"O Bloco de Esquerda foi destruído por dentro." Antigo deputado denuncia "práticas deploráveis" no partido
Carlos Matias é um dos mais de cem militantes que se desvincularam esta quinta-feira do Bloco de Esquerda
Corpo do artigo
O antigo deputado do Bloco de Esquerda (BE), Carlos Matias, considera que o partido foi destruído por dentro. É um dos mais de cem militantes da distrital do partido de Santarém que anunciaram esta quinta-feira a desvinculação do Bloco de Esquerda, um grupo que acusa a atual direção de ter tornado o BE num partido castrador e sem democracia.
"Começaram a cristalizar-se práticas organizativas profundamente antidemocráticas, sectárias e que destruíram toda a pluralidade do Bloco que fez a riqueza do seu projeto inicial. O Bloco nasceu com uma confluência das mais diversas sensibilidades e essa diversidade sempre foi encarada como uma riqueza que reforçava e reforça a esquerda e, concretamente, o Bloco de Esquerda e, a partir de certa altura, começou a haver uma sectarização crescente, um atropelo constante das regras democráticas, desrespeito contínuo pelos estatutos e, quando isso não chegava, inclusivamente, atropelar os estatutos e, enfim, um conjunto de práticas deploráveis que nós fomos internamente procurando combater, denunciar, propor, chamar à atenção, mas que chegou a um ponto em que nos convencemos que não há volta a dar. Não há regeneração possível. O Bloco, neste momento, para nós, faliu como projeto político, foi destruído por dentro e, portanto, o que nos resta é fazer caminho para outras áreas", aponta o antigo deputado em declarações à TSF.
Carlos Matias explica que as divergências dos mais de cem militantes que anunciaram a saída numa carta enviada às redações começaram em meados da legislatura de 2015/2019, quando Catarina Martins estava no leme do partido.
"Parece-nos que começou a existir o apagamento das propostas estratégicas do Bloco, da afirmação de um projeto autónomo. A esquerda grande, de que se falou durante muitos anos, deixou de fazer parte do vocabulário do Bloco e, portanto, as propostas políticas foram sendo buriladas, adoçadas, para que fossem aceites pelo Partido Socialista. Este apagamento das bandeiras originais e daquele lado mais radical no bom sentido do Bloco, foi sendo apagado. Por outro lado, houve um conjunto de militantes que foram fazendo críticas, apresentando propostas alternativas para os caminhos e não foram ser aceites", explica.
Os mais de cem militantes acusam a direção de afastar críticos e alertam que os funcionários do partido "são vítimas de práticas que envergonhariam muitos patrões". Carlos Matias dá como exemplo o caso de um funcionário do Bloco de Esquerda em Santarém que terá visto o vencimento cortado em metade sem aviso prévio.
O antigo deputado admite ainda haver afinidades entre os militantes que saem com os outros 70 que saíram em fevereiro deste ano, também em divergência com a direção nacional. Sobre o futuro destes militantes, Carlos Matias aponta que vão existir respostas políticas e que há ideias no ar, mas não concretiza.
