Na entrevista TSF-JN, a porta-voz garante que o “PAN não é um partido radical e promete “contribuir para a estabilidade” se recuperar o grupo parlamentar. Mas não equaciona sair da liderança, nem do partido, mesmo sem alcançar o objetivo. Inês Sousa Real diz que há, no país, “um antes e um depois de ter surgido o PAN”
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O PAN é hoje um partido em vias de extinção?
O Pessoas, Animais e Natureza não só não é um partido em vias de extinção como, pelo contrário, em 2024, nós conseguimos aumentar a nossa representatividade naquilo que é a presença na Assembleia da República em termos de votos, ficámos a muito poucos votos de eleger um segundo deputado pelo distrito do Porto. Queremos precisamente agora, nesta oportunidade eleitoral, resgatar não só o grupo parlamentar e, com isso, conseguirmos dar mais força às causas e aos valores que o PAN representa no Parlamento, que são precisamente as causas e as preocupações, os grandes desafios que os portugueses também enfrentam, quer no que diz respeito a fenómenos como o combate à violência doméstica, a oposição que o PAN tem feito às touradas ou até mesmo a luta contra o negacionismo climático, a par evidentemente dos grandes desafios como o dar soluções para a habitação, a carga fiscal, de forma integrada como o PAN tem feito até aqui, porque efetivamente temos estado ao lado das pessoas. E partindo até de um trabalho que tenho feito enquanto deputada única em que tenho sido a deputada que mais propostas tem apresentado, mas também acima de tudo feito aprovar, ou seja, com uma capacidade de diálogo e também de fazer pontes para que efetivamente possamos fazer avanços em prol daquilo que são as prioridades das pessoas, partimos com a legitimidade de pedir, de facto, que olhem para a qualidade do trabalho parlamentar e não para a quantidade que certos grupos têm e que acabam por nada fazer e virar as costas à oportunidade que tinham até para mudar a vida das pessoas.
Mas quando olhamos para o percurso do PAN vemos os resultados de 2014, quando o PAN entrou no parlamento com 75 mil votos, depois subiu para 174 mil, ou seja, mais 100 mil votos e caiu, em 2022, para os 80 mil, admite que tenha havido aqui alguma dificuldade em contrariar essa queda?
Volto a referir, nós aumentamos a nossa votação para 126 mil votos em 2024, os portugueses têm atravessado momentos muito desafiantes, tivemos uma pandemia, temos um contexto de guerra, sabemos que efetivamente esta instabilidade política e os sucessivos atos eleitorais são momentos complicados para o país e como é evidente temos também de olhar para aquela que é a indignação e a preocupação das pessoas e perceber e dar a conhecer o nosso trabalho para que possam efetivamente ter confiança naquilo que é uma força política como o PAN. Agora, se os resultados lá atrás não foram aqueles que nós gostaríamos de ter, temos agora uma oportunidade precisamente de as pessoas votarem alinhadas com aquelas que são as suas preocupações, porque mais nenhum partido, por muito que propagandeiem, nem atos eleitorais, leva, seja a causa animalista para o parlamento da forma que o PAN trabalha, menos ainda nas questões climáticas, porque, na hora de votar, votam sempre desalinhados com aquilo que são os compromissos ambientais e mesmo em direitos humanos, eu recordo por exemplo quando foi agora no ciclo legislativo que uma proposta importante como o alargamento da licença parental para que seja remunerada há seis meses na integralidade, ficou pelo caminho com os votos contra precisamente, não só do PSD, mas a abstenção do PS perdendo assim uma oportunidade de estar ao lado das pessoas. O crime de violação se é tornado crime público e quando nós olhamos para aquilo que são as petições com mais de 100 mil assinaturas, em que temos uma sociedade civil hoje desperta para este flagelo que nos está a atingir, em particular às mulheres, em que temos não só imagens de crise sexual partilhadas nas redes da Internet, o crime de violação inclusive é a ser disseminado em grupos de Whatsapp ou até mesmo na Internet e completamente impunes ou influências a virem também aqui pôr em causa os direitos das mulheres, percebemos que há depois uma sociedade que por outro lado reclama e reivindica que o crime de violação seja considerado crime público e o PAN propôs isso mesmo .e no entanto, também não foi aprovado. Ora, sendo estas as causas e as preocupações dos portugueses, precisamos de mais força no próximo mandato e eu em particular, sendo deputada única, tendo me deparado com os obstáculos de uma maioria parlamentar que não acompanha estas preocupações, não posso deixar evidentemente de pedir aos portugueses que nos deem essa possibilidade de termos mais força para conseguirmos efetivamente aprovar ainda mais medidas do que aquelas que temos feito até aqui.
Porque é que em Portugal os partidos ambientalistas não têm conseguido obter a projeção que tem noutros países, por exemplo, na Alemanha?
Mesmo noutros países há partidos ambientalistas, como foi agora no caso do Parlamento Europeu, que têm diminuído a sua representação. Nós temos a consciência de que temos que explicar às pessoas, cabe-nos também a nós, temos esse dever enquanto partido político, de explicar aquilo que é a nossa visão de uma economia verde, que a economia verde não é contrária ao progresso do país, muito pelo contrário, não vai pôr em causa nem a sustentabilidade das empresas, nem os postos de trabalho, só que infelizmente, como temos tido ciclos políticos, por um lado, muito curtos, que não têm permitido estabilidade para podermos mostrar aquilo que é a nossa visão e os nossos projetos de país, como também o contexto da guerra, o contexto evidentemente também da Covid, que ainda marcou muito a vida dos portugueses, é normal que as pessoas, por vezes, possam, nas suas prioridades, ter, no caso no passado, no que diz respeito aos atos eleitorais, ter feito outras opções que eventualmente não correspondiam até às suas reais preocupações, como nos dizem os estudos que hoje temos, em que temos de facto cada vez uma sociedade mais desperta, quer para as questões ambientais e até mesmo para a proteção animal e vamos dar a conhecer o nosso roteiro, que é muito claro até mesmo em termos ideológicos.
Mas mesmo num momento de emergência climática, o PAN não consegue ter a capacidade de atração que gostaria de ter?
Neste momento nós temos de ter a consciência que as pessoas vivem momentos muito difíceis, seja de indignação, porque estamos a ir para eleições e com isso vamos gastar mais de 25 milhões de euros que o país não precisava de gastar num ato eleitoral, que temos uma emergência climática que não desapareceu como pano de fundo, que temos de facto uma visão não só do país, como da economia verde. Ou quando queremos que o governo execute os fundos do PRR, estamos a falar de mais de 429 milhões de euros que as empresas portugueses poderiam estar a beneficiar para garantirem a transição da sua indústria para uma indústria verde, são de facto medidas que vão ao encontro da necessidade das famílias e das empresas verem baixar o seu custo de vida, com as despesas das suas empresas e acima de tudo perderem o receio. Porque muitas das vezes com estes partidos o que notamos, +e que seja quem está no governo, seja até mesmo partidos da extrema direita, têm-se aproveitado do medo que as pessoas sentem de uma instabilidade ou de até mesmo terem uma outra alternativa, e as alternativas existem e são possíveis de concretizar até medidas mais eficazes para a vida das pessoas.
Dizia há pouco que os eleitores estavam zangados, cansados de serem chamados novamente a votar, ainda recentemente foi essa a justificação que apresentou quando o PAN perdeu a deputada única na Assembleia Legislativa da Madeira, não pode acontecer o mesmo na Assembleia da República, ou seja, esse cansaço do eleitorado não pode penalizar o PAN?
O resultado da Madeira não foi o resultado que nós gostaríamos de alcançar, porque pensarmos num parlamento regional onde não existe uma voz ativa para defender os direitos dos animais, é evidentemente para nós uma preocupação. Olhando para o plano nacional,reitero que o PAN tem crescido e teve um aumento no último ano, temos sido uma força responsável e trabalhadora na Assembleia da República e parto com a legitimidade e com consciência tranquila de que ao longo deste ano muito instável, fomos de facto a força política que mais trabalhou em prol das pessoas e que fizemos esta diferença, e estamos a falar de uma diferença que vai diretamente ao bolso dos portugueses. Quando nós aprovámos a comparticipação dos medicamentos para as mulheres que sofrem de endometriose, estamos a ajudar mais de 350 mil mulheres, ou até mesmo quando aumentámos e conseguimos majorar o apoio da prestação social para as pessoas com deficiência em 79 euros, estamos também a ajudar diretamente pessoas que estão numa situação de maior vulnerabilidade, e o mesmo em relação àquilo que é o pacote fiscal. Não deixa de ser curioso que tantas vezes ouvimos os partidos a quererem propagandear aquilo que é a sua visão do ponto de vista da baixa da carga fiscal, mas tem sido o PAN ao longo dos anos que tem conseguido a baixa do IVA para as bicicletas, da alimentação vegetal, que conseguiu, em plena pandemia, que depois viesse a ser aprovado o IVA Zero para o cabaz dos bens essenciais, que conseguiu também o IVA Zero para a alimentação animal, no que diz respeito à aquisição por parte das associações, e também que quando as pessoas este ano forem fazer o seu IRS vão ter aqui uma maior possibilidade de deduzir despesas ao nível da habitação, são mais 100 euros que vão poder deduzir com os empréstimos à habitação, precisamente para ajudarmos as famílias naquilo que efetivamente faz a diferença do seu dia-a-dia, que são as despesas da habitação, da alimentação, ou até mesmo a questão da própria imobilidade, como é o caso que referi, dos próprios passes para as bicicletas, ou até mesmo que as empresas passaram a compartilhar, ou até mesmo naquilo que possa ser a aquisição das bicicletas em si.
Acredita, então, que o PAN não vai desaparecer da Assembleia da República?
Não só não acredito que o PAN não vai desaparecer da Assembleia da República, como queremos um grupo parlamentar. Nós precisamos de estar alinhados dentro do Parlamento com as causas dos portugueses. Nós temos assistido no último ano a uma degradação daquilo que é o ambiente parlamentar. Tivemos não só um primeiro-ministro que foi irresponsável porque não soube estar à altura de retirar a moção de confiança, nem teve sequer a capacidade de arrumar a sua vida privada antes de assumir funções e que arrastou o país para esta crise política. Tivemos também uma força política, como é o caso do Chega, que oportunisticamente tem aproveitado aquilo que é a insatisfação das pessoas e o seu desânimo em relação à vida política e descontentamento para propagandear algo que depois também não é capaz de concretizar no Parlamento e o PAN tem sido um fator de estabilidade ao longo destes anos. Tem sido pela nossa mão não só que temos conseguido estas importantes conquistas, mas queremos mais. Precisamos ter mais medidas do ponto de vista da proteção animal porque sabemos que hoje o IVA dos 23% é um IVA que as famílias não conseguem fazer fácil, tendo em conta as despesas médico-veterinárias e eu vim, ainda há pouco, ali do Porto, onde tivemos a oportunidade de visitar até uma clínica que é solidária e onde um dos senhores com que me cruzei na rua me dizia: "Eu ainda no outro dia para salvar um animal tive que pagar 300 euros logo na primeira noite e só para o deixar, quanto mais os cuidados, que depois a fatura ascendeu a muito mais.” De facto há aqui um caminho a fazer e é um caminho que convoca para que haja capacidade de diálogo, coisa que o PAN tem tido, independentemente de estarmos a falar de um governo mais à direita ou mais à esquerda e capacidade acima de tudo de concretizar as propostas que apresentamos no Parlamento.
Voltando à questão da Madeira, este desaire eleitoral na Madeira prende-se mais como facto de ter dado apoio ao governo de Miguel Albuquerque, ou pelo facto de depois lhe ter retirado a confiança política?
O caso da Madeira é um caso muito particular em que não nos podemos esquecer não só da instabilidade que a região autónoma sofreu, fruto daquilo que foi não só também um espetáculo mediático feito em torno de questões de justiça, que também aqui não teve o seu tempo certo de ser resolvido, porque não nos podemos esquecer que a justiça quando intervém também não deve condicionar os próprios ciclos políticos, como também não nos podemos também ignorar que as pessoas estão fartas de atos eleitorais e, portanto, não acredito que tenha a ver com esse fator. O PAN efetivamente conseguiu fazer a diferença na vida dos madeirenses e porto-santenses, mas temos um desequilíbrio hoje na região autónoma de Madeira em que temos um parlamento composto, na sua larga maioria, à direita e em que não só os partidos de centro, mas também a da esquerda praticamente ficaram de fora do parlamento regional. É evidente que esse não foi o resultado que nós gostávamos de ter, mas há um claro desequilíbrio no parlamento regional e é importante que isso não aconteça no parlamento nacional, que haja de facto uma pluralidade do ponto de vista democrático, porque a democracia e o sistema parlamentar só tem a ganhar com as diferentes participações e composições do ponto de vista das diferentes visões dos partidos. Como deputada única, como devem imaginar, é sempre muito complicado quer todo o trabalho das comissões, quer também tudo aquilo que implica a negociação para fazer aprovar as propostas e isso de facto é muito gratificante e dá-nos o ânimo e a certeza de que o PAN tem estado no caminho certo e por isso mesmo apelamos às pessoas que estejam também connosco que nós temos estado ao lado das suas causas e dos seus valores.
Portanto não foi o PAN que foi penalizado, a seu ver?
Acabámos por consequentemente ser penalizados, mas acima de tudo perderam as causas e os valores que representamos ao sairmos do parlamento, neste caso regional da Madeira, mas vamos continuar a trabalhar com o mesmo ânimo, vamos ter autárquicas em breve, vamos também quer na Madeira quer em todo o país apresentar as nossas candidaturas, porque efetivamente há um efeito PAN ao longo destes anos em que temos estado na vida política e desde que em 2011 fomos fundados, que tem feito muita diferença. Ainda, hoje, quando o edital de Extremoz vem pôr em causa o abate de animais abandonados, eu recordo que foi pela mão do PAN que se introduziu uma lei que proíbe os abates nas autarquias locais e que, por exemplo ,casos como este são inaceitáveis e por isso mesmo vamos questionar a autarquia e exigir respostas para que a lei seja cumprida e com uma lei salvamos mais de 200 mil vidas ao ano e portanto há um efeito, há um antes e um depois da entrada do PAN na vida parlamentar, este ano tivemos também o fim dos animais selvagens nos circos e tudo isto tem feito muita diferença e se como a deputada conseguimos fazer tanto, com o grupo parlamentar eu tenho a certeza que vamos fazer muito mais.
Que mudanças são necessárias para o PAN ter maior eficácia na passagem dessa mensagem?
É evidente que nós temos que ter a consciência da perceção daquilo que os eleitores têm em relação à vida política, o descrédito também que possam ter em relação à vida política e da parte do PAN, temos procurado, quer nesta fase de pré-campanha, dar a conhecer às pessoas o trabalho que temos feito, a importância e o impacto que a nossa ação tem tido no Parlamento, seja ao nível digital, seja ao nível da presença nas ruas, temos estado a escutar também as pessoas e a pedir contributos não só para o programa, mas acima de tudo aquilo que as pessoas gostariam de fazer caso estivessem na Assembleia da República e convido todos a aderirem ao grupo de WhatsApp que entretanto criámos precisamente e que está disponível nas minhas redes precisamente para que deem o seu feedback porque nós queremos representar efetivamente a voz dos cidadãos na Assembleia da República. Eu venho do ativismo, sou uma cidadã comum, como qualquer outro cidadão e, por isso mesmo, acredito que é essa a forma que devemos estar na vida política, porque nós não podemos ter uma urgência climática que está neste momento em que estamos a correr contra o tempo e continuamos a ver governantes que não souberam mudar e adaptar-se, não podemos continuar a ter governantes que querem voltar a abater animais como é o caso da AD, em que sabemos que timidamente têm procurado colocar esse tema na agenda e que para nós é inaceitável um retrocesso dessa maneira, até mesmo no que diz respeito aos direitos das mulheres em que continuamos a ver um conservadorismo e um recuo naquilo que diz respeito ao respeito até, basta olharmos para algumas listas que têm duas mulheres como cabeça de lista em todo o nível nacional e portanto há de facto aqui um recuo na representatividade das mulheres até do ponto de vista político e por isso mesmo nós estamos a dar a conhecer aquilo que é o nosso roteiro, a nossa agenda, porque é importante as pessoas saberem que estamos aqui completamente alinhadas naquilo que são os valores e as preocupações dos portugueses.
O PAN começou a ser visto primeiro como um partido da causa animalista, depois alargou as causas, é caso para dizer que o PAN perdeu o foco ou é 'preso por ter cão e preso por não ter'?
Acho que é mais o segundo caso, porque quando começámos não só havia muito essa conotação, até algumas vezes de uma forma depreciativa em relação a reduzirem-nos à causa animalista e, de facto, para além de sermos orgulhosamente um partido animalista, somos a única força política que tem de facto levado a luta pela abolição das touradas ao Parlamento, do fim do seu financiamento, que temos levado preocupações também, ainda agora tivemos este escândalo da Lusíaves, em que, de facto, vimos a forma como os animais eram tratados e mantidos no local da exploração e até era uma empresa que tinha selo de boas práticas de bem-estar animal, mas que não estava a ser devidamente fiscalizada e percebemos a importância da existência de um partido animalista na Assembleia da República e que trabalha em prol dos direitos dos animais. Mas independentemente de sermos um partido também animalista, o PAN sempre foi um partido pelas pessoas, pelos animais e pela natureza e agora que temos não só mais experiência, mais maturidade e que temos mostrado trabalho em todas as áreas da nossa sociedade, não nos parece muito justo que nos acusem de não voltarmos a ser um partido de nicho e que não falemos apenas dos cães e dos gatos, quando sabemos acima de tudo que seria, pelo menos se falo pessoalmente enquanto líder do PAN, não faria sentido termos empatia para com o sofrimento animal e para com aquilo que é a nossa necessidade de darmos respostas sociais para garantir que os animais tenham uma existência condigna e ignorarmos aquilo que neste momento são as necessidades e as dificuldades que as pessoas passam. Porque nós não nos podemos esquecer que quando estamos a legislar, estamos a legislar para os nossos concidadãos e que neste momento temos pessoas que não conseguem ter a casa própria, continuamos a ter o flagelo da violência doméstica e não damos respostas eficientes a este tipo de crime e evidentemente continuamos a ter também uma carga fiscal que tem de necessariamente ser reajustada até ao contexto que estamos a viver e agora com as tarifas de Trump e com este braço de ferro entre os Estados Unidos e a Europa, sabemos que há desafios acrescidos que fazem com que as próprias empresas temam, que possa haver perda de postos de trabalho e nós temos que ter uma visão evidentemente completa daquilo que tem que ser o rumo da sociedade do ponto de vista da sua transformação e daí insistirmos até na economia verde e na importância de alinharmos a justiça social à justiça ambiental porque acreditamos que efetivamente será isso que poderá tornar Portugal mais competitivo.
Já referiu a necessidade e a vontade de reforçar a votação do PAN nestas eleições, o objetivo é recuperar um grupo parlamentar, ou seja, pelo menos dois deputados e se não conseguir esse objetivo que eleições irá retirar?
Nós trabalhamos com a humildade de perceber que quem decide e que essa avaliação final é sempre feita pelos eleitores, nós queremos evidentemente dar a conhecer o nosso roteiro, a nossa ideologia é muito clara e portanto para que as pessoas saibam aquilo que é a importância do PAN no parlamento. Vamos ter também eleições autárquicas, portanto estamos mais uma vez numas eleições que foram antecipadas que não faziam parte daquilo que era o calendário normal dos ciclos políticos, já vimos os partidos maiores a anunciarem que a instabilidade que temos vivido e este empate técnico entre a AD e o PS também não nos permite retirar conclusões em relação àquilo que possa ser a estabilidade necessária para estarmos ou não daqui a um ano novamente em eleições e portanto nós não nos vamos precipitar, iremos avaliar o resultado eleitoral, mas acima de tudo eu estou confiante que vamos ter um grupo parlamentar, porque não podemos ignorar aquilo que tem sido o trabalho do PAN e o facto das pessoas reconhecerem-se nos nossos valores. Nós sabemos que os portugueses querem ter uma sociedade mais justa, mais resiliente e sustentável e por isso parto evidentemente com ânimo, confiança e até com alegria, porque nós no meio de toda esta instabilidade política também temos que resgatar a esperança das pessoas e até de nós próprios políticos, porque se estamos a trabalhar e a fazer o nosso melhor também temos que de uma vez por todas não ser vítimas da instabilidade política que foi provocada e que tem uma paternidade não só do Luís Montenegro, do próprio Presidente da República que levou o país para três ciclos eleitorais praticamente seguidos em pouco mais de três anos e de forças políticas que têm alimentado o ódio e a estigmatização e a separação da sociedade, têm procurado dividir ao invés de construir.
Mas se o PAN não conseguir o resultado desejado, ou seja, um grupo parlamentar, como referiu, das eleições que poderá retirar podemos incluir aqui o colocar à disposição do seu lugar de porta-voz do partido?
Eu volto a dizer, eu acredito que o PAN vai recuperar o grupo parlamentar e que vamos reforçar a nossa representação na Assembleia da República, é esse o nosso grande objetivo e nada me dará mais alegria na noite eleitoral do que recuperar um grupo parlamentar, nós temos estado profundamente alinhados com as causas dos portugueses, negar ao PAN um grupo parlamentar seria estar aqui a recuar nas causas que os portugueses querem ver representadas no Parlamento.
Mas admite colocar à disposição o seu lugar se o resultado não for desejado?
Não concebo sequer esse resultado a este tempo, acredito que vamos recuperar aquilo que é a nossa representação parlamentar de um grupo parlamentar, que vamos reforçar a nossa representação e que mesmo que fiquemos na mesma circunstância de deputada única estamos a falar de um resultado que já existia, mas não é esse o nosso objetivo, não queremos de facto, aliás como devem imaginar, para mim são muitos os obstáculos que uma deputada única enfrenta na Assembleia da República e, acima de tudo, a força que precisamos para dar mais voz às causas que representamos, convoca-nos, porque efetivamente aqui no distrito do Porto, de facto possamos também ter representação, ficámos a pouco mais de 800 votos em 2024 de conseguir um deputado aqui pelo distrito do Porto, eu espero que o Hugo Alexandre Trindade se possa juntar a mim no Parlamento após o dia 18 de maio.
É porta-voz do PAN desde 2021, ou seja, há quatro anos, estabelece para si o próprio limite para estar à frente do partido?
Eu acho que o meu mandato foi um mandato muito atípico, porque quando me candidatei a ser porta-voz do PAN estava longe de imaginar que poucos meses depois o mundo enfrentaria uma pandemia, que teríamos também ciclos políticos tão curtos como nós que tivemos, e portanto já couberam muitas vidas nestes quatro anos de líder política do PAN. É evidente que o partido também precisa de estabilidade, nós precisamos de ter um projeto de partido que implique que haja não só um passado, um presente, mas acima de tudo um futuro. Nós temos objetivos políticos que também traçam, como foi a criação da juventude do PAN, aumentarmos aquela que é a nossa representatividade nos vários municípios e agora com as autárquicas vamos poder trabalhar nisso mesmo, porque se há alguém que acorda todos os dias e se deita à noite a pensar naquilo que possam ser estratégias também para que o partido cresça e para que possamos ter mais representação, sou eu, e é para mim muito gratificante poder contribuir para isso, ainda que modestamente, todos os dias, mas espero, como é evidente, passar a fazê-lo acompanhado e não sozinha a partir do dia 18 de maio.
Quatro anos foi o tempo que tanto Paulo Borges como André Silva, os dois anteriores líderes, estiveram à frente do PAN, não coloca, portanto, nenhum limite temporal para já, de curta duração?
Não faz sentido olharmos, podem acontecer sempre circunstâncias extraordinárias e acho que todos nós, enquanto líderes, devemos saber qual é o momento em que, passe a expressão, temos de sair, mas é evidente que o meu compromisso para com o partido é um compromisso que levará a que esteja sempre envolvida com o partido, independentemente da função que decida abraçar. Eu não me imagino a fazer aquilo que outros líderes fizeram, de abandonar o partido ou de virar as costas às causas do partido. Temos que saber lidar em democracia interna, inclusivamente, há sempre diferentes visões, há sempre diferentes fações e, portanto, no dia em que sentir que está na altura de abraçar outro desafio, assim o farei, mas até aqui sinto que, é evidente que um dos meus grandes objetivos é recuperar um grupo parlamentar, porque sinto que é muito ingrato aquilo que aconteceu ao PAN e a penalização que acabou por ter quando fomos para eleições antecipadas, quando fomos até a única força política, de forma responsável, que tem apelado não só para dar instabilidade à vida dos portugueses, como tem trabalhado para isso e, como tal, é evidente que sinto que é um ciclo que ainda não terminou e que irei, evidentemente, continuar aqui a trabalhar todos os dias para que o partido cresça e que possa também ter, evidentemente, os seus alicerces para o futuro.
Já se referiu a uma “minoria ruidosa” para classificar as vozes críticas dentro do PAN, se não conseguisse ser eleita sequer, esse ruído interno poderá ditar o seu afastamento?
O partido está unido em torno desta candidatura, estamos todos a trabalhar em conjunto para que o PAN tenha força, temos neste momento estabilidade interna, faz parte da democracia existirem diferentes vozes, mas não vale tudo em política. Há algumas coisas que têm sido feitas e que foram ditas no passado, que foram muito feias e que não são aceitáveis e eu, enquanto líder, também não posso tolerar nem esse tipo de ataques, nem a mim, nem às pessoas que me acompanham na direção. Mas neste momento o PAN está não só unido, como estamos determinados, porque temos a consciência da diferença que este projeto político faz na vida das pessoas, mas também na defesa do combate e da emergência climática que temos pela frente, a importância também da proteção animal, porque se não for o PAN, mais nenhum partido quer saber, fora dos momentos eleitorais, destas problemáticas.
Como é que tencionam a contrariar o apelo ao voto útil?
Em primeiro lugar, fazer uma avaliação daquilo que efetivamente os deputados e as deputadas trabalham na Assembleia da República. Sabemos que temos vivido tempos em que o soundbite tem, se calhar, prevalecido sobre outras coisas, ou até mesmo tem havido muito ruído dentro do Parlamento e tem havido, de facto, uma degradação daquilo que é o ambiente parlamentar, mas eu convido as pessoas, de facto, a conhecerem o trabalho que cada deputado faz, porque quantidade não é qualidade e, de facto, o PAN, como a deputada única, tem sido não só o partido com mais aprovações, tivemos 63 diplomas aprovados no Parlamento, só o PS nos superou, mas por causa das freguesias nem sequer foi, matematicamente, por outra razão. E, por isso mesmo, com muita relevância na vida das pessoas, do ponto de vista até financeiro e daquilo que ideologicamente é a nossa visão de país, assente na promoção de uma economia verde, numa transição para uma sociedade em que se aposte no bem-estar, na felicidade, mas também na qualidade de vida e isso passa inevitavelmente por medidas que mais podemos levar até à Assembleia e, por isso mesmo, é fundamental agora darmos a conhecer não só a nossa agenda e o nosso roteiro, mas também que no dia 18 de maio, se hoje nos deem mais força, vamos estar no território nacional, vamos visitar os vários distritos, Lisboa, Porto, Setúbal evidentemente, mas também os demais, porque sabemos que as problemáticas que temos vindo aqui a falar ao longo desta conversa são transversais a todo Portugal. Mesmo no âmbito da saúde, o SNS tem sido também um dos grandes problemas e um dos grandes desafios deste mandato tão curto que tivemos pelo caminho. Tivemos um governo que tinha prometido acabar com as listas de espera e também com a ausência de médico de família, mas acabámos não só com o aumento e com mais pessoas sem médico de família, mais 34 mil pessoas sem médico de família e também com mais esperas e inclusivamente do ponto de vista dos apoios às pessoas com doença oncológica continuam a não ter, por exemplo, a baixa remunerada a 100% num caso tão grave e tão complexo como é o caso da doença oncológica.
O PAN foi novamente um dos partidos de oposição que mais propostas viu aprovadas no debate orçamental, mas que balanço concreto faz da aplicação dessas medidas?
Foi pela mão do PAN que vimos a isenção do IMI aumentar de três para cinco anos e com isso estamos a beneficiar sobretudo os mais jovens na aquisição de casa própria, porque é fundamental nós termos a consciência de que as pessoas têm o direito, o sonho de ter a sua casa própria e de o ver concretizado, o mesmo em relação ao IRS Jovem e até mesmo ao contributo que demos naquilo que tem sido uma procura para termos uma execução mais eficaz das medidas, quer do orçamento, quer do processo legislativo. E temos feito essa monitorização no caso dos avisos de proteção animal não só já saíram os avisos de 2024, como agora para 2025, foi precisamente pela mão do PAN que garantimos que quando o Governo cria zero euros para a causa animalista conseguimos a maior verba de sempre de 14,5 milhões de euros para a proteção e portanto estado vigilantes naquela que é a execução das nossas medidas, porque sabemos que as mesmas têm um impacto direto na vida das pessoas.
Mas há alguma em concreto que tenha ficado fora e não tenha sido cumprida?
O Orçamento do Estado sendo aplicado ao longo do ano, como é evidente, tem ainda um prazo de execução que não terminou. E apesar de estarmos aqui numa legislatura meio interrompida, não nos podemos esquecer que ainda agora foi publicado o diploma de uma das medidas que o PAN conseguiu no Orçamento que visa, por exemplo, ao nível da saúde mental para os mais jovens, garantir o apoio no reforço da rede de psicólogos, não só apenas no ensino básico mas também no secundário, que passamos a ter um rácio de um psicólogo para quinhentos alunos. Isto foi uma medida muito importante quando sabemos que a ansiedade, até por força das redes sociais, também por força da crise climática, chamada ecoansiedade que atinge os mais jovens, convoca-nos para termos, de facto, medidas de apoio à sua saúde mental. E, portanto, esta medida foi publicada esta quinta-feira, que passou, portanto, em Diário da República. Estamos a acompanhar a execução e a monitorizar as nossas medidas porque elas fazem, de facto, a diferença na vida das pessoas.
Já fez referência várias vezes ao desafio autárquico. O PAN tem apostas e quadros para concorrer nesta luta que se vai seguir às legislativas?
Sem dúvida.
E quais são os objetivos?
Nós estamos já a trabalhar, aliás, antes de termos sido todos chamados e convocados a estado eleitoral antecipado a nível nacional, o PAN já estava a trabalhar em conjunto com as suas distritais e concelhias para garantir a candidatura aos vários municípios em todo o país. Nós queremos garantir que nos locais onde já temos representação não só vamos concorrer, mas alargar essa mesma base de representação, quer nas assembleias de freguesia, quer nas assembleias municipais e, pela primeira vez, conseguimos ter uma vereação. Estamos a trabalhar precisamente para isso. Temos quadros e pessoas que têm se dedicado, enquanto autárquicas, e têm feito também elas a diferença do ponto de vista da implementação, quer dos planos, por exemplo, de bem-estar animal nas assembleias de freguesia, quer na mobilidade e nos transportes, ou até mesmo ainda agora em Lisboa, com a preservação dos jacarandás, tivemos um papel absolutamente fundamental para tentar travar aquilo que era uma medida absolutamente em contraciclo com a preservação do arvoredo nas cidades e um desaire de Carlos Moedas e, por isso, mesmo temos tido não só vários quadros de eleitos que têm estado a exercer a sua função, mas também do ponto de vista das suas valências. Nós temos pessoas que vêm desde a academia das alterações climáticas, temos também pessoas ligadas àquilo que no dia-a-dia também são outro tipo de profissões, desde limpadores de rua que são autárquicas nas suas assembleias de freguesia, até mesmo cuidadores de colónias e portanto temos uma diversidade de valências e de experiências de vida que faz com que efetivamente sejamos um partido de cidadãos que trabalham para outros cidadãos do ponto de vista daquilo que é o seu compromisso e as suas valências.
Como é que se evitam estes miniciclos que o Marcelo Rebelo de Sousa previu e que têm sido uma constante nos últimos anos?
Nós de facto temos aqui um desfecho do ponto de vista eleitoral e de eleições antecipadas que talvez Marcelo Rebelo de Sousa não tenha previsto ou antecipado quando a primeira dissolução, mas a verdade é que o Presidente da República teve aqui um efeito muito negativo do ponto de vista daquilo que foi a instabilidade política e que vai marcar aquilo que foi o seu mandato. Se é certo e justiça seja feita que Marcelo Rebelo de Sousa teve um mandato muito mais próximo das pessoas do ponto de vista daquilo que é a empatia pessoal em relação até se calhar a outros presidentes, sendo essa uma marca até pessoal identitária de Marcelo Rebelo de Sousa que não posso deixar de referir e até de saudar pessoalmente, mas no que diz respeito à instabilidade política, efetivamente o país saiu penalizado com isso e esperamos que estas eleições que agora se avizinham, tragam maior estabilidade da parte do PAN, é esse o nosso compromisso, é contribuir para essa estabilidade uma vez mais para que efetivamente possamos não só tornar o país mais resiliente, quando agora nós sabemos que perante aquilo que é a ameaça das tarifas dos Estados Unidos temos que pensar e preparar, ajudar as empresas a manter os seus postos de trabalho, garantir que temos efetivamente um compromisso climático que não fica refém deste contexto até mesmo de guerra e de um investimento que frequentemente é solicitado para a defesa e sendo essa uma área importante em que vamos ter que fazer reflexões, não podemos evidentemente deixar para trás aquilo que é um investimento social e até humanitário noutro tipo de causas e menos ainda na questão climática. Alliás o próprio Zelensky vem denunciando os crimes de ecocídio que têm acontecido na Ucrânia e por isso mesmo, também nós enquanto estados membros de uma União Europeia que tem não só compromissos climáticos muito sérios firmados, não podemos. em Portugal, ficar para trás e devemos estar precisamente pelo contrário na cimeira daquilo que possa ser esta transição energética para um modelo mais sustentável e mais resiliente.
O PAN deve estar disponível para fazer acordos quer à direita, quer à esquerda?
Uma coisa é certa, o PAN, sendo uma força política responsável e que tem feito a diferença na vida das pessoas, certamente que seja qual for aquilo que possa ser a solução governativa que saia depois do dia 18 de maio, será bastante distinta do ponto de vista da agenda política daquela que seria se não existisse um PAN no Parlamento e se não existisse uma agenda PAN a ser de alguma forma promovida junto desse mesmo governo e como tal, precisamente pela diferença que temos feito nos orçamentos de Estado, no processo legislativo, temos a consciência que qualquer solução governativa que conte com uma agenda PAN será uma solução bastante distinta.
Quer à direita, quer à esquerda está então disponível para contribuir para essa solução?
Neste momento, a única coisa que temos a certeza é que a nossa agenda é uma agenda distinta das demais forças políticas, não encontram a representação deste tipo de valores em qualquer outro partido e neste momento temos de facto aqui uma instabilidade causada por estes mesmos partidos. Um voto no PS ou no PSD não faz diferença nenhuma, um voto no PAN não só nos dará um grupo parlamentar com a capacidade de podermos levar para a mesa do diálogo e da decisão aquilo que tem sido as nossas prioridades e as nossas bandeiras.
Já colocou o PAN no centro-esquerda, está agora a posicionar-se mais equidistante em relação às duas forças políticas?
O PAN coloca as causas no centro e portanto somos uma força política que efetivamente não ficamos reféns daquilo que possa ser muitas vezes o preconceito ideológico a certas medidas, não somos um partido radical, somos sim um partido que preza os valores e aquilo que são as preocupações das pessoas e é para as pessoas que trabalhamos a par evidentemente da proteção ambiental e da proteção animal.
