadamente em antigo património público.
Bruno Mascarenhas quer pôr os privados a construir T2 com 70 metros quadrados para arrendar aos jovens por 700 euros. Mas, para o candidato do Chega, o problema transversal da cidade é a imigração, defendendo que tem implicações na habitação, segurança e mobilidade.
Nos transportes, todos os que querem o lugar de Moedas pedem mais recursos para a Carris e apontam o excesso de carros a entrar na cidade. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa propõe o metrobus Lisboa-Oeiras e o elétrico Lisboa-Loures. E Alexandra Leitão promete passes gratuitos para todos.
Já na segurança, o candidato da CDU quer reabrir esquadras que foram fechando nos últimos anos e defende o policiamento de proximidade. E tanto a candidata socialista como o social-democrata pedem o reforço de efetivos da PSP e polícia municipal, e debatem argumentos quanto ao atraso da instalação de câmaras de videovigilância numa cidade que continua a crescer no turismo.
O alojamento local e os turistas são outro dos pontos de divergência nas principais candidaturas. Na loja de molduras por medida de Esmeralda, os estrangeiros até compram, mas tanto a comerciante como Cristina, a vizinha professora, lamentam as mudanças profundas na Graça, bairro onde nos últimos anos se tornou difícil encontrar comércio português.
Há nove candidatos de 16 partidos na corrida à liderança dos destinos da cidade com cerca de 100 quilómetros quadrados e quase 576 mil habitantes, mais 36 mil do que há quatro anos, uma subida justificada com a imigração.
“Por Ti, Lisboa” (PSD/CDS/IL)
Carlos Moedas acabou em 2021 com um ciclo de 14 anos consecutivos de governo socialista em Lisboa. Apesar de ter mudado radicalmente a equipa com que vai a votos, o autarca pede um segundo mandato à frente dos destinos de Lisboa.
“Viver Lisboa” (PS/LIVRE/BE/PAN)
Alexandra Leitão, 52 anos, jurista e professora de Direito. A antiga ministra de António Costa já disse que a luta nas urnas para as autárquicas é entre ela e Carlos Moedas.
“Lisboa, cidade da nossa vida” (CDU: PCP/PEV)
O cabeça de lista João Ferreira é o que conta mais anos de autarquia. Tem 46 anos e é vereador há 12. É licenciado em Biologia e foi eurodeputado.
"Defender Lisboa" (Chega)
O candidato do partido de André Ventura é o deputado municipal Bruno Mascarenhas, 54 anos, licenciado em Relações Internacionais. Já foi do CDS/ PP, no tempo em que esteve na freguesia da Estrela.
Além destes quatro candidatos, concorrem à Câmara de Lisboa Ossanda Líber (Nova Direita), José Almeida (Volt), Adelaide Ferreira (ADN), Tomaz Ponce Dentinho (POM/PTP) e Luís Mendes (RIR).